AS LIÇÕES DA RAINHA
No ano de 1951 é publicada a “Separata da Imprensa Médica”, da autoria do Dr. Fernando da Silva Correia, composta e impressa na Tipografia das Avenidas, situada na Avenida Barbosa du Bocage, Nr.º 84, em Lisboa.
Assina o prefácio Américo de Cortez Pinto, leiriense e médico, autor do livro “Da Famosa Arte da Imprimissão” exaustiva obra sobre a história da impressão em Portugal.
Mas voltemos ao nosso modesto livro, com as dimensões de 15,5 x 22,5 cms e 56 páginas, mais indicação das obras do autor e capas.
Assim começa:
“1 – Uma ilustre Alentejana
Há três lendas em que se acredita ainda muita gente ao norte do Tejo e principalmente do Mondego, lendas que é mais que tempo de desaparecerem, e muitas vezes tendo procurado desmentir e esclarecer no campo restrito da minha influência.
1.ª – A de que o Alentejo é uma imensa charneca.
2.ª – A de ser Beja uma terra feia e sem interesse.
3.ª – A de as mulheres alentejanas serem pouco cultas,
Em todas três têm colaborado, mais ou menos, certos literatos teóricos, que nunca puseram pé no Alentejo, ou o atravessaram de noite, a dormir no «rápido» do Algarve ou no automóvel, que é a mesma coisa.
São tão absurdas todas estas três lendas e é tão evidente e verdade desmentindo-as, que os Alentejanos nem sequer se dão ao trabalho de mostrar a sua falsidade.
[…]
… Eu venho aqui falar de uma Alentejana cultíssima, filha de outra Alentejana adotiva, igualmente culta, ambas elas filha e mãe, dando perto de cinco séculos de tradições à cultura da mulher alentejana, tão ilustrada, bem se sabe, como a de outra qualquer província.
Essas ilustres senhoras de há mais de quatro séculos e meio são a Rainha D. Leonor, Bejense de nascimento, mulher de D. João II, e a sua mãe, D. Beatriz, que em Beja viveu e ali foi sepultada, mulher do Infante D. Fernando; ele, filho d’El-Rei D, Duarte, ela filha do Infante D. João, netos ambos de D. João I.
[…]
Não é dos Infantes que vou ocupar-me. Venho falar da sua filha, dessa Rainha D. Leonor que Portugal inteiro venera e celebra como a mais notável figura feminina, a par da Rainha Santa Isabel, a quem Beja deve outra honrosa tradição e precedência, como veremos.
[…]
Essa Portuguesa era uma Alentejana e era uma Bejense. Foi D. Leonor de Lencastre, a Rainha D. Leonor, a mulher de El-Rei D. João II.
E já que não posso dar novidades a seu respeito às mais pessoas cultas, desculpem que eu dela me ocupe nos termos mais simples que puder, para que os possam compreender as crianças das escolas, e os mais modestos trabalhadores rurais e industriais, os seus patrícios, os desprotegidos da sorte e da fortuna, que ela tanta protegeu, estimulando outros a protege-los, desprotegidos, pobres e crianças, seus patrícios, a quem estas palavras são dedicadas.”
E nos capítulos seguintes o autor descreve em pormenor todo o trabalho desenvolvido pela Rainha D. Leonor em prol da existência de um sistema de assistência que velasse pelos desafortunados da vida…
Isabel Castanheira
































