Decorreu no sábado, 1 de março, no Armazém das Artes, em Alcobaça, o lançamento do catálogo da exposição José Aurélio — Uma Retrospetiva de Cerâmica.
O auditório do espaço esteve composto para assistir à sessão onde além do artista, participou a gestora do espaço e filha do autor, Maria Aurélio, o curador da mostra Alberto Guerreiro, e os caldenses José Luís de Almeida Silva e a investigadora, Helena Pinto.
“José Aurélio – Uma Retrospetiva de Cerâmica” é o primeiro catálogo do reinício da atividade do Armazém das Artes que pretende dar continuidade à atividade editorial. Alberto Guerreiro há muito que tentava convencer José Aurélio a regressar à cerâmica. “Foi um regresso duplo pois trabalhámos as suas memórias, relativas ao início na cerâmica nos anos 50, até à atualidade pois ele voltou a pôr as mãos no barro para fazer os pratos de guerra”, disse o curador, acrescentando que os catálogos “são raros, apesar de fundamentais para memória futura”.
Para o investigador, este foi um ano especial para Alcobaça “onde a cerâmica esteve em foco a nível nacional e internacional”. Alberto Guerreiro diz que vão continuar os projetos com José Aurélio que “é também um grande humanista”. O curador recordou que esta é apenas uma retrospetiva pois “há outras para vir e há ainda peças por encontrar”.
José Luís Almeida Silva deu nota que é amigo e admirador de José Aurélio e foi nessa senda que quis deixar o seu testemunho. Para o caldense – que conhece o setor cerâmico a nível nacional e internacional – foi importante marcar presença neste momento, “50 anos depois. De José Aurélio acompanhava as atividades culturais nas Caldas e, posteriormente , quando esteve na Câmara de Óbidos”. Salientou ainda que o alcobacense também esteve na luta anti-nuclear e a favor da ecologia com a Gazeta das Caldas, nos anos 70 do século passado, tendo inclusivamente criado uma coleção medalhística.
O convidado ainda salientou a sua vertente de “arquiteto de espaços”. Na sua opinião “o que fez na Galeria Ogiva, na sua casa em Óbidos e posteriormente no Armazém das Artes “é surpreendente”.
Já sobre a coleção de peças que Aurélio fez enquanto laborou na Secla (entre 1958 e 1966) “ainda hoje mantêm a contemporaneidade e são representativos do melhor que se fez na cerâmica portuguesa dos últimos anos”. O alcobacense foi contratado pela empresa caldense para realizar consultoria artística do Estúdio Secla.
A investigadora Helena Pinto, que participou na sessão de forma mediada pois encontrava-se na ilha Terceira, nos Açores, destacou que esta primeira retrospetiva, um lado encerra um ciclo, mas por outro “abre a possibilidade de novas mostras que permitam a continuação do estudo da cerâmica deste autor”.
A convidada deixou também palavras de apreço ao artista, pelo seu percurso autoral. “Aurélio tem uma obra extraordinária e que abriu caminhos na cerâmica escultórica em Portugal”. Para a investigadora “somos nós que temos que agradecer a José Aurélio por ser a pessoa que é, por ter criado a sua obra e que o torna o maior escultor e artista português”.
José Aurélio não se arrepende de ter deixado a cerâmica para se dedicar à escultura noutros materiais. E recorda que deixou a cerâmica por esta ser “ciosa” dos seus segredos e de se perderem muitas peças no processo. De qualquer modo, contou que gostou de regressar ao trabalho com o barro sobretudo porque o fez tendo em conta valores humanistas, pois fê-lo em nome da Paz.
Seguiu-se um convívio com os artistas e a finissage de várias exposições que estiveram patentes nos últimos meses naquele espaço relativas à cerâmica, à companhia S.A. Marionetas e com Joaquim Vieira Natividade. Houve ainda um leilão dos pratos contemporâneos criados por artistas convidados no contexto da exposição 45/24 — Pratos da Guerra, Pratos de Paz e que foram ana+betânia, José Aurélio, Liliana Sousa, Paulo Óscar, Sofia Areal, Thierry Ferreira, Virgínia Fróis, Conceição Cabral e Wilson Esperança.
O Armazém das Artes voltará a reabrir a 21 de março, dia em que vai celebrar os 18 anos de existência e os dois anos de reabertura às atividades culturais e que marcarão um novo ciclo de atividades.