Aos 75 anos, residente nas Caldas estreou-se na literatura com livro que reúne mais de 50 anos a escrever poemas
Aos 75 anos, Júlio Gomes, residente nas Caldas da Rainha, publicou o seu primeiro livro, “Oceano de Ternuras”, que percorre mais de cinquenta anos de múltiplas experiências de vida colocadas em verso. O livro foi editado em março passado, pelo Autografía, e é prefaciado por Paulo Caiado.
Durante cerca de quinze anos, o antigo colaborador da FRAMI publicou poemas na Gazeta das Caldas, mas, no passado, havia igualmente colaborado com o Século de Joanesburgo, sendo a publicação de poemas extensível ainda ao boletim da Associação Portuguesa de Futebol (APF), o qual fundou com amigos.
Esses poemas estão entre os 200 textos que compõem o livro, muitos deles inéditos, datando o primeiro de 1966 e o mais recente de 2021.
No entanto, o livro não cobre a totalidade do acervo poético do autor, que data dos seus onze anos, idade com que começou a compor versos. Foram selecionados os poemas que já apresentavam um estilo próprio, “a minha maneira de transmitir os meus sentimentos na forma de versos, em vez de estar a fazer quadras ou sonetos iguais aos outros”, explicou Júlio Gomes, acrescentando que “os versos parecem muito simples, formalmente, mas alguns são bastante profundos” e refletem uma harmonia entre a “parte conceptual” e a “parte formal”, resultado de um longo percurso de evolução na escrita.
Os poemas apresentam temáticas diversas, como sejam as vivências do autor em Angola e Moçambique, onde cumpriu comissões militares pelos fuzileiros, ou África do Sul, para onde se mudou aquando do 25 de Abril. “Durante a minha vida ativa tive a sorte de exercer várias ocupações profissionais. De despachante a empregado bancário, de operário fabril a encarregado da recolha seletiva. “Isso conferiu-me inúmeras experiências, que, de uma forma ou outra, transparecem nos meus poemas. Nunca a falta de tempo foi inibidora da minha inspiração poética”, afirmou o autor.
Júlio Gomes é natural de Alcains, Castelo Branco, mas vive nas Caldas da Rainha desde 1981, onde trabalhou 19 anos na FRAMI, na qual foi chefe de equipa e de turno e para a qual realizou traduções de manuais industriais em inglês. Atualmente, dedica-se também ao radioamadorismo.
O autor já escreveu a história da sua vida, com algumas histórias “mais verdadeiras, outras mais ficcionadas”, cuja publicação “não está fora de hipótese”, rematou. ■
Aquando da entrevista, o autor presenteou a Gazeta das Caldas com um poema, exprimindo o desejo de que pudesse ser publicado, à moda dos velhos tempos.
“Insatisfação”
De onde vens tu,
luz que me chegas
e penetras o âmago dos sentidos?
Será que posso ver-me por dentro,
será que posso dar-te ouvidos?
Se a vontade de chegar
é maior do que a distância,
se o desejo de te ver
tolda a minha ânsia,
Deixa-me continuar assim
com as minhas vãs ilusões,
a beber ondas de esperança.
Na expetativa de chegar
ao país que não te alcança.