112 anos são passados…

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Noticias das Caldas
Rafael Bordalo Pinheiro em 1876 | D.R.
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Rafael Bordalo Pinheiro faleceu no dia 23 de Janeiro de 1905, já lá vão 112 anos. Como o tempo se escoa rapidamente …
Parece que ainda ontem pegava nos lápis e canetas e, enquanto bebericava a sua aguardentesinha, ia desenhando as cenas que na semana seguinte seriam publicados nas páginas d’ «A Paródia».

É sabido por todos nós que Rafael Bordalo Pinheiro foi um homem amante da vida, que desfrutou de todas as benesses que a sua personalidade expansiva e apaixonada lhe proporcionou. Foi rico em tudo menos no dinheiro, sempre escasso…
Homem multifacetado nas suas aptidões – pintor, decorador, caricaturista, jornalista, publicista oleiro e ceramista – Rafael tinha outras aptidões pouco conhecidas. Eu conto-vos: foi comerciante do ramo de produtos perecíveis!
Vamos ter de recuar no tempo e ir até ao ano de 1875.
A vida por Lisboa apresentava-se difícil. Rafael, casado e com um filho, não encontrava trabalho fixo, talvez devido ao seu espírito insatisfeito e inquieto, e os desenhos que ia fazendo não sustentavam a sua casa.
Correspondendo a um convite, embarca para o Brasil com a promessa de um emprego no jornal “O Mosquito”, para ocupar o lugar deixado vago pelo caricaturista Angelo Agostini, que se lançara na criação de um novo projecto gráfico. O vencimento prometido era de 50 libras, um montante nada desprezável.
Depois dos enjoos da viagem a bordo do «Potosi», Rafael desembarcou no Rio de Janeiro. Fica imediatamente fascinado: que cores, que aves magníficas, que árvores frondosas, mas, principalmente, que mulheres! As surpreendentes mulatas cor de chocolate, que Bordalo avalia com olhos extasiados por tanta beleza e exotismo.
Foi viver para a «República das Laranjeiras» onde levava uma vida pouco de acordo com a sua condição de homem bem casado. Tinha por companhia cerca de trinta cavalheiros, jornalistas uns, escritores outros e mais uns tantos artistas. Naquela vida de boémia, Rafael destacava-se por se apresentar sempre primorosamente bem vestido com as suas camisas brancas e bem engomadas. Um verdadeiro janota! Mas esta situação durou pouco… Logo que lhe foi possível, Elvira, a sua amada esposa, rumou ao Rio de Janeiro, onde assumiu o controlo da situação.
Porém, as exigências da vida social não eram compatíveis com os seus ganhos que eram parcos… Assim, Rafael procurou meio de associar aos seus ganhos outra fonte de rendimento. E que fez ele? Mais retratos? Novas caricaturas? Ensinou a pintar e a desenhar? Criou anúncios? Nada disso! Tornou-se vendedor de carne de porco e de todos os seus derivados importados directamente do Alentejo para o Rio de Janeiro!
Em nome da sociedade «Valle & Silva», como único representante desta prestigiada firma para todo o Brasil, oferecia o produto ensacado: toucinho, o belo lombo, paio, chouriço, linguiça, morcela. Em suma, o mais completo sortido para satisfazer os mais exigentes clientes.
Não sabemos muito bem como funcionou este negócio magicado por Rafael. Mas nada nos impede de imaginar que, muito provavelmente, grande parte dos produtos recebidos foram consumidos com os amigos em patuscadas pela noite dentro, em alegre convívio, onde a crítica imperava e os ditos inspiravam novas páginas de caricatura.
Mais uma faceta, pouco conhecida, de Bordalo Pinheiro. Quem diria?! Comerciante de carnes e derivados! O artista feito charcuteiro!
A vida reserva-nos cada surpresa…

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O grupo da República das Laranjeiras, ocupando Rafael Bordalo Pinheiro o lugar do meio na segunda fila, de pé | D.R.
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Isabel Castanheira

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