Accademia del Piacere encerrou com chave de ouro mais uma edição do Cistermúsica. Organização fez um balanço extremamente positivo do festival
Os espanhóis da Accademia del Piacere encerraram a 29ª edição do Cistermúsica, com a “Música mestiça na Espanha Barroca”, um concerto que se realizou no dia 1 de agosto e que esgotou a lotação da sacristia do Mosteiro de Alcobaça.
O grupo, com três violas de gamba (uma delas de Fahmi Alqhai, responsável pela direção do grupo e que é considerado um dos maiores renovadores da música antiga), soube tirar partido da acústica daquele espaço e proporcionar um espetáculo de qualidade. A voz da soprano Quiteria Munoz impressionou e conseguiu transparecer as emoções, ora mais alegres, ora mais tristes de cada música.
O público, a avaliar pela reação entre os temas e no final, apreciou o concerto, premiando o grupo com demoradas salvas de palmas e até alguns gritos de “bravo!”.
A banda, quando regressou à sala para o encore, não deixou também de elogiar o carinho do público e o espaço magnífico que é a sacristia do Mosteiro.
À saída da sacristia, Fernando Machado, que vive grande parte do tempo em Lisboa, mas que tem casa em Alcobaça onde, com a pandemia, tem passado mais tempo, mostrou-se agradado com o festival. “O ano passado foi um ano muito especial e não vim ao Cistermúsica, mas costumo vir a alguns espetáculos todos os anos. Este ano, como estive em Alcobaça grande parte do tempo, não podia faltar”, referiu. Em relação ao encerramento considerou que foi “esplendoroso”, com música que leva o público “ao grande século do apogeu da Espanha, com as influências dos povos da América do Sul”. “Foi muito interessante e gostei muito”, notou.
Dos concertos que viu, destacou as sonoridades da Arménia, o espetáculo “Maria de Buenos Aires”, de Astor Piazzola, interpretado por Daniel Schvetz e Ana Ester Neves. “Os ambientes também contam quase tanto como a música”, acrescentou, ressalvando a importância e a imponência do espaço monástico onde se realiza o festival.
“O Cistermúsica é um elemento importante para Alcobaça, traz prestígio e tem tido a cada ano mais participação, tanto de pessoas daqui, como pessoas que vêm de fora”, frisa Fernando Machado, elogiou a organização e a equipa de voluntários que torna possível a realização do festival.
Por seu turno, Virgínia Horta é natural de Vila Franca de Xira e não conhecia o Cistermúsica. Mas como gostou “muito do concerto!”, admite que vai voltar a espetáculos do Festival de Música de Alcobaça nas próximas edições.
Balanço extremamente positivo
André Cunha Leal, da direção artística do festival, salientou que a edição de 2020 “foi um teste e um desafio autêntico”, em que estavam “a experimentar as regras e a passar a mensagem de confiança de que era possível fazer cultura e haver um festival em pandemia”.
O especialista fez notar que o Cistermúsica foi pioneiro no pós-confinamento e que este ano assumiram “o festival em pleno, uma vez que no último ano tinha sido mais condicionado”.
Nesta edição, mesmo em tempos de pandemia, a organização conseguiu fazer duas óperas encenadas, “o que revela a força de produção do Cistermúsica”.
No que diz respeito ao público, André Cunha Leal considerou que houve uma adesão interessante, com grande parte dos espetáculos lotados. “Nas primeiras semanas tivemos um revés com as medidas restritivas em Lisboa”, salienta o diretor artístico do festival. Ainda assim, diz, o público de Alcobaça e da região Oeste aderiram ao festival.
De resto, entre 25 de junho e 1 de agosto foram 40 concertos naquela que foi considerada a edição mais ambiciosa do festival e que ficou marcada pelo regresso das bandas internacionais depois de em 2020, e devido ao contexto pandémico, apenas terem participado no Cistermúsica grupos nacionais.
O evento contou com o alto patrocínio do Presidente da República e o apoio financeiro da Direção-Geral das Artes, assim como a parceria estratégica do município de Alcobaça, a parceria institucional da Direção-Geral do Património Cultural/Mosteiro de Alcobaça e o mecenas BPI /Fundação “La Caixa”. ■