Jorge Romão pinta mural de homenagem a Sophia

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A obra do artista cadavalense pode ser apreciada na Graça no centro de Lisboa

Artista plástico fez obra de arte pública num típico bairro lisboeta onde homenageia a poetisa. O mural já se tornou numa atração turística

O pintor Jorge Romão terminou recentemente um mural de homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen, na Calçada do Monte, na Graça, e entre o nº 27 e o nº 29, bairro onde o artista mora em Lisboa.
Aquela obra de arte pública tem perto de sete metros por 2,20 e foi feita em acrílico sobre parede de cimento e fica em frente à casa do artista.
A obra “o Mundo de Sophia” é composta por 705 quadrados de 15 por 15 centímetros, pintados à mão, com pincéis e espátulas. A quadrícula faz parecer que se trata de azulejaria mas, na verdade, é uma pintura mural.
“A obra foi executada em 96 horas, ao longo de oito dias de 4 a 11 de junho”, precisou à Gazeta das Caldas o autor, que, para a realizar, tirou uma semana de férias para elaborar a missão artística, tendo contado com o apoio logístico da Junta de Freguesia da Graça.
“Inspirei-me no universo poético de Sophia de Mello Breyner e nas cores e reflexos da cerâmica de Rafael Bordallo Pinheiro”, disse o artista, que escolheu pintar em mural em tons de azul e de verde. Além de Bordallo, este autor também se inspirou nos revestimentos azulejares de vários prédios das Caldas da rainha e que vivem nas suas memórias de criança.
Estas cores conduzem também o artista até “um dos elementos centrais da poesia de Sophia: o mar”, salientou o pintor, que a quis homenagear com este painel de 705 quadros pintados, todos diferentes e referentes ao universo da poeta.
De resto, encontram-se retratados o mar, as ondas, os peixes, os barcos, os corais, as árvores, as algas, os pássaros, as rosas, o vento, o luar, entre outros elementos da natureza.
Na leitura do autor, de certo modo, neste mural também está representado Deus, que, segundo Sophia, “se revela nessas manifestações da natureza”. Quanto ao sol, está simbolicamente representado pelo dourado, que marca presença em vários quadrados deste mural.
O cadavalense contou, ainda, que na sua execução esteve perto de atingir os limites da exaustão, “tal foi o esforço físico sob sol escaldante”.
Na maioria dos dias, o artista começou a pintar às seis da manhã, “para aproveitar a fresca”, e só terminava quando já não havia claridade. E não faltou gente a levar-lhe refeições, lanches e bebidas para se refrescar. Ou ainda a avisá-lo que tinha o almoço pago no restaurante nas imediações…
“A reação das pessoas tem sido impressionante, quer dos locais quer dos turistas”, disse o autor, garantindo que, em poucos dias, o mural se tornou numa atração turística e inclusivamente “já é paragem obrigatória dos tuk tuk”.
Por causa deste trabalho artístico, Jorge Romão já foi entrevistado para a revista Time Out e também conversou com jornalistas de uma estação de televisão belga sobre o seu mural.
“A obra mereceu o esforço, pois estou muito satisfeito com o resultado final”, contou o autor, fã da poesia de Sophia “que raia a perfeição”.
“Admiro-a na sua economia de palavras e na complexidade das suas ideias”, disse o artista, que está contente com a ideia da Junta de Freguesia que vai investir em iluminação para que o mural se possa ver bem à noite. Jorge Romão já tem mais projetos artísticos para realizar no seu bairro.