Aplausos e gargalhadas num espectáculo de David Fonseca onde até houve “insultos”

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No sábado, dia 13, a curiosidade invadia o auditório do CCC. Pela primeira vez David Fonseca apresentava o seu “Futuro Eu” às Caldas, um álbum cem por cento português que foi escrito aqui ao lado, em Peniche, na casa dos seus avós. A distância às Caldas encurta-se com o videoclipe do single homónimo, gravado nas salas do Museu José Malhoa e apresentado em palco.
As novas canções, os antigos êxitos em inglês e o sentido de humor de David Fonseca fizeram deste concerto um espectáculo onde às palmas se juntaram as gargalhadas. Muitas gargalhadas.

O cenário está montado e mesmo antes do concerto começar a figura de uma mão a segurar uma maçã mordida invade o palco. A imagem é semelhante à capa de “Futuro Eu”, o mais recente álbum de David Fonseca. A analogia é simples: tal como Adão quis trincar a maçã, símbolo da tentação, também David Fonseca quis experimentar o novo e estrear-se a cantar em português, depois de 13 anos a compor em inglês.
“Futuro Eu” é igualmente o nome da primeira faixa do álbum, a música que abre o concerto. “Esta é uma canção em que escrevo uma carta ao meu futuro eu, inspirada nas pessoas que encontro no Facebook e que publicam constantemente frases feitas sobre a vida. Não acredito em nada disso, por isso quis fazer uma música que ironizava a questão”, explica David Fonseca, que encontrou no Museu José Malhoa o cenário ideal para produzir o videoclipe deste single.
Embora nunca tivesse visitado o museu, as fotografias que encontrou na internet foram suficientes para convencê-lo. “Senti logo que era perfeito, pelo contraste que existia entre o passado patente naquelas salas e a mensagem de futuro da música”, acrescenta o leiriense.
Depois de “Deixa Ser”, “Chama-me Que Eu Vou” e “Eu Já Estive Aqui”, três temas do último álbum, foi tempo de recuar até 2003, ano em que David Fonseca escreveu a sua primeira canção a solo. “Someone That Cannot Love”, “uma música que toco em todos os palcos que piso… e que não quero desistir de tocar”.
“Superstars”, “The 80’s”, “Stop 4 a Minute”, “Kiss Me, Oh Kiss Me” e “U Know Who I Am” foram outros temas que fizeram o público viajar até aos anteriores CD’s de David Fonseca.
Por outro lado, “Sem Aviso” é uma canção que não chegou a ter lugar nas 11 faixas do sétimo álbum, mas que “pertence ao lado B e que eu gosto muito de tocar ao vivo”, introduz David Fonseca, que escreveu 40 músicas na casa dos seus avós, em Peniche. Esta foi uma delas.
Na altura, para dar forma às palavras, comprou uma máquina de escrever no OLX, uma Olivetti Tropical, e era o som das teclas que lhe fazia companhia quando se via sozinho na sala ou na cozinha. Além disso, adoptando este método, “podia rever tudo, até os erros”, conta David, que antes das músicas escreveu contos, cartas e poemas para pôr em dia o seu português escrito.
Estávamos em 2014, quando David Fonseca partilhava o tempo dos ensaios com os Silence 4 – que preparavam uma série de concertos de homenagem a Sofia Lisboa, que vencera o cancro – com o seu refúgio em Peniche. “Estávamos a tocar aquelas músicas todas outra vez e eu só queria fazer algo que quebrasse com o passado, talvez por isso tenha começado a escrever português, para a quebra ser ainda maior”, recorda David Fonseca. “Não Dês Só Para Tirar” foi a primeira canção que terminou.

Um concerto onde houve “insultos”

Voltando ao concerto, é a vez do tema “Funeral”. Segue-se “Hoje Eu Não Sou” e mais tarde “Agora É A Nossa Vez”. Entretanto, David Fonseca já desceu à plateia, pediu ao público para “soltar a franga”, e Carlos, um dos espectadores, subiu ao palco para dedicar uma música à namorada Inês. Mesmo na recta final, mais um momento preenchido de muitas gargalhadas.
“Vou presentear-vos com algo que nunca viram antes”, antecipa David Fonseca, que vai buscar o telemóvel e começa a ler alguns dos insultos que já recebeu nas redes sociais. “O João diz ‘David Fonseca fica um bocado mais nojo a cada álbum que passa. Os Silence 4 foram um pináculo irrecuperável’… Agora o meu favorito, que até imprimi, é do Ricardo: ‘Ouvi as novas músicas do David Fonseca em português e confesso, ainda soa a um gato com cio que descobriu que tem um quisto na pata’”.
Depois de muito rir, o público não mais se sentou. Cantou e dançou em pé os últimos três temas do concerto, num espectáculo integrado no Festival Montepio Às Vezes o Amor.