Ditadura, 25 de abril e Democracia

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Notícias das caldas
Júlia Coutinho

Um texto de Alice Freitas (1925-2013)

Pudesse eu, à maneira do O’Neil, inventariar em poesia e diria, assim, do sentido negativo do longo tempo da opressão e, por outro lado, da face positiva, da claridade do Revolução. E do que se seguiu.
Não podendo fazê-lo, opto, pelo tempo e pelo espaço disponíveis, por uma espécie de simples nota inventariante, ou quase.
Primeiro, a longa noite anterior ã Revolução dos Cravos:
– O país cinzento, sombrio apesar do sol, calado e triste. Vidas condicionadas, silenciosas e silenciadas, sem horizontes que não os da escassez, da emigração, das prisões e da guerra.
– Proibidas quaisquer reuniões, espectáculos, filmes, sessões culturais, passeios, saídas ao estrangeiro.
– Proibido falar, pensar, discordar. reagir de acordo com a vontade e sensibilidade de cada um.

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– Condenação, proibição e apreensão de obras literárias, de peças de teatro, de obras de arte e de tudo o que pudesse possibilitar informação, instrução, desenvolvimento, cultura, a realização da felicidade, simples e breve que fosse, individual ou colectiva.
– Dir-se-ia um pesadelo. Era a sombria realidade.

E havia mais:
– Os julgamentos no Tribunal Plenário da Boa-Hora (?!), em Lisboa, os patentes abusos e excessos, o sono simulado e a má educação dos juízes. A agressão aos presos no próprio Tribunal, a sala cheia com guardas e agentes da PIDE, para que não coubessem familiares e amigos.
– A invasão da propriedade privada, de madrugada, as perseguições por crimes de opinião, a exclusão de democratas dos cadernos eleitorais e a inclusão, nos mesmos, de eleitores já falecidos.
Depois, a manhã libertadora do 25 de Abril:
– O povo na rua, festejando a liberdade, a alegria contagiante dos presos e corações libertos, a festa plena e transbordante que a todos, ou quase, envolveu de felicidade.
A festa!
– Tempos se seguiram, dissidências, inflexões, divisões, eleições, alternativas, recuos, avanços, acomodações. Dividiram-se as opiniões. Cresceram as dissenções, pioraram condições. Nem sempre há oportunidade para todos:
Quem só pense em servir-se é de todos os tempos … Havia e há falta de emprego.
O Alentejo despovoa-se, parece definhar nos mais idosos, mas resiste. Bom, mas vai haver Alqueva!
Que venha, finalmente, pode ser uma festa e um alento.
O mar tem fluxos e refluxos. O tempo também. Assim a História tem os seus avanços e recuos, intercalados, inesperados, mas não paro. A esperança não morre e quem luta pelo que é justo não se cansa.
“Alma até Almeida” diz o provérbio que é sabedoria popular.
A hora não é de fraquezas e desfalecimento: Força de ânimo, participação e alento!
Então,
Viva o 25 de Abril que nos libertou e nos deu voz.
Vivam os Capitães e Abril!
Viva Portugal!

Para as novas gerações. para os nossos filhos e netos, para os vindouros – um voto expresso:

A vida inteira de olmo e coração, “e um cravo de futuro em cada mão!”

Alice Maldonado Freitas

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