
Ramalho Ortigão – 1875
Ramalho Ortigão [1836-1915] conhecia bem as Caldas da Rainha e por cá se passeou muitas vezes, principalmente na companhia de Rafael Bordalo Pinheiro, sobre cuja fábrica tanto escreveu, tentando sensibilizar quem de direito para as dificuldades vividas por esta.
Mas muito antes desse período Ramalho publicou um livro intitulado “Banhos das Caldas”, com prefácio do nosso tão bem conhecido Júlio César Machado. O livro data de 1875; este livro é valorizado pelas ilustrações de Emílio Pimentel, que às Caldas desenha 5, sendo uma delas a de uma vista geral captada a partir do chamado “Pinheiro da Rainha”.
Este livro dedicado às terras de águas mais famosas, tem, como não podia deixar de ser, um capítulo dedicado às Caldas da Rainha que ocupa cerca de dez páginas.
É do seguinte modo que Ramalho Ortigão escreve sobre as Caldas:
“A vila das Caldas da Rainha é a mais concorrida terra d’águas da província da Extremadura. Dista 56 kilómetros da estação do Carregado, na linha de Lisboa ao Entroncamento.
Do Carregado para as Caldas faz-se a viagem em carruagem ou na diligência que sai do Carregado duas vezes por dia, pela manhã e à noite, depois da chegada do comboio àquela estação. O percurso é de 6 a 7 horas, havendo no Cercal casa de pasto e estação de mudas de diligência.
O preço dos bilhetes da diligência é de 2$000 réis por ida e volta ou 1$200 por viagem sem retorno. A vila oferece aos que a frequentam as maiores comodidades que proporcionam em Portugal terras d’esta ordem.
Há os hotéis de José Paulo Rodrigues, do Padre Justino António Viana, as hospedarias da Mariana e do José Pires. Além d’isso quase todas as famílias da vila recebem hóspedes durante a estação balneária. O preço nos dois hotéis é de 800 a 1$000 réis; nas hospedarias de 600 a 800 réis; nas casas particulares, de 200 a 240 réis, sendo n’este último caso a comida paga em separado e mandada fazer pelos banhistas, que tomam para esse fim uma criada por 100 réis por dia. No excelente edifício do hospital há quartos bem mobilados e com bom serviço pelo preço diário de 600 a 1$000 réis.
A vila é em extremo pitoresco e tem lindíssimos subúrbios. Fica situada n’um extremo vale, recostada a um monte que olha para o poente e de cuja elevação se desfruta um panorama de sete léguas de extensão, abrangendo o mar, as Berlengas, o farol de Peniche, o porto de S. Martinho, d’onde parte um caminho-de-ferro americano até à marinha Grande, as velhas muralhas e Óbidos, a serra da Roliça, onde em 1808 se deu a sangrenta batalha de 7 de Agosto.
Há dois passeios lindíssimos: o da Copa, onde os doentes passeiam ordinariamente as águas à sombra de velhos plátanos e faias seculares, e o da Mata, que é ao fim da tarde o lugar aprazado ao encontro de todos os banhistas. A Mata fica na maior elevação da vila. O ponto de vista é encantador; as aléas estão bem riscadas por entre as árvores; há bancos em todos os recantos; grandes massas de vegetação; sombra espessa e tranquila. Muitas famílias de Lisboa, muitas senhoras espanholas, habitam a vila durante a estação balneária. A moda casa o frémito dos leques e a palpitação dos espartilhos com o ramalhar dos choupos. O perfume artificial das violetas de parma com qeu se perfuma a renda das mantilhas sobreleva ao acre aroma selvagem dos rosmaninhos.” […]
Por aqui ficamos: quem quiser saber mais, que leia o livro… A primeira edição saída do prelo em 1875 é da responsabilidade da Livraria Universal de Magalhães e Moniz Editores, localizada no Largo dos Loyos N.ºs 12 e 14, em Lisboa.
Isabel Castanheira