Uma viagem pelo passado e presente da Praça da Fruta é a proposta feita pelo Museu do Ciclismo caldense. Na sua sala de exposições encontram-se patentes fotografias, vídeos, objectos e documentos que contam a história deste ex-libris da cidade que foi recentemente alvo de obras de regeneração.
A inauguração decorreu no passado sábado, 13 de Dezembro, na presença de representantes das autarquias de Figueiró dos Vinhos e La Codosera (localidades com intercâmbios com as Caldas), devendo a mostra prolongar-se até Fevereiro de 2015.
Em 1909 uma vendedora de pinhões na Praça da República fazia a capa da revista “Ilustração Portugueza”, do jornal O Século, mostrando já a actividade e importância desta praça, cujo empedrado remonta a 1883. Pelas paredes do Museu do Ciclismo, muitas outras fotografias e objectos mostram como foi mudando a vida da praça do longo da sua existência.
O director do museu e responsável pela exposição, Mário Lino, referiu-se à Praça da Fruta como o “pulmão cultural da cidade e um espelho do trabalho de pequenos agricultores, cerâmicos, artífices e oleiros”. Estes vendiam o barro transformado em tachos, bilhas, cântaros, alguidares e fogareiros. No topo sul do tabuleiro vendiam-se enxadas, panelas, cafeteiras e canecos de rega.
E como a casa que recebe a mostra está ligada ao ciclismo, encontra-se patente a bicicleta de um vendedor muito conhecido na cidade: o “Marcelo das Galinhas”, alcunha dada a Marcelo César de Abreu, que percorria as freguesias do concelho à procura dos “melhores galináceos”, que depois transportava na sua bicicleta até casa, onde eram abatidos. No dia seguinte “vendia a carne das galinhas e as enxundias amarelinhas [gordura], próprias para dar cor e sabor a um excelente caldo de canja, verdadeiramente campestre, que ia à mesa das famílias mais abastadas”, recorda Mário Lino na revista Reflexos Fotográficos, também lançada no passado sábado.
O autor da mostra destacou a regeneração do tabuleiro, que trouxe de “novo a dignidade” que aquela praça representa na memória colectiva. Parte do trabalho feito durante a intervenção, nomeadamente a nível arqueológico, pode agora ser visto, encontrando-se expostos pedaços de azulejos e de peças de cerâmica.
De acordo com o arqueólogo Ricardo Lopes, que integrou a equipa de especialistas durante o início das obras, encontraram-se, entre outros vestígios, perto de 900 fragmentos pertencentes aos painéis que compunham a antiga Capela de Nossa Senhora do Rosário e duas moedas do reinado de D. Manuel.
Presente na inauguração, o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, reiterou que o executivo tomou a opção certa ao apenas fazerem uma escavação superficial, de 60 a 80 centímetros de profundidade, e assim garantir que a praça sobrevivesse.
O autarca admitiu que a ideia de ali fazer um parque de estacionamento subterrâneo “era útil”, mas destacou que se fosse aberto um buraco mais fundo, mais vestígios se encontrariam e este ficaria aberto por vários anos.
“Há quem diga que a praça vai morrer numa década, mas eu estou convencido que ela vai sobreviver”, referiu Tinta Ferreira, acrescentando que o município pretende, no futuro, mostrar o espólio recuperado com as escavações, tanto através do Arquivo Municipal, como num novo edifício que pretendem dedicar a esta temática.
Tinta Ferreira destacou ainda a proximidade das localidades de Figueiró dos Vinhos e La Codosera (cujos responsáveis estavam presentes na mostra) às Caldas e referiu-se a Mário Lino como o seu “ministro” dos Negócios Estrangeiros, pois é o grande mentor destes intercâmbios.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt