A Câmara de Coimbra vai editar em livro as fotografias da autoria do jovem fotógrafo caldense, Francisco Paramos, que realizou um projecto de arte urbana nos bairros camarários daquela cidade. A exposição, composta por 20 imagens em grande formato, penduradas nos estendais dos edifícios, foi inaugurada a 15 de Outubro e está patente até 30 de Novembro. O livro será editado pela editora coimbrense Lápis de Memórias.
Em três meses Francisco Paramos fez três mil fotografias dos espaços, casas e pessoas de diversos bairros de Coimbra. “Não são meras fotografias tiradas em poucos segundos. Foi muito mais que isso. Tive o prazer de conhecer pessoas extraordinárias, com as quais aprendi grandes lições de vida”, explicou o jovem caldense na inauguração.
Aos 23 anos, Francisco Paramos sente que cresceu ao deparar-se com uma realidade que desconhecia por completo, “uma realidade que me chocou e que me fez reflectir”.
Quer agora dar a conhecer o que viu através das fotografias. “Acredito vivamente que é uma realidade que todos devem conhecer para encarar a vida de uma forma mais clara e justa”, afirmou.
Foi naqueles bairros sociais que conheceu pessoas que considera especiais “que me ensinaram a fazer desde ‘porcalhada’ para o almoço, ‘arepas’ para o jantar, flores de papel para enfeitar o jardim, citações da Bíblia e até como viver com 140 euros por mês e ser feliz depois de tudo o que já se sofreu, ter esperança quando tudo parece estar perdido, lutar, cair e voltar a lutar”.
As imagens retratam a história de vida de quatro mulheres que moram nos bairros municipais do planalto do Ingote, zonas consideradas problemáticas de Coimbra. O título da exposição é “Mulheres de Bairro” porque são as mulheres as protagonistas.
“Em Coimbra dizem horrores daquele sítio. Sei de pessoas que até lhes dava jeito passar por lá de carro e que não passam por medo, ou, na minha opinião, por preconceito”, tinha adiantado à Gazeta das Caldas o artista, antes da inauguração, acrescentando que andou pelos dois bairros de máquina fotográfica na mão e nunca sequer “foram mal-educados comigo”.
No dia da inauguração as “bandeiras” foram exibidas em quatro prédios de uma só rua, mas agora estão espalhadas pelos vários estendais dos bairros.
Fernando Monteiro, da associação de moradores do bairro da Rosa, acha que este trabalho serve “para desmistificar um pouco a má fama que estes bairros têm na cidade de Coimbra”. O morador ficou contente pelo facto de terem estado presentes na inauguração pessoas que habitualmente não frequentam aqueles bairros e até algumas de fora de Coimbra.
Presidente da Câmara de Coimbra
Presente na cerimónia, o presidente da Câmara de Coimbra, Barbosa de Melo, referiu que “a maior parte das exposições são feitas em espaços fechados e viradas para dentro de si próprias”, ao contrário desta instalação artística onde “as pessoas mostram a todos o que passam o que se passa lá dentro”.
O autarca elogiou esta forma diferente de mostrar estes bairros “com os seus momentos alegres ou tristes, com as coisas boas e más, como todos bairros têm”, de um modo que poderá fazer os seus habitantes sentirem-se orgulhosos do local onde habitam. “Uma cidade só poderá ser verdadeiramente grande quando gosta de si própria”, afirmou Barbosa de Melo, que desafiou Francisco Paramos a continuar o seu trabalho por outros bairros de Coimbra.
O trabalho foi desenvolvido no Departamento de Habitação da autarquia, no âmbito do estágio curricular de Francisco Paramos, aluno finalista do curso Comunicação e Design Multimédia, na Escola Superior de Educação de Coimbra.
O vereador Francisco Queirós, responsável pelo Departamento da Habitação, salientou que faz todo o sentido este tipo de trabalho, tendo em conta que “não lidamos apenas com paredes e outras questões materiais, porque para nós o que interessam são principalmente as pessoas”.
A vereadora da Cultura em Coimbra, Maria José Santos, ficou encantada com a exposição apresentada pelo caldense. “Ele foi um artista na verdadeira acepção da palavra porque entrou na casa das pessoas, privou com elas e conseguiu transmitir no seu trabalho esse cruzamento”, disse.
A autarca, que elogiou o “talento e coragem” de Francisco Paramos, referiu que, além das mulheres fotografadas, aderiram à exposição outras famílias ao cederem as varandas para colocarem as fotografias.
“É a primeira vez que se faz uma mostra deste género em Coimbra”, salientou. Na sua opinião, com esta exposição, os habitantes destes bairros vão sentir-se mais integrados na vida da cidade.
A arte e a solidariedade
Francisco Paramos e alguns amigos estão a fazer uma recolha de brinquedos para serem entregues às crianças dos bairros onde o fotógrafo desenvolveu o seu projecto.
Fruto da relação pessoal que estabeleceu com aquelas pessoas, o jovem caldense quer agora ajudá-las a suprir algumas necessidades. Uma das mulheres que fotografou chegou a dizer na inauguração que Francisco Paramos era como um neto para si.
Para além da recolha dos brinquedos, estão também a fazer o levantamento de outras necessidades daquelas famílias.
“Nós vamos arranjar também alguns móveis para uma senhora que tem três filhos e só a sala é que tem mobiliário”, contou Fábio Nunes, outro dos caldenses envolvidos nesta acção de solidariedade.
A autarquia de Coimbra tem a seu cargo sete bairros camarários, no qual são realojadas as famílias carenciadas do concelho.
Outra iniciativa desta autarquia é o parque dos nómadas, um centro de estágio habitacional para a população cigana de Coimbra, onde são recebidas “em curta estadia famílias com características culturais, étnicas e sociais que pela sua realidade e natureza não encontram resposta nos equipamentos tradicionais”.