Ana Cruz Papoila e Maria Betânia são duas artistas plásticas que se formaram nas Belas Artes de Lisboa e escolheram vir trabalhar para as Caldas da Rainha.
As duas autoras dedicam-se à produção artística e é na sua oficina conjunta que preparam as suas exposições. A próxima terá lugar em Abril.
Situa-se na rua Narciso Barros, nº 30, r/c, no Bairro da Ponte, a oficina de cerâmica de Ana Cruz Papoila e Maria Betânia, duas artistas plásticas que se formaram nas Belas Artes de Lisboa. A primeira vive nas Caldas e há alguns meses que divide com Maria Betânia (que mora em Lisboa) este espaço de trabalho. Ambas consideram que a área tem as dimensões adequadas ao trabalho que produzem na área da escultura cerâmica e salientam o facto do atelier estar próximo de espaços de trabalho de outros ceramistas como, por exemplo, de Carlos Enxuto. “É para nós um privilégio na medida em que facilita a troca de conhecimento e o acesso à tecnologia de produção”, comentaram as autoras que desenvolvem neste espaço os projectos individuais de arte contemporânea.
Pontualmente, Ana Cruz Papoila e Maria Betânia juntam-se para desenvolver trabalhos conjuntos como já o fizeram para exposições como Entre Folhos e Femina.
No espaço não há área de venda dado que o atelier funciona apenas para a criação artística. “As nossas vendas são feitas em galerias de arte contemporânea ou através de contacto directo”, explicaram as autoras, ambas com 34 anos que, no entanto, garantem que vão abrir as portas do atelier ao público sempre que houver eventos promotores da cerâmica.
As ceramistas não trabalham por encomenda e explicam que o seu processo criativo se desenvolve naturalmente através de um conceito e da partilha de ideias, do desenho e de experiências. “Contudo não somos indiferentes a factores externos relacionados com propostas de galerias, residências artísticas e concursos de arte contemporânea”, disseram as artistas que estiveram presentes com uma obra conjunta na última edição da Bienal Internacional de Aveiro.
Lisboa, Caldas e Montemor
Assim que terminaram a licenciatura nas Belas Artes de Lisboa, as autoras começaram logo a trabalhar com barro, ao abrigo de um programa de investigação na área da cerâmica artística (CIECA).
Tendo em conta que partilhavam o mesmo espaço de trabalho e individualmente trabalhavam na mesma corrente de escultura cerâmica contemporânea, pensaram que seria interessante desenvolver projectos conjuntos. “Para nós a cerâmica não é um fim, mas um meio facilitador da materialização dos nossos conceitos que se pode e deve fundir com outras formas de expressão artística”, disseram.
Ana e Betânia sentem uma ligação emocional às Caldas pela forte tradição da cerâmica da cidade. Ana Papoila tem frequentado formações no Cencal, o que lhe proporciona maior proximidade com a cidade e com os ceramistas locais. Ana e Betânia trabalharam anteriormente nas Oficinas da Cerâmica e da Terra em Montemor-o-Novo. A partir de 2017 decidiram concentrar a produção artística no atelier caldense.
“Em franca expansão”
Ana Cruz Papoila (que é membro da Academia Internacional de Cerâmica) e Maria Betânia consideram que a cerâmica é “cada vez mais é um meio privilegiado de expressão na escultura contemporânea e encontra-se em franca expansão”. Acham que no país já há vários ateliers de autor mas lamentam que as peças contemporâneas ainda estejam ligadas às vertentes utilitária, artesanal e de design de produto. Acham pois que o conceito de cerâmica artística contemporânea “continua a estar relacionado como sendo artesanato e nunca como arte contemporânea”. Para estas autoras é ainda preciso percorrer “um longo caminho” até que se possa afirmar que se vive um bom momento da cerâmica artística contemporânea em terras lusas.
Actualmente Ana Cruz Papoila e Maria Betânia estão a trabalhar para a próxima exposição que decorrerá em Abril, na Galeria Foco, em Lisboa. Em paralelo com as suas criações, Ana e Betânia dinamizam ateliers de artes plásticas com doentes psiquiátricos em instituições de saúde mental comunitária.