Alípio Matos, coordenador técnico do futsal do Sport Lisboa e Benfica esteve nas Caldas no dia 28 de Outubro para falar da formação desportiva no contexto social e competitivo a cerca de 70 estudantes dos três anos do curso profissional de Apoio à Gestão Desportiva da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro.
“Em termos sociais, o futsal é talvez das modalidades em que mais carência encontramos nos jovens” notou Alípio Matos, que actualmente coordena o futsal do Benfica. Tendo em conta esse facto, no Benfica todos os escalões de andebol, basquetebol, voleibol e hóquei em patins pagam, a única modalidade que não é paga é o futsal.
Com mais de 30 anos dedicados à modalidade, o primeiro treinador de Ricardinho no Benfica, salientou a evolução da modalidade e notou que actualmente existem 50 mil praticantes federados e cerca de 20 mil no desporto escolar, que fazem do futsal a modalidade mais praticada a seguir ao futebol 11.
No Benfica treinam jovens desde os 11 anos e quando decidem ir buscar um atleta, procuram saber o contexto socio-económico em que vive, para dessa forma “minorizar as dificuldades”. Nesse sentido, alimentação e percurso académico são focos de atenção.
Já na vertente desportiva, há um modelo de jogo nos seniores que é transversal a todos os escalões, ainda que com menos intensidade nos sub11 e sub13, onde a preocupação é a relação com a bola. “Isto cria uma identidade de jogo”, assegurou Alípio Matos, antes de alertar para o facto de haver muito poucos treinadores a querer treinar a formação, “porque os dirigentes também não valorizam”.
Alípio Matos ressalvou que “na formação do Benfica não se coloca pressão para o objectivo prioritário ser ganhar” e explicou como é que o clube inverteu a falta de jogadores nas selecções nacionais: “escolhemos os jogadores de vários sítios, demos-lhe casa, alimentação, acesso à escola e acompanhamento escolar. Depois, para os jovens de 16 e 17 anos criámos um grupo de elite, que é o grupo de jogadores que nos parece que estão mais perto de poderem ser jogadores do Benfica. Esses têm acesso ao LAB, onde fazem um trabalho específico individualizado com um fisiologista. Têm também acesso a nutricionista e psicólogo”.
Como coordenador tem de conhecer todos os jogadores. “Faço reuniões semanais individuais com todos os treinadores de todos os escalões, depois de analisar os jogos de cada equipa”, esclareceu.
Todas as informações sobre um jogador são registadas na sua ficha técnica.
A parte mais dolorosa do trabalho é decidir quem fica e quem sai. “Tem de ser uma decisão tomada de consciência, com uma base, uma razão, que está na ficha técnica do atleta”, explicou.
Na óptica de Alípio Matos, “o treinador tem que ser um segundo pai, compreender os miúdos, porque não há dois jovens iguais”.
Ficou ainda em aberto a possibilidade de os alunos do curso de Apoio à Gestão Desportiva estagiarem no Benfica.
ESCOLA DE MODALIDADES: PROSPECÇÃO A TODOS OS NÍVEIS
Já Pedro Jerónimo, director do projecto Escolas de Modalidade SLB, apresentou esta iniciativa aos alunos. Este ex-atleta do Benfica e da selecção nacional de andebol, explicou que além das cinco modalidades já referenciadas, a escola abrange também o ténis de mesa, o ténis e o padel.
“O objectivo principal, além da competição e de identificar futuros valores, é a formação desportiva”, disse.
O projecto inicial era mais abrangente, mas numa óptica de lançamento escolheram cinco modalides de pavilhão, porque são as cinco que o Benfica tem mais desenvolvidas e porque “é mais fácil a sua implementação local”.
Para as Caldas da Rainha pretende-se uma escola de futsal (95% das escolas SLB já abertas são de futsal e não há nenhuma de andebol ainda aberta),
“Para ser atleta de alto rendimento tem que se abdicar de muitas coisas do ponto de vista social”, assegurou Pedro Jerónimo.
Nas Caldas esteve ainda o ala brasileiro de 27 anos, Jefferson, que cumpre o terceiro ano ao serviço do SLBenfica, que revelou que quando acabar a carreira como jogador pretende manter-se no futsal, na vertente da formação.
Manuel Nunes, presidente da AFLeiria, salientou a importância da presença de representantes de um clube do topo nacional que assim puderam partilhar a sua experiência com alunos que serão profissionais do desporto.
FUTSAL E PADEL NAS CALDAS
A Casa do Benfica atravessa um período de reestrutruração, no momento em que está a ser implementada a escola de modalidades. Este ano avança com o Futsal (de formação) e com o Padel (num projecto pioneiro a nível nacional), mas há mais projectos a serem preparados.
A equipa sénior foi extinguida por um ano, nos juniores e juvenis saíram dez atletas. Conta actualmente com cerca de 40 atletas entre escolinhas, iniciados, juvenis e juniores. “Queremos melhorar a formação local e torná-la abrangente à formação nacional”,
Para o futsal (dos 5 aos 15 anos) a inscrição custa 50 euros que inclui equipamento, exame médico, seguro à parte do da AFLeiria, cartão de atleta das escolas do Benfica e de quotas de sócio da Casa do Benfica. A mensalidade era 15 euros, passou para 18 euros, sendo que “é adaptada a cada zona do país”. Há facilidade da pagamento na inscrição e bolsas de apoio que ajudam a pagar a mensalidade.
A situação social e académica dos atletas também não será descurada.
“Este é um projecto de inclusão e não de exclusão”, garante Hugo Feliciano, que afiança ainda que a escola de modalidade “é independente da direcção da Casa do Benfica”.
As equipas técnicas estão praticamente definidas: nas escolinhas Luís Rosa ‘Pelé’ e nos iniciados Nuno Jerónimo. Nos juvenis Nélson Barros (o único que transita do último ano) e nos juniores Gabriel Fernandes.
Todas irão aplicar o mesmo modelo de jogo, para possibilitar a subida dos atletas mais novos aos escalões acima e para incutir uma identidade.
Os treinadores terão acompanhamento do Benfica. Outro benefício é que as escolas de modalidades participam em torneios entre si e por regiões e são observadas regularmente pelo scouting do clube.
Pelo que Hugo Feliciano convida todos a experimentar, sem compromisso. “Não excluímos ninguém”, afirmou.
SETAS AVANÇAM ESTE MÊS
A equipa de setas também avança este mês, mas não faz parte da escola de modalidades.
A Casa do Benfica de Caldas irá receber estagiários da Escola Secundária Bordalo Pinheiro e do Colégio Rainha D. Leonor. Por outro lado pretende “abrir as portas do Benfica” realizando uma prospecção de atletas e recursos humanos.
Outra das metas é a dinamização da sede “para todas as faixas etárias e não só nos dias de jogos”.