Já há projecto para a reabilitação da Capela de Sant’Ana, em Salir do Porto. A população, a paróquia de Salir do Porto e um grupo de emigrantes residentes nos Estados Unidos formaram uma comissão para a reconstrução deste edifício (actualmente em ruínas) e alguns dos seus representantes dirigiram-se à última sessão pública de Câmara, em 28 de Agosto, para apresentarem o projecto. A autarquia decidiu enviá-lo às entidades responsáveis pela sua aprovação (APA e CCDR), antes de tomar uma posição sobre o assunto.
A falta de elementos históricos sobre a capela – que se estima que seja datada do século XII – foi o principal senão que levou a Câmara a não dar já o seu parecer sobre a reconstrução deste património.
É uma das construções mais antigas do concelho das Caldas. Estima-se que a Capela de Sant’Ana – padroeira das avós – tenha sido construída no século XII (a mando dos Cruzados) e que durante muitos anos tenha servido como local de despedida dos pescadores. “Como a população de Salir do Porto foi sempre dedicada à pesca e à navegação, as famílias dos pescadores iam até àquela capela despedir-se e ver chegar os seus entes queridos embarcados, rogando preces a Nossa Senhora”, refere a memória descritiva do projecto, que foi elaborado pelo Gabinete de Projectos de Engenharia Civil Paulo Rocha – O Casulo.
O documento esclarece também que até ao início do século XX ainda se faziam procissões do centro de Salir do Porto até à capela, e que já nessa altura o edifício se encontrava bastante degradado, sem algumas partes do telhado. A Capela de Sant’Ana
“foi perdendo importância, provavelmente pela localização, longe do centro da povoação, entrando em ruínas e encontrando-se hoje em elevado estado de degradação com algumas zonas em perigo de desabamento”, pode ler-se.
Agora o objectivo é recuperar este património, mantendo-o o mais fiel possível à construção original (não só ao nível da sua organização espacial como dos materiais utilizados). Prevê-se que as obras custem cerca de 40 mil euros.
A proposta de recuperação da Capela de Sant’Ana foi apresentada no dia 28 de Agosto, na sessão pública de Câmara, à qual se dirigiram vários elementos da comissão responsável por este projecto e que junta não só a Paróquia de Salir do Porto, como a população local, e um grupo de emigrantes residentes nos Estados Unidos. Este último já está a organizar um almoço de angariação de fundos no próximo mês.
“A recuperação da capela não é apenas um desejo religioso, nem de uma minoria, mas sim um interesse de todo o concelho”, disse Samuel Pulickal, padre na paróquia de Salir do Porto.
Abílio Luís, do executivo da União de Freguesias de Tornada e Salir do Porto, defendeu a mesma ideia.
“A Capela de Sant’Ana reconstruída seria mais um ponto de interesse turístico no concelho pois é um monumento com valor patrimonial”, realçou, acrescentando que também São Martinho do Porto (Alcobaça) já mostrou interesse em ver concretizado este projecto.
APROVAÇÃO DA OBRA NÃO DEPENDE DA CÂMARA
Embora o executivo camarário esteja receptivo à recuperação da Capela de Sant’Ana, a aprovação das obras não está nas suas mãos. Como as ruínas estão assentes em Reserva Ecológica Nacional e a zona é do domínio público marítimo, são chamadas a intervir entidades como a CCDRLVT (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo) e a APA (Agência Portuguesa do Ambiente).
“Não será um processo fácil e duvido que haja um parecer até Novembro, mas por isso é que é importante que o projecto inclua uma vertente de preservação patrimonial significativa, isto é, que a capela reconstruída corresponda o máximo possível à original”, afirmou o presidente da Câmara, Tinta Ferreira.
A vereadora Maria Conceição Pereira (PSD) também sublinhou a importância do projecto não descurar a construção original e realçou que hoje em dia o “turismo interessa-se pelas boas praias e gastronomia, mas também pela cultura e património”.
Já Jorge Sobral (PS) pronunciou-se dizendo que “não podemos ultrapassar os problemas técnicos, mas podemos dizer que o nosso espírito é de abertura total quanto à realização desta obra”. O vereador socialista acrescentou que é importante que seja feito um historial da Capela de Sant’Ana, ideia que foi corroborada por Rui Gonçalves (CDS). “Nestes locais tão sensíveis é importante não dar argumentos às entidades competentes para que chumbem o projecto, por isso é essencial fundamentar o passado da capela com fontes credíveis”, disse.
A comissão revelou que há um grupo de pessoas que actualmente está a procurar mais dados históricos sobre a Capela de Sant’Ana mas que a informação é escassa. Por exemplo, no arquivo nacional da Torre do Tombo não encontraram qualquer informação.
Foi precisamente a falta de elementos sobre o passado histórico da Capela de Sant’Ana que levou o executivo camarário a adiar o seu parecer sobre o projecto, que entretanto já foi enviado às entidades responsáveis pela sua aprovação.