
“Processo de Camilo”, o novo livro do autor caldense Carlos Querido, foi apresentado no sábado, 14 de Abril, na zona exterior do Posto de Turismo. A obra resulta de uma investigação que o juiz desembargador fez destinada a uma palestra sobre o processo mais famoso do Tribunal da Relação do Porto, onde trabalha. Trata-se do processo de Camilo Castelo Branco, que esteve preso mais de um ano por adultério dado que se perdeu de amores por Ana Plácido, em 1859.
“É um texto pequeno, que demora 45 minutos a ler, só que tem 49 notas de rodapé que correspondem à investigação”, especificou Carlos Querido, acrescentando que partindo do processo do tribunal, era interessante contar a história de Camilo e de Ana Plácido, casada com Manuel Alves. “Ela era uma mulher que desafiava as convenções do seu tempo, que vinha para as ruas do Porto a fumar charuto e tinha por referência a escritora parisiense George Sand, e que se apaixonou pelo escritor”, referiu Carlos Querido.
Já na época se questionava se as pessoas deveriam ou não ser punidas por crimes de amor.
Antes de ser preso, Camilo fugiu para Amarante, tendo pensado em suicidar-se, atirando-se de uma ponte. Só que a prisão era inevitável. No início de ter sido encarcerado, o escritor foi maltratado pela opinião pública portuense dado que as pessoas tomaram partido pelo marido traído. Por outro lado, cedo se percebeu que Camilo tinha um estatuto diferente. Foi visitado pelo rei duas vezes e podia sair do presídio para almoçar com os amigos. Até tinha um cão, com quem ia a todo o lado. Só ao fim do dia é que se vinha embora, com receio de ficar preso, como o dono.
“Ele era tratado como um príncipe”, disse Carlos Querido, acrescentando que um dos seus companheiros de cárcere era o famoso salteador Zé do Telhado, a quem o escritor acabou por arranjar advogado.
Camilo Castelo Branco viveu sempre com dificuldades económicas, algo que se encontra expresso na correspondência que troca com os amigos. Apesar de tudo escrevia com “uma enorme limpidez”, referiu o autor caldense, dando ainda a conhecer que lhe bastaram 15 dias na cadeia para escrever o romance “Amor de Perdição”.
Camilo acabou por ser julgado e na sentença, que data de 16 de Outubro de 1861, o júri acabou por absolver o casal de enamorados. Camilo, no entanto, volta a surpreender pois não estava preparado para deixar a cadeia, “devido aos muitos privilégios que tinha”, disse Carlos Querido. Vindo para o exterior, voltaria à vida de misérias, das habituais dificuldades económicas.
A Capela de S. Sebastião foi a sede do “Abysmo nos arredores de Imaginário” na manhã do dia 14 de Abril. O espaço acolheu uma feira do livro e a apresentação do Festival Fólio pela sua diretora, Celeste Afonso. No local esteve exposta a série de banheiras que Mário Reis criou para a colecção da Gazeta das Caldas subordinada ao tema das termas locais.