Faleceu em Lisboa a artista caldense Aldina Costa

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Trabalhos desta autora que iniciou a sua carreira artística na Secla

A artista plástica caldense Aldina Costa morreu a 25 de Janeiro, em Lisboa, aos 72 anos, vítima de problemas cardíacos. A autora nasceu nas Caldas em 1939 e, no início da década de 1950, começou a carreira como ceramista na fábrica Secla, sob a direcção artística de Hansi Stael. Começou nessa época na Secção de Pintura quando esta era dirigida por Ferreira da Silva, tendo trabalhado com este artista e também com Herculano Elias. Ambos recordam os anos que esta autora passou na Secla, tendo Ferreira da Silva afirmado que Aldina Costa era “uma mulher muito habilidosa, activa e temperamental”.
No final dos anos 50, Aldina Costa parte para Lisboa e, no ano lectivo de  1959/1960, matriculou-se no curso de cerâmica da Escola de Artes Decorativas António Arroio, na capital. Estudou com Querubim Lapa e tornou-se sua colaboradora na fábrica de cerâmica Viúva  Lamego.
“Ela era uma pessoa muito espontânea e desenhava muito bem”, comentou ainda Ferreira da Silva. Além do desenho, Aldina Costa também pinta, explora formas e outras matérias tendo participado na primeira exposição colectiva em 1962. Um ano depois concluiu o curso da António Arroio.
Na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, a caldense  frequentou pintura, foi aluna de Lagoa Henriques, em 1979, juntamente com Querubim Lapa, apresentou uma tese de licenciatura subordinada ao grupo do Café Gelo.
Em 1964 passa a leccionar, na António Arroio, a disciplina de Pintura Cerâmica.  Até finais dos anos 70, Aldina Costa vinha muitas vezes às Caldas com grupos de alunos “para realizar visitas de estudo à Secla”, recordou Ferreira da Silva, artista com quem a caldense continuou a conviver. Este chegou mesmo a propor à Câmara das Caldas que se realizasse uma exposição com as obras desta autora, ideia que ainda mantém.
A artista está representada no Museu de Arte Contemporânea e em diversas colecções particulares portuguesas e estrangeiras.
A galeria lisboeta Perve – que levou Aldina Costa à Feira de Basileia em 2010 – está, segundo o seu site, a preparar uma exposição individual antológica desta artista para este ano.
Aldina Costa era viúva do poeta António José Forte e também foi amiga de Luiz Pacheco. Além de ter leccionado colaborou em revistas e jornais como a “&etc-Magazine das Artes, das Letras e do Espectáculo”, o “Diário de Lisboa” e na “Abril em Maio”, tendo os seus desenhos ou pinturas sido capas de livros como “Jogos de Azar” de José Cardoso Pires (2ª edição, Ulisseia, Lisboa, 1966) e de vários livros do seu marido como “Uma Faca nos Dentes”, “Caligrafia Ardente” e “Corpo de Ninguém”.
José Cardoso Pires afirmou que  “o que surpreende em Aldina é o tom, que é bem nosso, português; a fractura compulsiva que representam os seus quadros e a realidade em desequilíbrio que parecem insinuar. Eles são, cada qual, um pequeno todo suspenso no acaso, no nada (brancos e tela nua onde paira um agrupamento cerrado de formas) e é nessa suspensão irracional que vivem pobres e comprometidos fragmentos de objectos, de máquinas, sinais do homem que ela nos apresenta e que estão todos eles em desunião mas profundamente agarrados uns aos outros pelo desespero e pelo furor de viver”.
O funeral de Aldina Costa realizou-se na  passada quarta-feira, 26 de Janeiro, e o corpo foi cremado, tal como a artista tinha deixado expresso.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

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