A livraria Bertrand, no Centro Comercial La Vie, acolheu no serão de sábado, 23 de Janeiro, uma tertúlia literária com Carlos Querido. O espaço da loja foi pequeno para as duas dezenas de leitores que quiseram partilhar ideias com o autor de Redenção das Águas e de Príncipe Perfeito.
O colaborador da Gazeta das Caldas, responsável por rúbricas como Memórias da Minha Aldeia, Recortes de Jornais e Salir D’Outrora, partilhou com os presentes pormenores relacionados com a pesquisa histórica e literária necessárias para criar os seus dois últimos livros e ainda levantou um pouco do véu sobre o qusegue.
A tertúlia na livraria deambulou principalmente sobre as obras da “Redenção das Águas”, dedicada às peregrinações do rei D. João V, e o “Príncipe Perfeito, Rei Pelicano, Coruja e Falcão”, dedicado a D. João II. Ambos editados pela Arranha-Céus, os livros serviram de mote para o autor dar a conhecer vários pormenores da investigação e da construção das personagens.
Historiadores, investigadores, livreiros, familiares e poetas mantiveram-se atentos às explicações de Carlos Querido, respondendo de vez em quando ao desafio do autor, colocando-lhe questões ou fazendo comentários aos seus livros.
“Redenção das Águas” dá a conhecer a estadia do rei D. João V nas Caldas, a partir de 1742, quando foi vítima de “um mal”. O monarca procurou a cura nas águas caldenses, mesmo contra o conselho de vários médicos. O rei acreditava piamente no poder curativo das águas termais e arrastou consigo toda a corte, acabando por transformar a então vila pacata na capital do reino. O séquito instalou-se na cidade e em mais 62 habitações e várias quintas dos arredores. Um facto histórico descrito nesta obra que não esquece ainda de retratar o cortejo que com toda a pompa e circunstância se realizava entre a Praça da Fruta (Rossio de então) e o Hospital Termal para acompanhar o rei aos banhos.
Na tertúlia falou-se sobre Pedro Fontes, criado do Infante D. Manuel, que viveu na Foz do Arelho e que acompanhou o irmão do rei em périplos militares bem-sucedidos pela Europa. Outra personagem central é Sara, a filha ilegítima do rei, que Carlos Querido coloca no seu romance a viver na vila das Caldas. Há ainda nesta obra uma brincadeira que relaciona D. João V com a cerâmica fálica.
“Obcecado pela
história da cidade”
Já no seu último livro, Carlos Querido, deixou-se fascinar por D. João II. Explicou que esta figura histórica projectou a sua sombra sobre os reinados seguintes e contou com algum pormenor a sua acção de Estado, assim como descreveu a batalha de Alfarrobeira, onde morreu e ficou insepulto durante três dias o Infante das Sete Partidas, seu avô materno. Na sessão, o autor relembrou também que os historiadores que trabalham este monarca se deixam impressionar com a sua acção, por vezes brutal e muito pouco dada ao sentimento. Carlos Querido referiu ainda uma historiadora de D. João II, Manuela Mendonça, que afirma que foi este rei português que serviu de inspiração a Maquiavel para a sua obra “O Príncipe”.
“Está agora na hora de escrever sobre a ligação do rei D. Carlos I às Caldas da Rainha”. A sugestão veio do historiador Nicolau Borges, que é amigo e autor de prefácios de duas obras de Carlos Querido.
O investigador sugeriu-lhe que desta forma poderia fechar a trilogia reunindo uma nova obra àquelas que tem dedicadas às presenças de D. João II e D. João V na cidade termal. Faltaria agora pesquisar sobre aquele que dá nome ao espaço verde da localidade.
O autor, que é juiz desembargador, registou com agrado e simpatia esta ideia, mas não se comprometeu.
Reconheceu, no entanto, que é um “obcecado com a história das Caldas”.
No final da sessão Carlos Querido disse à Gazeta das Caldas que está a ser pensada a reedição da obra Praça da Fruta, que neste momento se encontra esgotado.