O atelier do ceramista Victor Mota, Linhas da Terra, inaugurou no passado dia 21 de Agosto uma exposição de cerâmica, que pode ser visitada até ao próximo domingo no Céu de Vidro (Parque). A mostra inclui peças assinadas pelo autor, mas também – e principalmente – o trabalho desenvolvido pelos aprendizes do atelier, que na sua maioria são estrangeiros. Esta é uma exposição que apresenta cerâmica para todos os gostos, dado a variedade artística das mais de 150 peças, e que, simultaneamente, funciona como testemunho de um conjunto de pessoas que saíram do seu país para viver em Portugal.
Lieve Bynens é belga e há três anos que vive em Vestiaria, Alcobaça. É uma das 11 pessoas que descobriu na cerâmica uma nova paixão, neste caso no atelier Linhas da Terra, sob a orientação de Victor Mota. “Quando era pequena não gostava de pintar ou desenhar e achava que não tinha vocação para as artes, mas Portugal fez-me descobrir uma faceta que desconhecia em mim”, disse a aprendiz, que começou a frequentar o atelier em Setembro do ano passado, após o convite de amigos – também estrangeiros – que já tinham passado pela experiência. Na exposição, Lieve Bynens apresenta peças de jardim, a sua grande inspiração. Os caracóis, os banhistas e os vasos em forma da silhueta humana são algumas das criações da aprendiz belga.
Assim como ela, mais nove aprendizes expõem as obras criadas todas as quartas e quintas-feiras no atelier de Victor Mota, que cumpre um ano de existência no próximo dia 5 de Setembro. Entre holandeses, belgas, um inglês e um americano, apenas se encontra um português, Rui Silvestre, que ainda assim viveu 40 anos em França. Agora, residem em Alcobaça, nas Caldas, ou na Serra do Bouro.
“Algumas destas pessoas fazem cerca de 40 quilómetros para se reunirem comigo, são pessoas que estão completamente integradas aqui e até já fazem os descontos em Portugal. Muitas já nem casa têm nos países de origem e, embora a maioria seja reformada, há quem tenha negócios em Portugal”, revelou o ceramista penichense, residente nas Caldas da Rainha.
Durante três horas, uma vez por semana, os formandos aprendem novas técnicas cerâmicas, mas Victor Mota salienta que o ambiente não se assemelha ao de uma aula tradicional. “Se fossem aulas eu tinha um programa comum a todos e não é assim que funciona… cada um leva o seu projecto, que eu tecnicamente explico como é possível concretizar”, contou, acrescentando que a execução também é deixada a cargo dos principiantes. Execução essa que, segundo Victor Mota, é “extremamente eficiente”, deixando claro que os aprendizes estrangeiros são muito produtivos.
Um dos principais desafios deste ceramista com 27 anos de experiência é ensinar pessoas que não falam português. No entanto, a língua nunca se revelou um entrave, não fosse a arte do barro feita com as mãos.
A exposição no Céu de Vidro está patente até dia 30 de Agosto, entre as 10h00 e 12h30 e as 14h30 e 19h00 e conta igualmente com algumas das peças mais características de Victor Mota, como os “Santo Antónios”, os “Mochos” e ainda os Pratos com Rãs e Andorinhas. A próxima exposição do autor tem data marcada para Setembro, em Arruda dos Vinhos – uma colaboração com o escultor e ceramista caldense Carlos Oliveira, onde Victor Mota apresentará um relógio em barro de grandes dimensões, com um diâmetro de dois metros.