José Malhoa em destaque em Figueiró

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A iniciativa decorreu no fim de semana passado

As obras do pintor caldense inspiram eventos culturais em Figueiró dos Vinhos, local onde também viveu e pintou

Decorreu, entre os dias 12 e 20 de agosto, a 5ª edição do Fazunchar, iniciativa cultural que se realiza em Figueiró dos Vinhos e que, ao longo dos anos, tem dado especial atenção ao artista caldense José Malhoa (1855-1933).
O pintor naturalista viveu parte da sua vida naquela localidade, adquiriu casa e pintou muito naquela região, convidando outros amigos artistas para a conhecer.
Foi aliás em Figueiró dos Vinhos que o pintor faleceu em 1933. “Malhoa é uma personalidade incontornável de Figueiró e com este evento que já se faz há cinco anos, recuperamos a ideia de residências artísticas que o pintor estimulava entre os seus amigos”, disse Lara Seixo Rodrigues, da Mistaker Maker e curadora do evento.
Nesta 5.ª edição participaram nove autores e fez parte a exposição coletiva “Ilustrar Malhoa” que teve trabalhos no Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos e também pelas ruas daquela vila.
Deste evento, desde o primeiro ano, convidaram-se ilustradores que reinterpretam obras de José Malhoa.
“Na primeira edição do Ilustrar Malhoa colámos postais dos trabalhos na rua e mais tarde fizemos postais, a pedido da população”, contou a responsável. Em formato de postal foram desafiados mais três ilustradres Carolina Maria, Teresa Rego e Lourenço Providência que desta forma também juntaram o seu olhar a esta coleção. Desta maneira foi possível celebrar “cada um destes originais olhares sobre a singular obra do pintor que escolheu este território como seu estúdio e casa”, referiu a curadora.
Estão presentes obras de Ana Seixas, André da Loba, André Letria, Margarida Girão, Mariana Rio, Tiago Galo, Carolina Maria, Teresa Rego e Lourenço Providência que fizeram parte da Fazunchar ao ilustrar alguns dos trabalhos do pintor José Malhoa. Nesta apresentação, os trabalhos criados e as respetivas inspirações apresentam-se pelo Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos e voltam a ocupar as ruas da Vila, “que são as mesmas que foram cenário e modelo das criações do pintor José Malhoa”.
Lara Seixo Rodrigues salientou também que existe na vila um roteiro com sinalética designada a Volta dos Artistas “onde ainda é possível reconhecer os sítios que vários artistas pintaram, pois mantiveram-se sem alterações”.
De uma certa forma, através das novas ilustrações, “relembramos Malhoa e as suas obras”, referiu Lara Rodrigues, acrescentando que o pintor caldense descobriu Figueiró dos Vinhos através do seu professor de desenho, José Simões de Almeida que lhe deu a conhecer a localidade.
O caldense apaixonou-se pelas paisagens daquela zona do país e acabou por construir a sua residência de verão, conhecida como “O Casulo” ou como dizia a população local “O Challet do Sr. Malhoa”.
Hoje o espaço foi recuperado e situa-se junto ao Centro Cultural local. O pintor naturalista convidava vários artistas para vir pintar em Figueiró, tendo por isso sido “uma espécie de percursor do que hoje se designa por residência artística”, contou a responsável. Dos autores que fazem parte deste Fazunchar já houve vários que se debruçaram sobre a obra de Malhoa numa perspetiva de estudo.
A espanhola Alba Fabre Sacristián quis saber porque é que os quadros do caldense têm uma luz tão especial, pesquisou sobre isso e no final concretizou a sua própria proposta artística.
Outro autor espanhol, Julio Anaya Cabanding, na edição de 2021 decidiu colocar réplicas das obras de Malhoa que só podem ser vistas em galerias como, por exemplo, do quadro Clara. Desta forma deu a oportunidade às pessoas que não conheciam tais obras de as poder apreciar. Por causa deste tipo de intervenção “muitos são os que vão ao museu para procurar os quadros originais do pintor”, contou a curadora. “Entusiasma-nos perceber como estes artistas de hoje olham para trabalhos que apesar de estarem nos museus nasceram em ruas e no campo”, explicou Lara Seixo Rodrigues, acrescentando que já apresentou um projeto nas Caldas da Rainha, mas este “não avançou “. E lamenta pois a cidade termal possui uma realidade artística muito rica que “daria para fazer projetos interessantes”, rematou a curadora da Mistaker Maker, a plataforma de intervenção artística – que trabalha entre a Covilhã e Lisboa – e que se uniu à autarquia de Figueiró dos Vinhos. A Mistaker está à frente do Fazunchar desde 2018, ocupando-se também da produção e curadoria da iniciativa que teve lugar por todo o concelho de Figueiró.
Além da ilustração e da pintura mural, o evento teve residências artísticas e workshops. A 20 de agosto, no encerramento atuou o caldense Tiago Norte, aka. Stereossauro. ■