O edifício junto à estátua da Rainha foi adquirido pela Câmara e o edil caldense quer que seja um espaço vivo dedicado ao humor e à caricatura. Aquisição ficou orçada em 240 mil euros
O edifício conhecido como o Charuto, situado atrás da estátua da Rainha (onde há vários anos existiu uma mercearia), foi recentemente adquirido pela Câmara, sendo destinado a um espaço dedicado à caricatura. O anúncio foi feito por Tinta Ferreira no final da Gala do World Press Cartoon (WPC) que teve lugar no serão do passado sábado, dia 17 de julho, no CCC.
“Gostaríamos que fosse um espaço vivo ligado ao cartoon e ao humor, com área museológica e atividades permanentes”, disse o chefe do executivo municipal, acrescentando que a compra do edifício se ficou pelos 240 mil euros. Ainda será necessário elaborar o projeto, mas o presidente da Câmara entende que este será o espaço ideal para “guardar o espólio do WPC que há cinco anos se realiza nas Caldas”.
Para Tinta Ferreira, com este novo espaço Caldas “poderá ser uma das principais localidades do mundo nesta área de atividade”.
O apoio da autarquia, para além do suporte logístico, cifra-se, como habitualmente, nos 180 mil euros. Para António Antunes, o anúncio do novo espaço “é importante para consolidar a caricatura nas Caldas”. Na opinião do cartoonista do Expresso esta é uma “boa notícia” e consolida a presença daquela arte na cidade.
A gala deste ano voltou a sofrer consequências provocadas pelo novo coronavírus, pois “prejudicou sobretudo nas viagens de alguns autores, que foram canceladas”, disse o organizador, que lamenta que a covid-19 só tenha permitido a abertura de metade da lotação da sala do CCC.
“Em condições normais, creio que teríamos casa cheia!”, disse o profissional, acrescentando que após cinco anos de WPC, “a cidade já interiorizou esta iniciativa como sua”.
O autor da estátua de Bordalo Pinheiro e Zé Povinho reconhece que o novo espaço, assim como a nova peça de arte pública são passos para “tornar a caricatura num eixo mais presente nas Caldas”.
Diversidade cultural
Uma impressão digital feita a partir de jornais, da autora italiana Gio – nome artístico de Mariagrazia Quaranta – mereceu o Grande Prémio da 16ª edição desta iniciativa internacional.
A proposta da autora transalpina, que marcou presença na Gala através da internet, foi também o 1º Prémio na categoria Desenho de Humor, publicado pelo jornal online espanhol Mundiario, em novembro de 2020.
A autora, que fez questão de chamar a atenção para o tema da diversidade cultural e para a importância dos jornais impressos, deixou ainda uma homenagem ao caricaturista Vasco de Castro, que faleceu recentemente.
O seu trabalho arrecadou o maior prémio monetário, de 10 mil euros, correspondente ao Grand Prix.
A cerimónia da entrega dos troféus, apresentada por Diana Duarte da RTP, decorreu em ambiente descontraído e com vários momentos de humor dos grupos Chapertons, Housch-Ma-Housch e Victor Minasov, The Baloon Man. A música esteve a cargo da Orquestra Ligeira Monte Olivett e dos seus cantores.
Pelo palco do CCC passaram várias personalidades do cartoon internacional e também da vida caldense. Os distinguidos receberam os prémios das mãos de Luís Patacho, Maria da Conceição Pereira, João Alpuim Botelho (diretor do Museu Bordalo Pinheiro), António José Teixeira (diretor de informação da RTP) , a caricaturista Cristina Sampaio entre outros.
De resto, esta autora também já foi anteriormente premiada neste Salão e não escondeu “a emoção, pela importância de ser destacada nesta iniciativa internacional”.
Foi esta autora que entregou o prémio a André Carrilho, um dos premiados na área da Caricatura, com um retrato do rei de Espanha, Juan Carlos II, e que se classificou em 2º lugar dessa categoria. O trabalho foi publicado no Diário de Notícias.
O 1º Prémio desta categoria foi atribuído ao mexicano Darío Castillejos, com a obra Greta Thunberg. Esta foi a segunda vez que este autor marcou presença na gala. No ano passado, obteve um 2º lugar e, agora, sagrou-se vencedor de uma das categorias deste concurso que “é o mais representativo a nível mundial na caricatura de imprensa”, disse o cartoonista, que colocou Greta Thunberg como Capuchinho Vermelho e que leva o planeta Terra no seu cesto.
“Por todo o lado ela enfrenta lobos maus relacionados com o dinheiro, o poder e com os interesses individuais”, acrescentou o mexicano.
Darío Castillejos foi um dos autores que participou na sessão de caricatura ao vivo e contou que essa “foi uma experiência bonita”, pois o humor “é sempre um excelente canal de comunicação e que tanta falta faz no mundo”. Este autor internacional sublinhou que “rir um pouco de nós próprios é, segundo os médicos, uma boa prática medicinal”, tendo apreciado o contacto direto com o público.
O 3º Prémio distinguiu a caricatura Rainha Sofia de Espanha, do espanhol Ivan Mata Tamayo, trabalho realizado para a publicação El Diario Vasco.
Na categoria Cartoon Editorial, o 1º Prémio foi atribuído ao ucraniano Konstantin Kazanchev, por um desenho publicado na plataforma de cartoons holandesa Cartoon Movement. Já o 2º Prémio foi para Trump Riot, do australiano David Rowe, publicado no jornal Australian Financial Review.
O 3º Prémio foi entregue ao argentino Alejandro Becares, por David e Golias, publicado também na plataforma Cartoon Movement.
Ao todo participaram na competição quase um milhar de obras, publicadas em 64 países. A seleção dos melhores que concorreram à edição deste ano está presente na exposição que está aberta ao público, no CCC, com entradas livres, até ao próximo dia 17 de outubro. ■
Caricaturistas trabalharam ao vivo na Rua das Montras
Os vencedores do WPC retrataram quem lhes pediu para fazer a sua caricatura. Foram muitos os caldenses e forasteiros que aproveitaram a ocasião
Os caricaturistas vencedores do 16ª edição do World Press Cartoon vieram para a rua desenhar caldenses e visitantes. Durante a manhã do passado sábado, personagens em andas, do Caldas Anima, também se juntaram a esta festa de rua
A Rua das Montras, já habitualmente animada, ganhou mais vida com os artistas que se instalaram em mesas e cadeiras, aguardando por quem quis ser retratado. E não foi preciso esperar muito tempo até que gente de todas as idades lhes tivesse pedido um “retrato”, tendo até sido preciso aguardar em fila pela vez.
“Foi uma experiência muito engraçada! Gostei muito. O autor que me desenhou é muito bom a captar as expressões! Foi mesmo um momento bem passado”, comentou o açoriano João Pimentel, 18 anos, que é de S. Miguel e que veio passar uns dias de férias às Caldas da Rainha.
Por seu lado, Madalena Ezequiel, 17 anos, também gostou desta oportunidade pois “cada a artista tem a sua expressão própria, algo que é muito interessante de poder analisar”.
A caldense considera que este tipo de iniciativas “é ótima e traz bastante vida à cidade”, sublinhando que a ligação da caricaturas às Caldas da Rainha se justifica dado que a cidade “tem a tradição da caricatura por causa de Rafael Bordalo Pinheiro”.
Já o caldense Nelson Loureiro é da opinião de que a iniciativa de realizar caricaturas ao ar livre “é boa”. O retratado gosta muito de caricatura e disse à Gazeta das Caldas que não perde a exposição anual do World Press Cartoon.
Aida Rodrigues vive nas Caldas há vários anos, também estava contente com o seu desenho. “Há muito tempo que não fazia uma caricatura”, disse a participante, que aprecia o facto de cada artista ter a sua expressão diferente de retrato.
“Gostei bastante! Estamos sempre na expetativa de ver um outro “eu”, rematou a munícipe, que veio participar na companhia de Beatriz Braz. A caldense está a estudar Design em Aveiro e “foi importante viver esta experiência com alguém que tem imenso trabalho nesta área específica do cartoon”.
Por seu turno, António Antunes considera que é importante este momento de partilha com caldenses e visitantes, mas referiu que é preciso proporcionar a quem desenha e a quem é desenhado as melhores condições possíveis.
Este ano, por exemplo, esteve bastante calor o que pedia a criação de zonas de sombra. Há sempre algo para melhorar. ■