Novo livro sobre Moçambique refere estadia dos boers pela cidade termal caldense no início do século XX
“O Segredo de Lourenço Marques” é o último livro de Eduardo Pires Coelho, lançado recentemente e cuja ação se passa em Moçambique e na África do Sul. A história decorre no presente e no passado (1894-1902), numa altura em que se definiram as fronteiras de Moçambique, após o Ultimato Britânico. Lourenço Marques passou a ser a nova capital daquele país, substituindo a Ilha de Moçambique.
Nesta altura eclode a Guerra dos boers, que os opunha ao Império Britânico, na atual África do Sul. Do conflito resultou que milhares de Boers, que são descendentes de colonizadores holandeses, se tivessem refugiado em Moçambique. “Muitos deles foram enviados pelo Governo português para as Caldas para os edifícios circundantes das termas, acabados de construir e onde estiveram mais de um ano”, disse ao autor à Gazeta.
Eduardo Pires Coelho veio às Caldas para conhecer melhor estes factos e investigou na Biblioteca Municipal das Caldas. Na sua procura pela informação histórica incluiu -se também um artigo da Gazeta das Caldas, de Carlos Cipriano, sobre a estadia dos boers”, contou.
Ao todo vieram para Portugal 1400 boers, tendo estado nas Caldas, entre abril de 1901 e junho de 1902 cerca de 300 pessoas, “com uma cultura completamente diferente e sem falar a língua”. As restantes foram divididas por outras localidades como Abrantes, Alcobaça, Peniche e Oeiras.
Em “O Segredo de Lourenço Marques” há um capítulo que referencia as Caldas pois a personagem do presente “vai investigar o que se tinha passado com os boers nas Caldas há 120 anos”.
São oito páginas dedicadas aos refugiados boers e a sua estada por terras caldenses”, disse o autor, recordando ainda que a ação da sua obra recorda o Ultimato Inglês (1890), contando que, Portugal tinha a ambição de unir Angola e Moçambique, algo que ia contra os interesses britânicos em África. Estes delinearam as fronteiras de Angola e de Moçambique, país onde existia grande animosidade aos ingleses e, como tal, surge o apoio aos boers. Estes últimos regressaram ao seu território depois da guerra em 1902 e apesar de terem perdido contra os ingleses, mais tarde “ganharam as eleições”, contou o autor, que viveu sete anos na África do Sul e, por isso, quis escrever esta história.
Eduardo Pires Coelho escreve sobre a presença portuguesa no mundo e os dois livros prévios relacionam-se com Malaca e com o Ceilão em “O Segredo da Flor do Mar” e “Taprobana”, respetivamente.
Neste “O Segredo de Lourenço Marques”, que o autor designa por thriller histórico, o personagem, Filipe, recebe um telefonema enigmático de um grande empresário sul-africano que lhe pede que descubra o paradeiro de três passageiros clandestinos de um cargueiro português – o Angoche – que, em 1971, foi encontrado a arder ao largo de Moçambique, sem ninguém a bordo.
A busca levará Filipe a vários países africanos, mas também ao tempo em que Lourenço Marques florescia com a nova linha férrea e o Império Britânico combatia as repúblicas boers para se apoderar da sua riqueza. Nesta guerra, vai envolver-se mais um português Miguel Ferreira que, nesta história, irá desposar a mulher da sua vida, Maria Teresa. No livro não faltam aventuras e a descoberta de homicídios obscuros. Deverá Filipe continuar a sua investigação, apesar das ameaças de morte que vai recebendo? Tudo para ler neste “O Segredo de Lourenço Marques”.O lançamento deste romance, que decorreu em junho, na Fundação Oriente, contou com duas trinetas do governador de Moçambique na época dos factos que o livro refere. ■
Perfil:
Eduardo Pires Coelho
Autor
Nasceu em Lisboa, em 1974, e licenciou-se em Gestão de Empresas na U. Católica. Experiente em mercados financeiros, foi considerado o melhor analista de ações portuguesas pela Deloitte IRG Awards. Viveu na África do Sul, nos EUA e hoje vive à beira-Tejo. Em 2011 iniciou-se na ficção com “O Segredo da Flor do Mar”, sobre a presença portuguesa em Malaca. Em 2020 publicou “Taprobana”, que decorre no Sri Lanka (antigo Ceilão). Gosta da escrita, de viagens e da História e lança primeiro romance sobre África.