Tese de mestrado aborda a importância da arte contemporânea nos espaços públicos

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2015-07-16 008 copyUm olhar pormenorizado sobre as instituições portuguesas ligadas à arte contemporânea e a sua importância para a criação de espaços públicos é o que nos oferece o livro que resultou da tese de Mestrado de Isabel Xavier, que foi apresentado a 16 de Julho no museu José Malhoa.
Com o título “Criar Espaço Público para o Espaço Público” (Ensaio sobre as Instituições de Artes Contemporâneas em Portugal), a obra nasce do Mestrado em Gestão Cultural, que realizou na ESAD, e estuda a forma como estas instituições contribuem para a esfera pública.

“Este livro explica que a existência de um espaço público numa cidade não resulta apenas de actos de arquitectura ou urbanismo, mas de uma prática de instituições que têm de ter os recursos e a visão de fazer com que as pessoas não estejam confinadas ao espaço privado”. As palavras foram proferidas por Rodrigo Silva, director da ESAD.CR, na apresentação do livro “Criar Espaço Público para o Espaço Público” (Ensaio sobre as Instituições de Artes Contemporâneas em Portugal), de Isabel Xavier.
Para o director da ESAD, o confinamento ao espaço privado “é muitas vezes o germe da despolitização, que abre campo aos piores afectos políticos, ou seja, o medo do outro, a incompreensão da autoridade, a desconfiança e a intolerância”.
“O espaço público é resultado de uma co-criação de pessoas que assumem  esse acto colectivo de se reunirem e trocarem ideias”, adiantou ainda Rodrigo Silva.
O director da ESAD, presidiu ao júri que avaliou a tese de mestrado e que, garantiu, a leu “de fio pavio”, tendo-a adorado o conteúdo. O responsável disse ter ficado estupefacto por ver que Isabel Xavier foi consultar uma série de autores, que nem sequer são da área em que esta lecciona há vários anos (História).
“O texto está também muito bem escrito, o que não é vulgar em algumas das nossas teses”, afirmou. Sobre o tema da dissertação, considerou que tinha tudo a ver com a ESAD. “Se tratar deste tema nas minhas aulas, certamente que este livro irá constar da bibliografia”, disse.
Rodrigo Silva aproveitou para dizer que nas Caldas se deve repensar as suas lógicas de ocupação e dinamização do espaço público. À vereadora da Cultura, que estava presente, sugeriu que fossem implementadas politicas activas de criação de espaço público, como, por exemplo, apoio à instalação de jovens artistas na cidade.

Analisar o papel das instituições de arte contemporânea

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Numa sessão onde estiveram mais de 100 pessoas, a apresentação coube a Luísa Arroz, coordenadora do Mestrado e orientadora da tese de Isabel Xavier, que assinalou o facto de se divulgar publicamente este trabalho.
Luísa Arroz contou que Isabel Xavier foi sua professora de História no ensino secundário, na escola Raul Proença. “É por isso uma relação de aprendizagem mútua”, referiu, apontando ainda outras ligações que mantém  com a autora da tese.
“Todos os alunos são um desafio, mas ter Isabel Xavier como aluna, que era a minha professora de História, foi um desafio ainda maior”, continuou.
Quanto ao trabalho, realçou que começou a ser feito em 2011, “numa altura em que tínhamos a percepção que algo estava a mudar”, na sequência da crise financeira americana.
Nessa altura, os responsáveis pelo Mestrado organizaram uma conferência na qual o presidente da Fundação de Serralves, Luís Braga da Cruz, apresentou “números assustadores, em que a partir de 2008 os números dos orçamentos e dos visitantes desciam a pique”.
O tema da investigação revelou-se, por isso, muito pertinente, “ao estudar e cartografar as instituições de artes contemporâneas, porque se anunciava o fim de um ciclo“.
É o período em que se extingue o Ministério da Cultura, que passa a Secretaria de Estado, e se apresentam cortes nos financiamentos “ameaçando um sector frágil, assim como as instituições e os seus actores e responsáveis, mas também os espectadores”.
Já era esperado que quando a tese estivesse finalizada, a situação das instituições já seria diferente.
“O que esta tese vem demonstrar é a importância desta ‘soft skill’ que é a criação de espaços públicos”, disse Luísa Arroz.

“É preciso criar espaço público para o espaço público”

O título da tese foi escolhido a partir de uma afirmação de João Fernandes que, referindo-se ao Museu Serralves, disse que “é preciso criar espaço público para o espaço público”, ou seja, tal como se explica no livro Isabel Xavier, as instituições culturais “podem desempenhar um papel de primeiro plano na criação de situações, experiências e atmosferas democráticas ou democratizantes”.
Agradecendo a todos os que estiveram presentes na apresentação, Isabel Xavier deixou o desejo de que o livro contribua com pistas para o esclarecimento de questões que se colocam nos próximos anos.
Segundo a professora e agora mestre, as entrevistas que contribuíram para a dissertação foram realizadas em Julho de 2012, e mesmo em poucos meses o que foi escrevendo ia alterando-se. “Foi na altura em que algumas fundações foram encerradas, uma das quais a Casa das Histórias, em Cascais”, explicou.
No entanto, o documento revela-se também importante para descortinar o futuro nesta área. O livro aborda questões como o final do contrato do Estado com a colecção Berardo em 2016, o que é “uma história que ainda está em suspenso”.
Foram entrevistados os gestores das instituições ligadas à arte contemporânea em Portugal, entre os quais os responsáveis da Fundação Serralves, do Museu Colecção Berardo, do Museu de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbekian e do Museu do Chiado. Foram colocadas questões sobre a forma como estes espaços são geridos, ou  como encaram a formação de públicos ou ainda que políticas de comunicação têm, entre muitas outras.
Comum a todos os que intervieram na apresentação foram os elogios a Isabel Xavier pela forma como colabora com as várias instituições da cidade. O director do museu Malhoa, Carlos Coutinho, também destacou que Isabel Xavier tem colaborado várias vezes com este espaço, tendo em 2010 comissariado uma exposição intitulada “As Caldas e a República”.

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