É um folheto de aspecto modesto e a identidade do autor suscita uma certa curiosidade: “Um amigo da sua Terra”. Tem por título “Vau de Óbidos” e a tipografia responsável pela sua edição foi a “Tipografia do Bem Público” de Germano da Silva, situada na Rua da Padaria, nr.º 48 – 1.º em Lisboa. A sua edição data de 1909.
Começa assim este pequeno livro:
“Esta freguesia está situada no concelho de Óbidos, comarca de Caldas da Rainha, e pertence ao patriarcado de Lisboa. O seu orago é Nossa Senhora da Piedade.”
Passamos a transcrever o texto que nos relata o nascimento deste lugar:
“D. Afonso Henriques, tomando a Vila de Óbidos, foi batendo os moiros de encontro ao oceano e encurralou-os entre este e a lagoa, pelo que tiveram de render-se. Como não houvesse vinho, disse D. Henrique: Bebamos água, eis as adegas de el-rei. D’aqui provém o nome de Adegas de El-Rei dado a um casal n’este lugar, onde há três nascentes de água.
D. Afonso foi seguindo e encontrou na margem da lagoa uma oficina de ferreiros e serralheiros, de que ainda se encontram vestígios onde hoje existe um casal com uma azenha, denominado Ferraria. D’aqui, como a lagoa n’aquele tempo chegava a Óbidos, conduziam os moiros pela água as suas ferramentas.
As tropas portuguesas foram marchando e viram uma moira (filha, segundo dizem, do rei moiro de Óbidos) no sítio que ficou sendo conhecido pelo nome de Bicada da Moira. Esta moira, tendo fugido quando avistou as forças portuguesas, foi depois aprisionada no lugar a que deu o nome de Cativa. Em seguida D. Afonso dirigiu-se para Óbidos com os seus soldados.
O ponto mais alto da freguesia é o Cabeço da Lapinha, onde hoje se encontra um ponto geodésico. D’ele se descobre um lindo e extenso panorama, avistando-se Caldas da Rainha, Peniche, Foz do Arelho, Serra do Bouro, Nadadouro, Sobral da Lagoa, Vau, Serra de El- Rei. De dia vêem-se as embarcações que passam pelo oceano, e centenares de bateiras da lagoa, onde trinta e quatro mulheres apanham berbigões, ameijoas e outros mariscos, como o apreciado camarão. De noite é linda a iluminação de Peniche, de Caldas da Rainha, de Óbidos, junto à estação de caminho-de-ferro, e o farol das Berlengas.”
Mas melhor que ler este livrinho descritivo das histórias e belezas desta zona, é passear pelo Vau de Óbidos, que ainda conserva uma natureza pura não contaminada pelo reboliço e pela poluição que nos rodeia. Bom passeio!