World Press Cartoon não teve gala nem a presença de premiados

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O desenho vencedor relativo à saída de Angela Merkel

Trabalhos da 17ª edição do WPC estão em exposição no CCC, mas não houve a habitual festa.Organização espera poder retomar formato original em 2023

A caricatura de Angela Merkel, algo desalentada, da autoria do argentino Matias Montedoro, foi o trabalho vencedor desta edição do World Press Cartoon (WPC), que este ano se realiza em modelo low cost: sem gala e premiados. O desenho foi, em simultâneo, considerado o melhor na categoria de caricatura.
A proposta vencedora do Cartoon Editorial foi a do colombiano Jaime Poveda. Designa-se “Terror” e refere-se aos talibans que voltaram a assumir o poder e a não respeitar os direitos das mulheres.
O primeiro lugar do Gag Cartoon é a proposta “TV”, desenhada pelo cubano Michele Moro Gomez.
Os trabalhos vencedores foram anunciados, a 28 de maio, no CCC, aquando da abertura da exposição do WPC. Sem a habitual gala, devido a cortes orçamentais, a inauguração centrou-se na exposição que teve como protagonistas assuntos como as saídas de Angela Merkel e de Donald Trump da cena política, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, o vírus da covid-19 e o drama criado pelo regresso dos talibã a Cabul.
Os multimilionários das empresas tecnológicas norte-americanas também foram alvos de crítica pelos cartoonistas selecionados para esta exposição, na qual constam cerca de 300 trabalhos.
O diretor do salão internacional afirmou estar “contente por poder fazer o evento”, mas “triste, pois há uma parte que foi amputada”. António referiu-se à falta da gala que dá o ambiente festivo ao evento e também à impossibilidade de ter nas Caldas os autores premiados.
“Mantém-se a qualidade na escolha dos desenhos e espero poder encontrar-vos para o ano na gala do costume”, acrescentou o cartoonista do Expresso.
Por sua vez, o presidente da Câmara, Vítor Marques, justificou que o WPC foi alvo de um corte financeiro, assim como outras iniciativas e apoios a entidades da cidade, por causa dos tempos que se vivem, ensombrados pela covid-19 e pela guerra. “Foi preciso restabelecer equilíbrios financeiros”, afirmou o autarca. O chefe do executivo municipal ainda salientou que o WPC é um evento “em que os caldenses se revêem” e, por isso, voltaram “a apoiá-lo num formato diferente”.
O autarca salientou a qualidade dos trabalhos selecionados, tendo destacado o trabalhos dos caricaturistas portugueses.
Dois deles receberam menções honrosas. Foram os casos de Cristina Sampaio, na Caricatura com o trabalho sobre Mark Zuckerber.
Por seu lado, André Carrilho que recebeu uma menção honrosa na categoria de de Cartoon Editorial com o seu trabalho “Guerra Civil Americana”.
“É uma edição que tem uma parte importante amputada: a gala, a presença dos autores e a difusão na Euronews perderam-se….”, lamentou António, após a inauguração da exposição que manteve os troféus e o catálogo. “De qualquer modo, é óbvio que nos estão a faltar peças.Perdemos o impacto internacional”, acrescentou o diretor do certame. António afirmou também que a organização gostaria de poder retomar, no próximo ano, a gala no CCC, na qual são dados a conhecer os vencedores dos prémios.
O responsável também pretende continuar com a iniciativa da caricatura na rua, no contacto direto com os caldenses que, normalmente, acontece na Rua das Montras, na manhã do dia em que decorria a festa de entrega de prémios.
“Sempre foram um sucesso, o que não houve este ano foram meios para fazer!”, referiu o diretor, que espera que seja possível voltar ao formato original pois, caso contrário, “o Salão começa a definhar e a perder gás.” “E isso é algo que não desejaria”, afirmou.
O ceramista e caricaturista Carlos Constantino gostou das propostas deste ano. “Estão presentes muito bons trabalhos. Achei piada ao turismo espacial e gosto das propostas mais trabalhadas”, disse o responsável pela modelação de bustos como os de Bordalo Pinheiro e de Herculano Elias.
Também o modelador José Carlos Almeida marcou presença na inauguração da mostra. “Está execelente e surpreende-nos todos os anos”, disse o artista que é da mesma opinião que Carlos Constantino: “Caldas da Rainha está ligada ao humor desde o Bordallo”.
No CCC estão expostos 300 desenhos que foram selecionados por um júri internacional que reuniu nas Caldas em fevereiro passado. António, a jornalista francesa Catherine André, diretor de arte luso-brasileiro Marco Grieco e os cartoonistas Pierre Kroll, da Bélgica e Jaume Capdevila, de Espanha escolheram trabalhos de 181 cartoonistas oriundos de setenta países. ■

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Município e nova direção do Centro Cultural decidirão, em conjunto, como será a 18ª edição do World Press Cartoon

O WPC realiza-se nas Caldas da Rainha desde 2017, depois de ter iniciado em Sintra e se ter realizado durante alguns anos também em Cascais.
“Creio que nos identificamos com a iniciativa por causa da arte da caricatura e dos jornais que também temos nas Caldas”, salienta Vítor Marques, assumindo, todavia, que o apoio ao WPC “tem que ser visto como um investimento e, no futuro, vai continuar a ser avaliado”.
“Para o próximo ano, esperamos já ter uma nova direção da gestão do espaço do CCC e, em conjunto, chegaremos à melhor conclusão sobre o que vamos fazer, sobre qual é o modelo mais adequado”, frisou o autarca.
“Não somos disruptivos, somos de mudar mas não pretendemos mudar tudo. Queremos seguir um caminho e uma visão diferente”, afirmou Vítor Marques, que considera que “o caminho faz-se caminhando”, lamentando que esta última edição não tivesse autores portugueses entre os premiados.
Ainda sobre o modelo original do WPC consideramos que “este também deverá ser revisto, ter um up-grade” ou seja “também deve ser atualizado para ter mais garra e mais chama”. “Não tem que ser igual aos outros anos anteriores nem a este último”, referiu o autarca, que ainda explicou que o orçamento deste ano rondou os 140 mil euros, após ter sofrido um corte de 100 mil euros e que implicou o corte da realização da gala e da vinda dos autores premiados, algo que era habitual nas galas, realizadas desde 2017. ■