Ivo Correia aprendeu os primeiros passos na cerâmica com o pai, que acompanhava no atelier e no Cencal, onde Armando Correia ensinava. Ivo gosta de trabalhar o barro vermelho e da exigência técnica da porcelana, mas o seu material de eleição é o grés.
O ceramista diz que foi convidado pela organização da Molda, numa fase inicial, para expor as suas obras, mas “ao que parece ficou-se apenas pelo convite”. De resto, diz que não sabe como o evento funciona nem qual é a sua visibilidade na cidade e para o exterior.
Ivo Correia considera que há cada vez mais exposições de ceramistas na região e nota que a retoma económica já se nota pois há quem procure boa cerâmica, painéis e peças decorativas, não só a nível local como nacional.
Nome: Ivo Ximenes Correia
Idade: 36 anos
Naturalidade: Caldas da Rainha
GAZETA CALDAS: Quando começou a dedicar-se à cerâmica?
IVO CORREIA: Desde muito novo gostava muito de “brincar” com a cerâmica. Por questões familiares era uma realidade diária ver o meu pai fazer as peças e passar alguns momentos com ele. Era sem dúvida a melhor maneira de estar presente, tentar imitar tudo o que ele fazia. Até aos meus nove ou 10 anos ia também muitas vezes ao Cencal onde ele era formador e eu e o meu irmão passávamos lá muito tempo. Era o nosso recreio. Depois, mais tarde, já no atelier da casa de família no Chão-da-Parada estava mais presente, posso dizer que comecei a dedicar-me à cerâmica com os meus 14 anos, pintava principalmente pregadeiras para o Museu do Azulejo e enchia moldes de barro vermelho. Depois, por motivos profissionais, estive fora do país por uns tempos e quando voltei a minha mulher achou que era giro termos umas chávenas de porcelana pintadas por mim, e foi desse desafio que tudo voltou a ter sentido e que voltei à cerâmica. Desde 2011 que nunca mais parei.
GC: Quais os materiais cerâmicos com que prefere trabalhar?
IC: Gosto da cor do barro vermelho e da exigência técnica da porcelana, mas o meu material de eleição é o grés. Dá-me liberdade para fazer e desfazer a peça, suporta mais “peso” e é mais resistente em termos de queima. Além disso, faz sobressair as cores mais claras e os pastéis, que são as linhas que agora sigo na pintura das peças.
GC: Que opinião tem da Molda? Que benefícios traz aos ceramistas?
IC: Fui abordado há um ano para fazer parte, como artista, nas exposições da Molda, mas ao que parece ficou-se apenas pelo convite… em termos pessoais não sei como funciona, a logística ou a sua visibilidade na cidade e para o exterior. Penso que deve ser um evento interessante, mas sinceramente, além de algumas exposições que ocasionalmente vejo pelas montras de lojas das Caldas da Rainha, não estou muito a par da iniciativa, provavelmente por falta de mais procura da minha parte nas actividades, ou por alguma falta de publicidade.
GC: Acha que actualmente há uma retoma da cerâmica na região?
IC: Penso que sim, verifico que existem cada vez mais exposições de ceramistas na região e verifico que cada vez mais quem nos visita procura boa cerâmica, peças decorativas e painéis.
A arte em geral pode ser considerada um bem mais ou menos “supérfluo” pois cada vez que assistimos a uma crise económica e social, como se viu nos últimos anos, as pessoas tendem a racionalizar as despesas. Quando há uma retoma, observa-se igualmente uma retoma desse tipo de bens artísticos e penso que, neste momento, é o que se observa a nível local e nacional.
GC: O futuro da cerâmica passa pela indústria, pelo trabalho artístico, ou pela conjugação de ambos?
IC: Penso que a cerâmica se divide antes em três tipos de futuro: a indústria cerâmica, onde temos todo o tipo de louça cerâmica, azulejos, cerâmica utilitária em geral. Depois existe uma cerâmica mais tradicional, o artesanato cerâmico, onde se realiza uma cerâmica principalmente decorativa tentando igualmente o lado prático e utilitário. Trata-se de peças mais arcaicas e que normalmente seguem uma linha mais popular, com menos exigências a nível técnico e artístico e com mais preocupação na tipicidade e regionalidade da peça.
Por fim, existe a cerâmica de autor. Esta baseia-se na criação livre de peças em cerâmica. Eu designo-a por escultura cerâmica, com grande preocupação em termos técnicos e artísticos. Todas elas podem viver bem isoladamente ou em conjunto e todas podem ter um futuro muito promissor desde que sejam sinceras, honestas e originais.
GC: Com que parceiros é que os ceramistas da região podem contar?
IC: Os ceramistas podem contar com todos os parceiros que procurem, mas principalmente com os operadores turísticos, com empresas que publicitam os seus trabalhos (como a Gazeta, por exemplo) e com o público em geral, desde que produzam regularmente e sigam uma linha diferenciadora. A pouco e pouco, vão sendo abordados por diversos parceiros.
GC: Acredita que as Caldas tem condições para ser reconhecida como Cidade Criativa (Arts & Crafts) em 2020?
IC: Neste momento não consigo ter uma resposta definida sobre esse assunto. Penso que para se ter desenvolvimento sustentado na criação artística, têm que existir os criadores, os críticos e os consumidores. Neste momento, e nos próximos dois anos, não sei se Caldas da Rainha tem em número suficiente, o quórum necessário, de cada um destes intervenientes para um reconhecimento deste tipo. Não nos podemos esquecer que estamos a falar de uma cidade que ainda não teve a capacidade económica e exigência social em força suficiente para resolver o caso do Museu de Cerâmica que se degrada em termos de edificado de ano para ano e que cada vez conta com menos recursos humanos para operar com a importância que lhe é devida pela cidade.
GC: Quais são os ceramistas que mais admira?
IC: Armando Correia, Querubim Lapa, Eduardo Constantino e Mário Reis, e eu próprio claro – se não admirasse o meu trabalho, não estava a fazer nada na cerâmica.
GC: Se não fosse a cerâmica, a que outra arte poderia dedicar-se?
IC: Pintura.
GC: Que livro está a ler?
IC: “A vénia de Portugal ao regime dos banqueiros” de José Gomes Ferreira, é uma revisitação ao livro. Não é nada poético mas tem uma certa arte.