Trazer a Lagoa de volta a Óbidos foi o desafio proposto ao Museu Bernardo para uma participação na edição de 2011 do Junho das Artes, que terminou a 26 de Junho.
Pedro Bernardo, responsável por aquele espaço nas Caldas, foi convidado pela curadora Carolina Rito para ser um dos programadores para este evento, que reúne anualmente jovens artistas com trabalhos nas áreas das indústrias criativas.
A associação P. Bernardo (que gere o museu e a Casa Bernardo) levou ao Junho das Artes trabalhos de Eunice Artur, Ivo Andrade, João Belga (Ozzy Project), Pedro Bernardo, Simone Poltronieri, Valter Vinagre e Vienne Chan.
A maioria dos artistas expôs no Centro de Design de Interiores (CDI), mas João Belga decidiu fazer uma intervenção na antiga escola primária da Ferraria, no Bom Sucesso, intitulada “Happy Readymade – Palimpsesto habitado”. O trabalho realizado por ser visto na Internet, em casualartraiser.t umblr.com/.
O projecto da Ozzy Project incluía também um mapa até ao local, onde estavam assinalados vários locais de interesse que os visitantes deveriam observar. “É bom que exista uma proposta que faça sair de Óbidos e percorrrer aquele caminho até junto à Lagoa”, referiu Pedro Bernardo.
Segundo João Belga, a ideia foi também fazer com que as pessoas se apercebam “das grandes transformações que aquela zona tem sofrido nos últimos anos”.
“In articulo mortis”
Enquanto programador convidado, Pedro Bernardo escolheu os trabalhos tendo em conta uma consciência artística da actual situação da lagoa de Óbidos. “Ao mesmo tempo quis que as pessoas identificassem a exposição como sendo do museu Bernardo”, explicou.
Pedro Bernardo e João Belga já tinham participado no Junho das Artes há dois anos, enquanto jovens criadores, e não têm dúvidas da importância deste evento. Como caldense tem até alguma inveja do que ali acontece e que acha que deveria também realizar-se numa cidade como as Caldas.
Em relação à exposição no CDI, Pedro Bernardo acha que o título que quiseram atribuir “foi de alguma forma censurado”. Segundo o programador, houve várias peripécias que fizeram com que a designação “in articulo mortis” não aparecesse em nenhum da informação oficial da exposição que organizaram.
“Foi sempre esse o nome para o qual foi pensada a exposição, que foi feita especificamente para aquele espaço e para o Junho das Artes”, explicou Pedro Bernardo. A expressão “in articulo mortis” refere-se aos casamentos feitos à pressa quando um dos noivos está à beira da morte. “Eu acho que alguém não gostou muito desse nome e não foi a curadora, mas nem sequer tiveram coragem de dizer que não queriam uma expressão tão mórbida”, disse.
Para além disso, Pedro Bernardo lamenta que tenha sido recusada uma das suas propostas, sem nenhuma justificação e depois de já ter sido aceite pela curadora, Carolina Rito. “Dont worry baby” é uma carrinha intervencionada pelo colectivo artístico Full Moon Gang e que Pedro Bernardo queria colocar numa rotunda em Óbidos durante o Junho das Artes, enquanto objecto de arte pública.
Actualmente a carrinha está no jardim da Casa Bernardo, do qual é uma imagem emblemática, e “carrega consigo a arqueologia da Casa”, como explica o projecto apresentado na proposta à organização.
José Parreira, administrador executivo da Óbidos Patrimonium, explicou que a organização faz uma selecção das propostas com “critérios obviamente subjectivos e por isso criticáveis”.
Na sua opinião, é natural que existam discordâncias relativas à apreciação do júri, ou da organização, relativamente às obras que são integradas no evento. “2011 foi um ano particularmente difícil para a concretização deste projecto, dada a conjuntura vivida no nosso país e o evento só foi possível de concretizar, com o empenho de muitas pessoas da organização, da sua comissária e obviamente dos artistas convidados”, afirmou.