
Para onde quer que nos viremos, lá encontramos outra vez o Alberto Pimentel [1849-1925]. O que este homem escreveu!
“Portugal Pitoresco e Ilustrado – A Extremadura Portuguesa”, é uma obra em dois volumes de formato considerável, sendo o segundo volume dedicado a «I – Região dos saloios e suas zonas – II – Às portas da capital. A cidade de Lisboa. Entre Belém e Cascais – III – Da outra banda à enseada de Sines – IV – Distrito de Leiria». Às Caldas da Rainha o autor dedica 11 páginas, pois muito tinha a dizer. Editado pela “Empresa História de Portugal – Sociedade Editora”, era vendido esta obra na Livraria Moderna, situada na Rua Augusta nr. 95. Foi editada em 1908.
Escreve o autor:
“Antigamente era longa e fatigante a jornada para as Caldas, por maiores que fossem os recursos pecuniários dos seus frequentadores, entre os quais el-rei D. João V, que treze vezes ali foi, ansioso de recobrar a saúde que tinha malbaratado.
Hoje, de Lisboa às Caldas da Rainha são, pela linha do oeste, viagem direta, apenas 109 quilómetros de caminho-de-ferro. [Como o Autor estava enganado quanto à ligeireza do caminho de ferro!]
O viajante é deposto na estação a que a vila dá o nome, sem grande fadiga nem dispêndio e seguindo pela rua da Estação, sem subir nem descer e com boa disposição de espirito, porque a vila está situada n’uma planície alegre e luminosa, encontra-se a breve trecho na Praça, que não é locutório da vida humana, mas sim o lugar onde pulsa, como antigo rocio, o coração Comercial das Caldas.
A Praça liga-se por uma pequena calçada ao largo do hospital e das termas, cujo edifício se defronta com o pórtico da plana e extensa alameda da Copa, hoje Parque D. Carlos I, que dá passagem para a mata, – o ponto mais alto da vila.
Aqui, sim, aqui é que nos encontramos em plena vila termal, de manhã por causa da multidão dos aquistas em tratamento, logo depois do almoço até ao fim da tarde pelo «rendez-vous» do Parque e da mata, e à noite pela conversação nos canapés do «Céu de Vidro», – recinto coberto de vidraças que faz correr para o Parque – e pelas valsas do Club, pelo bilhar ou pelos jogos de vaza e, finalmente, pelo «flirt» sob as árvores à luz clara da lua ou à pálida claridade da luz elétrica – que parece uma lamparina discreta de mais…
Desde o reinado de D. João V até hoje a vida termal das Caldas tem acompanhado a evolução dos tempos e, portanto as modificações dos trajes e do trato social …
[…] O Hospital mantém um serviço para condução dos paralíticos e outros inválidos.
No largo da Copa, em frente da calçada há um edifício reservado aos convalescentes. Em parte dos baixos deste edifício foi estabelecido em 1906 uma «garage» onde podem ser recolhidos os automóveis dos excursionistas.
Oculto pela fachada do hospital fica o Paço Real, aliás modesto, mas que frequentes vezes tem recebido o chefe de estado e sua família.
Possui a vila um chafariz monumental, chamado das «cinco bicas».
E tem escolas primárias, corporação de bombeiros voluntários, hospício de expostos, uma associação de socorros mútuos D. Leonor, sociedades de recreio, uma fábrica de conservas, uma praça de touros, um teatro – Pinheiro Chagas – porque este ilustre escritor foi deputado pelo antigo círculo das Caldas”.
Já muito calcorreamos pelas Caldas; hoje, ficamos por aqui.

Isabel Castanheira






























