“Escolas que se abraçam” junta um milhar de alunos de Portugal e Brasil

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O escritor obidense Alexandre Sousa considera que este projeto, para além de educacional e cultural, é também social

Durante o ano letivo, alunos de 14 escolas dos dois países partilharam os sonhos e medos em tempo de pandemia. O projeto educativo e cultural resultou num livro, que será apresentado no Folio, em Óbidos

 

O projeto nasceu em 2019, com o nome “Cartas de Lá e de Cá” e com 200 crianças de Óbidos e 250 de seis escolas de Conceição do Mato Dentro (Minas Gerais – Brasil) a trocarem cartas e a concretizar o sonho do embaixador José Aparecido de estabelecer pontes de cultura e educação entre os povos. As missivas, muitas delas ilustradas, foram reunidas em livro, organizado pelos escritores Alexandre de Sousa (Óbidos – Portugal), José Santos, Mara Senna e Selma Maria (Brasil). O sucesso da experiência, com as crianças entusiasmadas a enviar as cartas pelo correio, e a espera da resposta, mas também a interacção que promoveu, levou a que o município brasileiro lhe quisesse dar continuidade. E, também, permitir que as crianças do interior do Estado de Minas Gerais, algumas que fazem uma hora a cavalo para ir para a escola, na roça, pudessem vir a Óbidos e ver, pela primeira vez, um castelo ou o mar.
No entanto, a pandemia obrigou a que a visita tivesse que ser adiada, mas o projeto teve continuidade. Alteraram-se os moldes e cresceu. Além de Óbidos, passou a integrar mais seis cidades portuguesas: Lagos, Campo Maior, Cascais, Braga, Póvoa do Varzim e Angra do Heroísmo, e outras tantas brasileiras, e tomou um figurino diferente: passaram a utilizar o e-mail, porque as cartas demoravam, por vezes, um mês a chegar ao destino, no Brasil.
Fechadas nas suas casas, e com aulas à distância, as crianças escreveram sobre temas como “A minha professora virou youtuber”, “Como passarinho na gaiola”, “Gratidão nunca é demais” ou “Vasto Mundo”, onde se questionavam e partilhavam os problemas que surgiram e como os ultrapassaram.
É o resultado desses testemunhos, organizados em livro pelo escritor obidense Alexandre Sousa e os brasileiros José Santos e Selma Maria, que será apresentado na tarde do próximo dia 17 de outubro, na Biblioteca Municipal de Óbidos, no decorrer do Folio, evento que está de regresso este ano.
“Todas as escolas começam a participar com textos, desenhos e, inclusivamente, Póvoa do Varzim participou com uma música”, especifica Alexandre Sousa, acrescetando que uma das novidades deste projeto é a edição também de um livro digital, que permitirá incluir vídeos, fotos e música. O livro vai também ser traduzido em inglês, porque “vários países do continente americano mostraram-se interessados em conhecer este projeto educacional e cultural, que permite que as crianças tenham acesso à produção literária”, explica o autor à Gazeta das Caldas.
Está ainda prevista a apresentação de “Escolas que se abraçam” em todas as escolas participantes, no festival Correntes d’ Escritas, na Póvoa do Varzim, e na Bienal de S. Paulo, um dos grandes festivais literários da língua portuguesa, no próximo ano.

Continuidade do projeto
A equipa já está a trabalhar no projeto que irá arrancar no início do próximo ano e que irá estender-se a mais escolas.
No Brasil chegará aos municípios de Diamantina e Santos e, em terras lusas, Caldas da Rainha será uma das cidades participantes. A Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro já se tinha mostrado interessada, mas acabou por não ser integrada por dificuldades de financiamento do projeto, que tem sido inteiramente suportado pelo município de Conceição do Mato Dentro.
Desde o início do projeto que o objetivo é poder chegar a outros países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), até porque este nasce do sonho de Rosara de Oliveira Maneira em homenagear o tio, antigo embaixador do Brasil em Portugal, José Aparecido, que foi também um dos fundadores da CPLP e que é natural de Conceição do Mato Dentro.
“Estamos à espera que a CPLP consiga ouvir a nossa voz e dizer que também abraça este projeto”, remata o escritor.
A ligação de Alexandre Sousa a este projeto internacional surgiu do convite de José Santos, escritor brasileiro que tinha estado em Óbidos, em 2017, a fazer uma residência literária. A parceria continuou e o escritor português foi convidado a prefaciar o mais recente livro de José Santos, que também será apresentado no Folio.
Para além disso, Alexandre Sousa está a desenvolver o projeto “Poesia em lata”, que tem por objetivo chamar a atenção para as espécies que estão em vias de extinção no Brasil e em Portugal. Também foi convidado para escrever um livro, para crianças e jovens, sobre a travessia do Atlântico Sul, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que fará 100 anos a 30 de março de 2022, e que será lançado nos dois países.
O escritor obidense, também militar da Força Aérea na reserva e professor nas escolas de aviação civis, está, ainda, a reunir em livro uma série de crónicas que foi escrevendo durante os mais de 30 anos em que esteve na vida militar e que lhe permitiu conhecer muitos países e realidades diferentes. ■

“Vários países do continente americano mostraram-se interessados em conhecer este projeto educativo e cultural”
Alexandre Sousa