Caldas da Rainha tem 12 atletas no mundial de Kempo

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Os 12 atletas que vão à Tunísia representar a seleção nacional A no Campeonato do Mundo | Joel Ribeiro

A escola de Lohan Tao Kempo das Caldas da Rainha tem sido pródiga na formação de campeões nacionais e internacionais, mas nunca antes tinha colocado 12 atletas em simultâneo na seleção nacional A para um Campeonato do Mundo. Prova realiza-se em Hammamet, na Tunísia, em Abril de 2021

A Academia de Artes Marciais de Caldas da Rainha, escola de Lohan Tao Kempo, tem 12 atletas convocados para a Seleção Nacional A que vai competir em abril do próximo ano no Campeonato do Mundo da modalidade em Hammamet, na Tunísia.
Caldas “sempre teve muitos atletas nas seleções, mas tantos ao mesmo tempo é inédito”, realça Bruno Rebelo, treinador dos atletas. O técnico destaca que o feito é ainda mais especial porque, em plena pandemia de covid-19, o número de competições e de atletas a competir na vertente tradicional foi maior, por se terem realizado online. “Eles competiram com 1000 atletas e todos estes 12 sagraram-se campeões do mundo”, sublinha.

Nunca a academia caldense tinha tido um número de atletas tão elevado na seleção nacional A

A convocatória destes atletas significa mais que a entrada no Campeonato do Mundo. “Durante 16 meses terão que cumprir mínimos, alguns vão para o alto rendimento já em janeiro e outros são candidatos a entrar em Setembro do próximo ano”, revela Bruno Rebelo.


Atletas querem títulos
Com 10 anos, Gabriel Queirós é o mais jovem deste lote de 12 lutadores. Iniciou-se no kempo com 5 anos, porque “gostava de artes marciais e queria entrar numa”. Experimentou o kempo em Alfeizerão. Em menos de um ano estava a ganhar provas.
“Praticar o kempo ajuda-me em tudo, dá-me experiência, concentração e melhora a minha condição física”, realça o jovem, que gosta de tudo na modalidade, incluindo estar em competição.

Atletas vão todos à competição à procura de títulos, mas também salientam o ambiente familiar e os benefícios da prática da arte marcial

Gabriel Queirós é um dos atletas que em janeiro irá integrar o alto rendimento, o que significa treinar cinco vezes por semana. “Já estou há muito tempo na Seleção Nacional e quero continuar. Gosto de ter objetivos e de ser muito bom no que faço”, sublinha.


Maria Cardoso Rebelo de 11 anos, é outra das “benjamins” do grupo de selecionados, mas isso não significa inexperiência. Aliás, a coleção da jovem atleta já acumula cerca de 200 títulos desde que se iniciou na modalidade, há seis anos. Descobriu o kempo em Leiria, mas foi nas Caldas que elevou a prática a outro nível. “Fiz muitos amigos aqui, comecei a gostar muito mais da modalidade e a esforçar-me ainda mais”, conta Maria Cardoso Rebelo. Tal como Gabriel Queirós, diz que a modalidade a ajuda a apurar a condição física e a concentração, “o que traz benefícios também na escola”.
A atleta chegou à seleção B em 2017. Agora a convocatória para a seleção A deixa-a orgulhosa, “porque me esforcei muito para estar aqui”, afirma, acrescentando que o kempo é algo que vai fazer durante toda a vida. Quanto ao próximo campeonato do Mundo, diz que participar é importante, “mas também gostava de ganhar”, dado que faz “um esforço muito grande”.
Mais experiente nestas andanças é Andreia Fialho, de 16 anos, que salienta a importância de treinar na academia com um técnico e um conjunto de atletas mais experientes. “Esforçamo-nos mais para os acompanhar e atingir os mesmos resultados, ou até melhor”, frisa. A atleta, que integra a Unidade de Apoio ao Alto Rendimento Escolar, na escola Bordalo Pinheiro, diz que o objetivo para a Tunísia é um pódio, “mas de preferência com o 1.º lugar, tanto na parte desportiva como na tradicional”.
Andreia Fialho realça, ainda, a importância que o kempo tem tido nesta fase da pandemia para quem o pratica. “Começámos a treinar condição física, de máscara, mal houve autorização da DGS, e foi importante estarmos juntos e a socializar, em vez de estarmos fechados em casa”, afirma.

Exigência é a receita de Bruno Rebelo para fabricar campeões

Das Caldas da Rainha tem saído um grande número de atletas com títulos nacionais e internacionais, num percurso que se iniciou há quase duas décadas na formação do kempo. No entanto, é preciso recuar mais para perceber a origem desta “máquina de fazer campeões”, que está no ex-campeão do mundo e agora treinador e grande desenvolvedor da modalidade, Bruno Rebelo.
À pergunta como surgem tantos campeões, responde: “talvez por eu ter sido campeão do mundo tantas vezes, por gostar de competir e da competição. Dou aulas por gosto e espero deles o mesmo”.
Bruno Rebelo refere que, para um atleta possa treinar com ele, há um grande processo de selecionamento. “Só dou treino a este grupo em particular, composto por graduados, atletas de seleção e outras que estão comigo há 15 ou 20 anos”. “Sou diretor técnico nacional e isso ocupa muito do meu tempo, todo o que tenho eles aproveitam-no bem e isso reflete-se nos resultados”, explica, acrescentando que esta se trata de uma “uma geração excecional”.
Bruno Rebelo acredita na máxima que, para ser melhor, é preciso trabalhar com os melhores. “Fiz por isso na minha carreira de atleta, fui para o estrangeiro treinar com os melhores para poder ser o que queria, o melhor da minha geração”. “Quero que eles tenham uma experiência ainda melhor do que a minha, estou sempre a tirar formações para os poder levar mais longe e eles fazem o mesmo”, sublinha.

Modalidade a crescer
O Lohan Tao Kempo é uma arte marcial em grande desenvolvimento em Portugal, a partir das Caldas da Rainha, onde fica a sede da Federação Portuguesa de Lohan Tao Kempo.
Na região, o clube chega a 700 atletas e utentes. Cerca de 150 diretamente no clube, com instalações nas Caldas da Rainha e noutros concelhos, como Óbidos. Os restantes através dos programas de promoção da atividade física com instituições de ensino especial e os agrupamentos de escolas Bordalo Pinheiro e de Óbidos.
No ano letivo que agora iniciou, a modalidade iria passar a abranger todas as escolas do concelho das Caldas da Rainha, projecto que ficou “congelado” devido à pandemia de covid-19.


Bruno Rebelo realça que a modalidade tem crescido muito, na ordem dos 300% nos últimos dois anos nas Caldas da Rainha e destaca o apoio que tem sido dado pelo presidente da autarquia, Tinta Ferreira.
Com instalações inauguradas recentemente na Zona Industrial, está já a ser preparado um projeto para construção de uma sede própria, com centro de alto rendimento que servirá para todo o desporto adaptado.

Bruno Rebelo é diretor técnico da Federação, diretor mundial do projeto olómpico e treina atletas de competição | Federação Portuguesa de Lohan Tao Kempo