Terminou no passado sábado a quinta edição do festival Caldas Nice Jazz, com um concerto de Alfa Mist. O evento, que custou 40 mil euros, registou uma média de 300 espectadores nos seis concertos internacionais e deverá no próximo ano estender-se ao Bombarral e a Lisboa, depois de este ano já ter saído dos limites do concelho com um concerto em Óbidos. Também está previsto o regresso do jazz às escolas.
No próximo ano, além de provavelmente se manter a aposta em Óbidos, o Caldas Nice Jazz deverá ter concertos também no Bombarral e em Lisboa. A revelação foi feita à Gazeta das Caldas pelo director do CCC, Carlos Mota, no encerramento da edição deste ano do festival.
Nos planos está também o regresso de “um programa que o festival já teve e que infelizmente deixámos de poder fazer, que era estar nas escolas básicas”.
Outra aposta a repetir são as formações a jovens instrumentistas da região. “É lamentável que com tantas filarmónicas e escolas de música na região não se encontrem jovens músicos para as formações”, que são ministradas por artistas conceituados dos vários instrumentos do jazz.
Carlos Mota critica a falta de visitas à exposição dos 100 anos do Jazz em Portugal, que está patente até 25 de Novembro. “Merece ser visitada pelas escolas. Só temos uma escola inscrita e não é de música, surpreende-nos que as escolas de música e conservatórios não tenham interesse”, referiu.
O director do CCC explicou que o festival tem custos reais a rondar os 40 mil euros e falou da necessidade de captar parceiros estratégicos locais. O objectivo é mostrar que o Caldas Nice Jazz “é uma mais-valia pela programação e pela vinda às Caldas, durante dois fins-de-semana, de muitas pessoas da zona de Lisboa a Leiria”. Isto tem um impacto económico, especialmente em termos de refeições e alojamento, mas também noutras compras.
Outra ideia é ganhar uma marca oestina, ou seja, tornar-se o festival de jazz do Oeste, com apoios de todos os municípios. “Acreditamos que na região Oeste há um público crescente para este tipo de música”, afirmou.
Este ano a média rondou os 300 espectadores nos concertos internacionais e houve maior equilíbrio entre a sala mais vazia e a mais cheia. “Estamos na média nacional em sala de concertos de jazz, já temos um público fidelizado”, disse.
Queixou-se ainda da falta de apoio estatal. “O CCC faz um esforço, ao acondicionar verbas para se realizar este festival e é difícil para uma casa que não tem financiamento central”, referiu, acrescentando que a única vez que candidataram o festival a fundos nacionais foi-lhes negado, respondendo que o festival ficaria dependente do subsídio. “É ridículo, é um argumento que não pega”, diz Carlos Mota.
Acresce que os valores pagos à Sociedade Portuguesa de Autores são o equivalente ao preço do concerto mais caro, “o que é um bocadinho penoso”, concluiu Carlos Mota, salientando que, no entanto, é a favor dos direitos de autor.
Por agora, faz-se o que se pode, com o pouco que se tem e que são meios municipais. “Um festival quando não tem um potencial financeiro muito grande, tem que se pautar por critérios artísticos muito fortes”, explicou.
Com mais apoios, sejam eles públicos ou privados, será possível alargar o leque de opções. “Podíamos ser prime-time em termos nacionais”.
Uma das provas de que as coisas têm sido bem feitas, segundo Carlos Mota, é que “muitos dos músicos que actuaram nas Caldas noutras edições, hoje seria impossível trazê-los, por questões de custos, mas também de agenda”. Isto porque quando vieram eram ainda pouco conhecidos. Ou seja, o Caldas Nice Jazz começa a ser identificado como um festival onde actuam os novos talentos deste estilo.
Outra prova são “as centenas de propostas que recebemos todos os anos para virem tocar no Caldas Nice Jazz”.
A voz de Julia Biel e a melodia de Alfa Mist
A voz harmoniosa e o ritmo combinado de Julia Biel, a cantora, pianista e guitarrista britânica, encantou o público no grande auditório do CCC na sexta-feira, 2 de Novembro. Com originais como “Nobody Loves You Like I Do” ou “Emily”, sobre a sua sobrinha de seis anos, encantou a plateia com a sua voz que encheu a sala, ora mais grave, ora mais aguda.
Mas apresentou também a sua interpretação de “You go to my head”, de Billie Holiday.
Depois, levou o espectáculo a um outro nível, mais sentimental, quando apresentou a música que compôs depois de ter sido diagnosticado cancro à sua irmã, entretanto falecida. O tema chama-se “Hymn to the Unknown”. “Tentei procurar um sentido nas coisas”, explicou a artista, que havia chegado de Londres no próprio dia.
Durante o concerto, além de cantar, Julia Biel tocou piano e guitarra. “We watch the stars” e “Wasting Breath” foram as últimas duas músicas, com um solo do baterista. Depois, a artista foi presenteada e salientou o cartoon feito por Bruno Prates (cartoonista que colabora com a Gazeta das Caldas e que todos os anos desenha e oferece cartoons dos artistas internacionais do Caldas Nice Jazz). “Nunca tinha recebido um desenho meu, foi uma noite fantástica”, afirmou.
Depois regressou para um encore duplo, que terminou com “Always”.
Como referiu Carlos Mota, director do CCC, nas Caldas da Rainha há um festival onde se apresentam todos os anos rainhas do jazz e do soul.
No dia seguinte Alfa Mist encerrou a edição deste ano, apresentando também ele os seus originais. “7th Octobre”, “Breathe” e “Keep On”, foram alguns dos momentos altos da noite, tal como o arranjo que fez do tema “Say it”, de J-Dilla.
