Série de televisão aborda 16 de Março nas Caldas

0
568
Silva Carvalho esteve com José Ruy no quartel caldense recordando o acontecido

António-Pedro Vasconcelos vai apresentar uma série documental sobre o 25 de Abril, onde aborda o 16 de Março. O consultor será José Ruy, autor que já retratou o “Golpe das Caldas” em banda desenhada

“Como foi possível, em 16 horas, acabar com um regime que tinha durado 48 anos?” Foi a partir desta interrogação que António-Pedro Vasconcelos se propôs a contar numa série de seis episódios, designada “A Conspiração”, tudo o que esteve por trás da revolução dos cravos e que conta com o testemunho de protagonistas que prepararam a sublevação militar ao longo de nove meses. Inclui-se também o “Golpe das Caldas”, tentativa de derrube do regime que falhou.

José Ruy, o autor da BD sobre as Caldas da Rainha e sobre o 16 de Março vai ser consultor no novo filme

A 16 de março de 1974, uma coluna com 200 homens, convencidos que outros militares os acompanhavam, pretendia derrubar o regime. Foram intercetados pelas forças do governo e os responsáveis militares presos, algo que acabou por contribuir para o acelerar do processo revolucionário que se encontrava em curso. “Há muita coisa em livro mas quase nada em documentário”, afirmou o realizador, que apresentou a sugestão de realizar a série histórica, projeto que foi aceite pela RTP.
“A maioria das pessoas, quando pensa na revolução, só se lembra da chegada de Salgueiro Maia ao Terreiro do Paço ou a dirigir-se para o Largo do Carmo para pedir a rendição”, acrescentou o autor, que considera que não há filmes sobre o 25 de Abril que expliquem o que realmente aconteceu durante a preparação do golpe.
A série será exibida pela RTP1 no próximo ano, quando passam 48 anos de um regime que chegou ao fim por ação militar.

A saída da coluna, as reuniões clandestinas e as difíceis comunicações numa época sem telemóveis

A revolta dos capitães, as reuniões clandestinas e a tentativa de golpe no dia 16 de Março “acabaram por levar a um plano, dirigido por Otelo [Saraiva de Carvalho], onde tudo bateu certo, apesar de alguns momentos de risco e de perigo”, disse António-Pedro Vasconcelos, recordando que já filmou 90% dos depoimentos, tendo conseguido gravar com os participantes “nos próprios locais onde decorreram as reuniões secretas”.
Nas Caldas não se realizaram reuniões conspirativas, mas houve o 16 de Março que, apesar de ter sido “um golpe falhado e precipitado, permitiu perceber e corrigir erros no 25 de Abril”, comentou o realizador, natural de Leiria, que realizou, entre outros filmes, “O lugar do morto” (1984) ou “Os imortais” (2003). No entender do cineasta, Caldas conseguiu preservar a memória dos acontecimentos, ao contrário de Santarém, onde não há quase nada conservado sobre Abril”.
António-Pedro Vasconcelos, que vai voltar às Caldas para finalizar as filmagens sobre a Intentona, também contactou com a historiadora Joana Tornada, que defendeu tese de mestrado sobre o 16 de Março.
Para o filme, o realizador terá como consultor José Ruy, autor do livro de Banda Desenhada “Nascida das Águas”. Numa nova edição de 2018, o desenhador acrescentou um capítulo sobre o “Golpe das Caldas”. Um ano antes veio ao quartel para desenhar no local onde aconteceu parte da ação. “É com base em vinhetas existentes e noutras novas que vou desenhar que será feita a reconstituição dos acontecimentos”, disse o autor, decano da BD lusa. Ter sido escolhido como consultor desta série “é uma enorme honra”, disse José Ruy, que considera que o 16 de Março “foi uma porta que se abriu para a própria revolução”.
Segundo a vereadora da Cultura, Maria da Conceição Pereira, por causa do 16 de Março, a Câmara das Caldas da Rainha vai apoiar financeiramente este projeto televisivo. ■

Perfil

António-Pedro Vasconcelos
Realizador

É um dos autores do Cinema Novo Português, com o filme “Perdido por Cem”, de 1973. Foi responsável por sucessos como “O Lugar do Morto”, em 1984, e “Jaime”, de 1999. Este último obteve distinções nacionais e internacionais.
Os seus últimos filmes foram “Os Imortais”, de 2003, “Call Girl”, de 2007 e “A Bela e o Paparazzo” de 2010. O realizador mal pode esperar que o deixem voltar às filmagens para se dedicar à nova série, encomendada pela RTP e quer contar com detalhe como se preparou a revolução do 25 de Abril de 1974. ■