Iniciativa que visa promover os materiais tradicionais convidou cinco autores. Dois vivem e trabalham nas Caldas
O artista plástico Vítor Reis e a designer Eneida Tavares são dois autores que vivem e têm atelier nas Caldas. O primeiro é docente na ESAD.CR e a segunda é uma das autoras do coletivo Bora. Dois em cinco dos artistas convidados para fazer parte do projeto BROOT estão ligados às Caldas. Esta iniciativa, que visa a valorização materiais tradicionais portugueses e que tem como material central a pedra, é promovida pela Associação Portuguesa da Indústria dos recursos Minerais (Assimagra), teve curadoria do Estúdio Olivah e foi financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência.
“Ao todo os cinco autores tiveram um ano para desenvolver cinco peças”, contou Vítor Reis, acrescentando também que cada convidado teve que trabalhar um tipo de pedra presente no território português, combinada com um outro material originário da mesma região.
A pedra calcária uniu-se ao barro e esta foi a premissa entregue a Vítor Reis, enquanto de Eneida Tavares teve que criar obras feitas em basalto e vime.
Os restantes convidados trabalharam o mármore com a cortiça, o granito com o burel e ainda o xisto com a acácia.
As peças criadas pelos cinco autores têm sido apresentadas em certames internacionais. O primeiro foi o Index, na Arábia Saudita em dezembro passado, seguindo-se a Maison et Objet que decorreu, em Paris, em janeiro e, entre outras, as peças da Broot vão poder ser apreciadas na Design Week, em Milão, no próximo mês de abril. Ainda está prevista presença num evento em Nova Iorque e depois as peças poderão ser vistas no Pavilhão de Portugal em Osaka, no Japão, no mês de julho.
“Não foi fácil trabalhar os dois materiais pois são opostos e têm comportamentos muito diferenciados”, disse o autor que escolheu unir o calcário a peças de olaria por esta ser também “uma marca identitária da Estremadura”.
As peças oláricas foram desenvolvidas por Carlos Neto, que vive e trabalha em Porto de Mós.
Vítor Reis – que se formou em Artes Plásticas na ESAD.CR em 2002 – criou diferentes tipos de peças desde um lavatório que possui mais de um metro de altura até peças menores como uma travessa de 30 por 35 centímetros.
“Foi mais um desafio já que as peças, para serem apresentadas em feiras de design, tinham que ser utilitárias”, contou o autor acrescentando que da marca BROOT fazem parte 25 peças.
“Cada convidado trabalhou com artesãos e também com alguma indústria”, referiu o artista que desde que se formou tem exposto regularmente em várias localidades do país e participado em vários encontros internacionais de escultura.
Desde 2014 que se tem dedicado à cerâmica, que dá continuidade à sua prática de escultura. O seu trabalho caracteriza-se pelo uso da ironia e também pela criação de objetos de caráter subversivo. A sua versatilidade tem-lhe permitido nos últimos anos participar em vários projetos relacionados com a área do design.
Atualmente Vítor Reis é professor assistente convidado, no curso de Design de Produto Cerâmica e Vidro, na ESAD.CR. Na sua opinião, a cerâmica vive um momento “bombástico”, pois está muito na moda. “Passou-se do 8 a 80”, contou o artista que sente que já há até alguma competição entre ateliers. Vítor Reis tem atualmente obras na exposição “Entre Paredes” que está a decorrer na Casa das Artes Bissaya Barreto, em Coimbra, e que está patente até dia 29 de março.
O artista está ainda a realizar séries limitadas em cerâmica, em colaboração com a Galeria Underdogs, que fica em Lisboa e que serão lançadas em breve. Há mais trabalhos deste autor para conhecer em www.ceramicavitorreis.com ■