A icónica personagem bordaliana está a celebrar 150 anos e a primeira grande mostra acontece nas Caldas, no CCC
“Zé Povinho 1875–2025” abriu portas a 28 de junho, na Galeria do CCC, numa participada inauguração que uniu convivas caldenses e nacionais para celebrar os 150 anos desta figura satírica que representa o povo luso.
A vereadora da Cultura, Conceição Henriques referiu que Rafael Bordalo Pinheiro continua a ser uma referência não só na cerâmica, como também no desenho humorístico. “Zé Povinho é assim “uma figura de crítica e de resistência numa sociedade sujeita a largos períodos de censura e cuja dimensão popular e aparentemente simplista consegue contornar o poder instituído”, disse a autarca. Esta ainda salientou que, “num tempo onde se reclama pôr limites ao humor é preciso saber estar no seu lado mais incómodo, mais pungente e mais crítico”.
Deu ainda a conhecer que esta grande mostra integra a iniciativa Salão Bordallo da qual fazem parte uma exposição da Biblioteca Municipal, exposições nos três agrupamentos escolares caldenses e um programa de conversas sobre o humor e o Zé Povinho.
João Alpuim Botelho, diretor do Museu Bordalo, agradeceu ao curador da exposição, Jorge Silva o facto de ter feito a ponte entre o museu e as Caldas. A capital e a cidade termal são de facto “as cidades do Bordalo e têm todas as vantagens em se unir na divulgação da sua obra e do Zé Povinho”.
Sempre que olha para a figura, Alpuim Botelho fica espantado “com a sua genialidade”. E conta que se acha que Zé Povinho é muito português “mas nós, no museu, recebemos visitantes de todo o mundo que nos dão a conhecer que Zé Povinho também é alemão, brasileiro ou americano”.
No fundo, a figura é universal pois “representa a história da comédia humana, o que faz dela uma figura genial”. O museu lisboeta irá também expôr sobre esta figura em outubro. Segundo o diretor, Zé Povinho traz consigo também a ideia “de que uma boa gargalhada pode desmascarar fanatismos”.
Jorge Silva sublinhou o facto que “os grandes cartoonistas e caricaturistas dos nossos tempos continuarem a desenhá-lo da mesma maneira”, disse o curador da mostra. Apesar de, por vezes, aparecer sem chapéu ou ainda com o barrete frígio Zé Povinho continua a ser retratado “com a sua barba passa piolho, aquelas calças e uns sapatões que são uma espécie de marca registada da personagem”.
O designer defende que Zé Povinho é “universal” e não há praticamente um cartoonista que não tenha feito o seu desenho. O curador referiu ainda os dois suplementos que Gazeta das Caldas dedicou a Zé Povinho no seu centenário e quando celebrou os seus 135 anos.
“Na mostra há Zés desde a sua criação até à atualidade”, disse Jorge Silva. Acrescentou ainda que a exposição oferece Zé Povinhos monárquicos, de extrema direita, de extrema esquerda e até algo pornográficos. É pois uma figura que “é sempre anti-sistema. Quem quer que esteja no Governo “leva!”., rematou.
O edil caldense, Vítor Marques rematou as intervenções recordando o caráter universal desta personagem “que nos alerta para a realidade”.
A mostra tem vários núcleos, começa pelas primeiras obras do seu criador Bordalo Pinheiro. Há também desenhos que já têm “toque” de Manuel Gustavo, filho de Bordalo. A exposição é povoada por vários Zés em tamanho natural,alguns visíveis a partir do foyer. Presentes estão as propostas de Stuart Carvalhais, José Vilhena, J. Abel Manta, André Carrilho, Cristina Sampaio, António ou Mantraste. Além dos desenhos, há também peças em cerâmica. Podem ser vistas obras do Museu da Presidência da República, o Museu Bordalo Pinheiro, o Museu da Cerâmica, e os colecionadores Isabel Castanheira, Joaquim Saloio, Norberto Correia, Biblioteca Silva, Luís Vilhena e família João Abel Manta. A mostra está patente no CCC até ao final de setembro.