Caldas Late Night levou arte contemporânea e festa a toda a cidade

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O regresso do Caldas Late Night trouxe às ruas das Caldas centenas de pessoas, em busca da arte contemporânea espalhada em casas, montras, espaços públicos e um pouco por toda a cidade

“Um minuto de Silêncio” era o nome da instalação de Frederica Barreto na antiga sede do PCP no Largo João de Deus, que podia ser apreciada na edição de 2022 do Caldas Late Night (CLN), evento que voltou a animar a cidade após a interrupção provocada pela pandemia. “É um grito antiguerra” em que a autora nos faz percorrer uma simulação de uma rua com flashes luminosos e sons de guerra, a interromper o silêncio e os momentos de calma, antes do próximo ataque.
A obra foi inspirada na obra “Guernica”, de Picasso, que retrata o momento em que os civis inocentes são bombardeados durante a guerra civil espanhola. Neste caso, passamos por uma rua de civis, estes sem identidade ou sem naturalidade aparente, sob um clima de ataque. “Representa as ruas de todos os 27 países que se encontram em conlito armado no mundo”, refere a autora.
A instalação prossegue com “Um Minuto Sem Silêncio”, uma sala em que, depois de percorrer essa rua em guerra, somos interpelados a gritar. “É uma contradição aos frequentes minutos de silêncio, é um grito anti-guerra, um protesto de barulho ensurdecedor”, explica Frederica Barreto, acrescentando que a sua instalação “é também uma homenagem aos inocentes que morreram, aos que vivem em medo e aos que se refugiam entre nós”.
A terminar, a jovem alertava ainda para a violência sexual em situações de guerra e deixava os contatos de associações oficiais para doação de bens para apoio a emergências de guerra e refugiados.
Mas este era apenas um dos cerca de 150 projetos apresentados nesta edição do Caldas Late Night. O evento trouxe centenas de pessoas às ruas das Caldas, de mapa na mão, em busca da arte produzida pelos estudantes da escola superior de artes e design. O mapa é mesmo uma das imagens de marca do CLN. O deste ano assinalava 71 locais a visitar, para apreciar música, performances, instalações multimédia, de design e de artes plásticas.
Mas além do mapa do evento, este ano há ainda a destacar, por exemplo, mais dois mapas: um, que estava na rotunda da Rainha, e que foi produzido pelos responsáveis do movimento Caldas Sempre Limpa, que sugeria a quem passava que deixasse as suas sugestões de melhorias para a cidade. Entre algumas parvoíces a vandalizar a instalação, é possível retirar algumas ideias interessantes, como a urgência de recuperação dos pavilhões do Parque, a criação de uma estação de bicicletas elétricas na Foz do Arelho e de mais espaços de diversão noturna nas Caldas, bem como o encerramento de certas ruas ao trânsito. Outro mapa que saltava à vista integrava a exposição “Infiltrações”, que resultou da residência artística dos alunos Práticas Artísticas Sociais da ESAD no Museu do Hospital e das Caldas. Tratava-se de um mapa de vontades, que partia do mapa da cidade para criar uma obra de arte.
Durante estes três dias as Caldas são uma cidade das artes, com música ao vivo pelas ruas, com arte nas montras e nos espaços públicos. Ora temos uma exposição num centro comercial, ora vemos uma performance numa igreja. Ora ouvimos um concerto na Praça dos Bares, ora vemos uma exposição no pátio de uma casa. No CCC houve cinema ao ar livre e durante o feriado realizou-se o Mercado das Artes no Céu de Vidro. Na tarde de sábado o tradicional Slide na Rua do Ilha foi garantia de muita animação.
É que, além da mostra de arte que é o principal motivo de existência do Caldas Late Night, a edição deste ano ficou marcada pela muita festa e convívio, sinal dos tempos que se vivem. Houve cinco palcos de música, no Palácio Real, no anfiteatro da Praça 5 de outubro, na zona do antigo parque de bicicletas do Parque D. Carlos I, na antiga Casa da Cultura e nas Salas Cinzentas do Céu de Vidro, com concertos e atuações de dj’s para os diferentes gostos.
Inês Pinto de Faria, da organização do festival, disse à Gazeta das Caldas que inicialmente, e devido à pandemia, ainda existia algum receio relativamente à abertura de casas, mas que no final do evento a maioria dos participantes mostrava vontade de abrir as suas casas já no próximo ano. A jovem estudante fez um balanço extremamente positivo desta edição. “Várias pessoas nos felicitaram por termos conseguido trazer de volta o Caldas Late Night”, contou, salientando a existência de muito público nos vários espaços. Não se via uma concentração de milhares de pessoas em nenhum ponto, mas dezenas ou centenas em todos os locais.
O Caldas Late Night foi criado em 1997 e, dada a falta de espaços expositivos, os estudantes abriam as portas das suas casas para mostrarem a sua arte sem limites nem constragimentos. Este ano a organização coube a Cíntia Martins, eisi Corrêa, Francisco Montargil, Inês Pinto de Faria, José Ferro, Maria Magalhães, Maria Matias, Pedro Lopes, Raquel Alves e Sara Folhas.
Nesta edição não houve a tradicional festa final, mas houve a passagem de ano, à meia-noite, na Praça 5 de outubro, com um pequeno fogo-de-artifício e concertos, antes de uma noite de festa. ■

 

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Evento causou impacto no comércio, hotelaria e restauração das Caldas

Estabelecimentos hoteleiros das Caldas registaram aumentos da procura durante os três dias do evento

A maioria dos visitantes do Caldas Late Night procurará gastar o mínimo possível em comida e alojamento, optando por soluções mais económicas, como ficar em casa de conhecidos e comprar bebidas no supermercado, mas o evento tem impato a nível económico na cidade, especialmente em setores que foram bastante afetados com a pandemia, como a hotelaria e os bares.
Os impactos positivos mais óbvios serão os bares da Praça 5 de Outubro, que é a “sede” do Caldas e que durante estes dias regista um movimento acima da média.
Ana Moniz, do Daquiri Bar, fez um balanço positivo da edição deste ano. “Depois de dois anos em casa, foi positivo, mas já houve anos melhores”, contou. Ao longo destes anos tem acompanhado o Caldas Late Night e este ano teve uma surpresa. “Um miúdo, que hoje já tem uns 40 anos, apareceu aqui ontem com uma t-shirt do Caldas Late Night de 2012 que nos veio dar um abraço, foi fantástico”, disse.
Paulo Mendes, do 120 Bar, também sente que o CLN é um pequeno balão de oxigénio depois de dois anos de pandemia. Comparando com outros anos referiu que já houve edições melhores do ponto de vista comercial, mas deixou os parabéns à organização.
Depois, há outros negócios que indiretamente também faturam mais durante estes dias. Rogério Capinha explora a padaria Litoral há quatro anos e meio e fez um pão recheado de legumes de propósito para este evento. Durante estes dias houve um aumento da procura dos seus produtos, especialmente por parte dos bares da praça com quem trabalha.
Ao nível da hotelaria, o hotel Europeia registou um aumento da procura de 25%, especialmente relacionada com o Caldas Late Night, mas também com o facto de ser um fim-de-semana prolongado, com o feriado de 10 de junho, e com a meteorologia favorável.
Já Fernando Moutinho, do hotel Olhos Pretos, também sentiu um aumento da ocupação durante estes dias, estimando que esta tenha atingido os 40%. “O Caldas Late Night movimentou muito mais a cidade, espero que continuem”, referiu.
No Central registou-se a ocupação total. Kamal Uprety, da gestão da empresa, salientou que “eventos como estes ajudam o comércio local, foi um evento muito bom”. ■

Evento trouxe centenas de pessoas às ruas da cidade durante vários dias
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