Ilustrações de Catarina Sobral no CCC

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Gazeta das Caldas
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DSCN9257A ilustradora Catarina Sobral trouxe até às Caldas “Cachimbos & Cartas de Amor”, uma exposição que compila as ilustrações originais dos seus quatro primeiros livros infantis: “Greve”, “Achimpa”, “O Meu Avô” e “Vazio”. Inaugurada no sábado, 20 de Fevereiro, a mostra pode ser visitada no CCC até ao dia 20 deste mês.

Sem texto e no seu tamanho original, as ilustrações de Catarina Sobral saltam dos livros para o “papel” na exposição “Cachimbos & Cartas de Amor”. No total, 34 obras desta ilustradora que também é escritora.
“A experiência de ver uma exposição e ler um livro é completamente diferente… se no segundo formato temos o apoio e enquadramento do texto, as palavras desaparecem no desenho original”, explica a coimbrense de 30 anos que vive em Lisboa.  Quer na obra final como na ilustração Catarina Sobral procura “finais abertos” para que o leitor possa interpretar a narrativa conforme a sua imaginação o levar. “Não irão encontrar histórias estereotipadas nem moralistas”, acrescenta.
Embora também faça ilustração para imprensa, capas de CD’s ou cartazes, foi nos livros infantis que Catarina encontrou o terreno mais fértil para explorar a sua criatividade. Naturalmente porque “as livrarias gostam de colocar as obras ilustradas na prateleira dos livros para crianças”.
Em cada trabalho, a ilustradora aventura-se na experimentação de novas técnicas. Nesta mostra é possível observar a colagem, a monotipia (técnica em que a gravura resulta de uma única impressão), o uso das ceras e tintas de óleo, do lápis e da caneta, da tinta da china e o método do acrílico sobre acetato.
Percorrendo a galeria do CCC de uma ponta à outra começamos pelas ilustrações de “O Meu Avô”, um livro que valeu a Catarina o prémio internacional de ilustração na Feira do Livro Infantil de Bolonha (2014). Nesta história encontramos um rapazinho que descreve a rotina do seu avô, um bon vivant que anda muito a pé, faz piqueniques na relva, bebe chá, lê poesia, viaja a Paris e escreve ridículas cartas de amor. Em paralelo com este personagem, surge o Doutor Sebastião. Sem texto que o apresente, é a imagem que fala por si. Ao contrário do avô, o Doutor Sebastião aquece o almoço no microondas do trabalho,  escreve e-mails, bebe café e viaja de carro. A Paris também vai, mas para reuniões da empresa. Catarina Sobral esclarece: “o antagonismo que existe entre as rotinas das duas personagens serve de reflexão para a forma como vivemos o tempo. Isto é, por mais que tenhamos o mesmo tempo que as outras pessoas, é a maneira como o experienciamos que o faz alargar ou diminuir”.
Em seguida, uma história que brinca com a linguagem. “Achimpa” apresenta-nos um investigador que descobre uma palavra num dicionário antigo, mas que não sabe o que significa nem a classe de palavras a que pertence. A Dona Zulmira, com 137 anos de sabedoria, afirma que “achimpa” é um verbo, mas há quem defenda que se trata de um substantivo, adjectivo ou advérbio. O assunto chega mesmo a ser discutido em parlamento e entre as pessoas paira a confusão. Uns “achimpam”, outros perguntam pela “achimpa” e há ainda os que dizem “coisa achimpíssima”. Depois de muito pesquisar, o investigador chega à resposta de que é um “perlinço”. Volta-se novamente à estaca zero: o que é um perlinço?
Novamente com as palavras no centro da questão, “Greve” relata a greve que os pontos resolvem um dia fazer. Sejam os pontos de vista, as horas em ponto, os sinais de pontuação, os pontos dos is ou o ponto de açúcar, todos os pontos da língua portuguesa entram em paragem, o que gera o caos no dia-a-dia. Imagine-se, por exemplo, que deixava de haver ponto final ou que ninguém chegava a horas a lado nenhum. Mais uma vez, Catarina Sobral opta por um final aberto. Depois de resolvida  a greve dos pontos, começa a sentir-se a falta das linhas.
A fechar o percurso da exposição, um livro exclusivamente de imagens. “Vazio”, da colecção “Imagens que Contam” é uma obra silenciosa, sem texto, onde a ilustração toma a palavra. Fala de um senhor que deambula pela cidade e que, ao contrário dos restantes personagens, não tem cor nem contornos. De silhueta branca, não veste qualquer roupa, não tem qualquer feição. “Chega a ir ao médico, para saber porque é vazio, mas não se descobre a raiz do problema. Entretanto, vai tentando encher-se de objectos, mas continua tudo na mesma. Só quando se cruza com uma senhora, também ela vazia, parece sentir um batimento mais acelerado”, conta Catarina Sobral, revelando que “Vazio” é uma obra que tem a vantagem de pode ser entendida em todos os cantos do mundo.

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