Uma noite de dança contemporânea no CCC

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Gazeta das Caldas

JOAOCARDOSOCCCA paixão pela dança voltou a juntar o Grupo Experimental de Dança das Caldas e a Escola Superior de Dança de Lisboa num só espectáculo, que decorreu no CCC, dia 28 de Fevereiro. No grande auditório, mais de 250 espectadores assistiram às criações de Joana Carlos e Marta Baptista e do jovem João Cardoso, recém-licenciado da Escola Superior de Dança. Numa noite que soube conjugar as técnicas da dança contemporânea e as artes performativas, subiram ao palco dez intérpretes, três dos quais caldenses.

Beatriz Dias e Mateus Mateus, alunos da Escola Vocacional de Dança das Caldas da Rainha (EVDCR) e estreantes no GED, protagonizaram o primeiro grande momento do espetáculo com a peça “Situs Inversus”, da autoria das duas coreógrafas caldenses. Num cenário que fazia recordar uma casa, com uma pequena poltrona e um cabide, e ao som de Beethoven, os dois bailarinos contaram uma história aberta a várias interpretações.
“A Joana e a Marta deram muita liberdade para a interpretação e espaço para sermos nós e o público a construir as personagens”, disse Beatriz Dias. Na sua perspectiva, o dueto representava um casal que “chega a casa e que discute, mas ao mesmo tempo não quer discutir, que ora estão em acordo como não”, como se de uma conversa se tratasse, e que acaba em discordância. Apesar da audiência não se ter apercebido, a bailarina lesionou-se no ombro durante a actuação e, agora de braço ao peito, vai necessitar de alguns dias para concluir o tratamento.
Depois de uma curta performance interpretada por três alunas da Escola Superior de Dança, que intercalou as duas exibições principais (e como aliás aconteceu por mais duas vezes), chegou a vez de João Cardoso apresentar “]Wall[ Stay Still, Stay Silent”, na companhia de mais quatro bailarinos – Rita Rosa, Susana Vieira, Victor Gomes e Diana Sábio – a última também ela caldense e ex-aluna da EVDCR. O criador e intérprete contou à Gazeta das Caldas que “os estados de tenacidade e de resiliência, assim como o drama de tentar chegar mais além aceitando, ao mesmo tempo, as fraquezas próprias do ser humano” foram os principais temas da sua criação. O artista fez questão de incorporar vários elementos que permitissem uma leitura mais compreensível da peça, como o texto, a respiração e muitos movimentos de saltos e corrida.
Esta foi a sua segunda vez no CCC (a primeira como coreógrafo) e João admitiu que é bastante diferente actuar na escola e num auditório como o do CCC, pois “aqui devo preocupar-me em fazer com que as pessoas que não são da área da dança a entendam, para que não seja tudo um bicho de sete cabeças”.
Ambas as directoras, tanto da EVDCR como da Escola Superior de Dança, sublinharam a importância dos protocolos de colaboração que unem as duas escolas. “Permitem que a Escola Superior de Dança se dê a conhecer e quem sabe cativar alunos da escola vocacional para o ensino superior e, ao mesmo tempo, dá oportunidade aos alunos de exporem trabalhos fora de portas e do seu espaço de conforto”, disse Vanda Nascimento.
Já Isabel Barreto chamou a atenção para os “anos difíceis” que o projecto GED tem enfrentado devido à falta de apoio financeiro, o que impede a contratação de coreógrafos. “Nos últimos tempos temos trabalhado com muita matéria prima dos próprios alunos”, esclareceu a directora caldense.
A opinião da audiência dividiu-se entre quem gostasse bastante do espectáculo e quem achasse que as actuações tiveram poucos elementos de dança contemporânea. Dulce Nunes, caldense e também da área da dança, disse à Gazeta das Caldas que veio “porque tinha curiosidade em conhecer o trabalho dos jovens coreógrafos”, destacando as duas últimas exibições, do João Cardoso e das alunas da Escola Superior de Dança, que tinha um caráter interpretativo bastante vincado. Já as professoras Rita Monteiro e Cristina Correia contaram que gostaram mais das duas peças principais porque “incorporavam mais a técnica da dança”.
O programa apresentou também fora de palco a exposição GEDx9, pequenas interpretações da EVDCR e da Escola Superior de Dança e ainda a actuação de cinco músicos do Conservatório das Caldas da Rainha.