Clube tem previstas eleições para março, que deverão ter mais do que uma lista. Miguel Silva, não quer renovar protocolo com a Felner Tennis Academy para devolver a escola de ténis ao clube
Miguel Silva é advogado, joga ténis pelos veteranos do Clube de Ténis das Caldas da Rainha (CTCR) e assume agora a candidatura às eleições do clube. A bandeira do seu programa é devolver a escola de ténis ao clube e promover o acesso à modalidade. Para tal, assume que não irá renovar o protocolo com a Felner Tennis Academy (FTA), uma decisão que pode ser polémica, mas para a qual afirma ter coragem.
O que leva o Miguel Silva a apresentar uma candidatura à presidência do CTCR?
Há cerca de dois anos, no final de uma Assembleia Geral de aprovação de Contas, reunimos um conjunto de sócios e estávamos convencidos que era necessária uma alternativa à atual direção. Percebemos que o clube precisava de um rejuvenescimento. Não avançámos porque entendíamos que o clube devia voltar a ter atividade desportiva, como consigna no artigo 3º dos seus estatutos, sob o risco de entrar num processo de envelhecimento que não lhe permitiria concorrer em matéria desportiva com outros clubes e outras modalidades. O clube concessionou a sua atividade desportiva a uma entidade privada, a FTA e, na altura, estava no início de uma das suas sucessivas renovações do protocolo. Por isso, caso nos candidatássemos e fôssemos eleitos, não teríamos condições de executar aquilo que era a principal bandeira.
O protocolo terminará no dia 30 de setembro de 2025, entendemos que, apesar de existir um interregno entre o final de março, altura das eleições, e o final de setembro, isso permitiria não só a FTA cumprir o seu contrato até o fim, e a nós preparar a época desportiva 2025-2026, pelo que decidimos avançar.
Temos um programa, que vamos publicitar aos sócios, às pessoas que queremos que trabalhem connosco na direção e com os quadros do clube. Se conseguirmos reunir estes requisitos, esta candidatura será formalizada, muito antes de serem marcadas as eleições.
Por outro lado, tenho uma experiência associativa que me permite não embarcar neste projeto como se fosse uma aventura, estou certo daquilo que quero fazer e das capacidades que tenho para fazer, juntamente com as pessoas que me acompanham. Passei por todos os órgãos sociais do Caldas SC, em épocas muito difíceis em que a própria viabilidade do clube estava posta em causa. Estou há cerca de 25 anos no Clube de Natação da Alcobaça, já fui diretor, agora sou assessor, e sou diretor dos Dragões do Oeste.
Tendo o clube um presidente histórico, avançará caso o atual presidente se recandidate?
Eu respeito muito a história das instituições e o CTCR cumprirá 70 anos no próximo dia 27 de março. Em 70 anos, julgo que são poucos os sócios que terão conhecido outro presidente que não o Sr. Ramiro Martins. Eu próprio não conheci outro. Ele não é o presidente dos presidentes, é “o presidente”. É credor e investidor de todo o respeito. Segundo o próprio me disse, em conversa que tive antes desta entrevista, a intenção dele era de não se candidatar, mas depois de ter conhecimento que uma das listas era liderada pelo Miguel Silva e tinha como bandeira a não renovação do protocolo com a FTA, fiquei convencido que essa sua predisposição poderia ser revertida. Se isso acontecer, nós nesta lista não desistiremos da candidatura. Faremos uma candidatura, obviamente respeitosa, mas não recuaremos.
No entanto, se chegarmos ao dia das eleições e percebermos que estas podem não ser verdadeiramente legais e democráticas, prefiro não avançar do que depois andar-me a arrastar nos tribunais a impugnar as eleições. Porque, se as eleições fossem hoje, na verdade não poderia haver eleições. Mas ainda há algum tempo, e como esta candidatura foi apresentada atempadamente, a mesa da Assembleia Geral terá um desafio que cumprirá, de forma a permitir umas eleições livres, legais e democráticas.
O slogan da candidatura é “Voltar a ser Clube”. O que significa, na prática, e o que tem que mudar?
Naturalmente o clube tem sido clube, mas não tem sido um clube na verdadeira aceção da palavra. Uma situação curiosa: a AT Leiria promove no fim dos campeonatos regionais uns vídeos e, na maioria das entrevistas que foram feitas aos atletas do CTCR, era feita uma pergunta muito simples, “nome e clube que representam?”, e os jovens atletas, tirando uma ou outra exceção, diziam que representavam a FTA. Isto é prova que o clube não está a ser clube. Há aqui uma confusão entre aquilo que é o prestador do serviço e o clube que representa. O voltar a ser clube é isso, é voltar a cumprir as suas regras estatutárias e voltar a promover diretamente a atividade desportiva.
Como planeia concretizar esse desígnio, considerando o protocolo atual com a FTA?
Passa por dois passos importantes. O primeiro é a não renovação do protocolo existente. Quando o contrato terminar, o clube terá que criar condições internas para promover a prática do ténis. Vamos ter um diretor geral, um diretor técnico, um diretor de formação e um responsável administrativo, para além de um quadro de treinadores proporcional ao número de atletas que se inscrevam na escola.
Aproveitando a pergunta, porque essa questão já se colocou, não quero deixar qualquer tipo de dúvida que o diretor técnico da FTA, Filipe Rebelo, que é o meu mentor e uma das pessoas que mais admiro no ténis, terá as portas do clube abertas para fazer, no clube, o que faz na FTA. O mesmo relativamente ao Miguel Moreira, que é o coordenador da formação. Para completar, há um conjunto de pessoas ligadas ao ténis que, se forem convidadas para trabalhar no clube, certamente não a enjeitarão.
Considera que o protocolo atual não serve os interesses do clube?
O protocolo, durante os anos em que vigorou, permitiu ao clube chegar onde chegou hoje, e permitiu aos atletas das Caldas chegarem onde chegaram. O protocolo cumpriu, provavelmente, todos os seus objetivos. O que eu acho é que, passados 15 anos e considerando a realidade atual, o protocolo, a manter-se no futuro, será mais prejudicial ao clube do que benéfico. A questão é daqui para a frente, deve ser o clube a assumir a prática desportiva.
Não há espaço para uma possível negociação do protocolo?
A renegociação não, porque isso significaria alterar o paradigma que nós defendemos. O que eu acho é que a renegociação envolve sempre duas partes, e uma das partes não entende bem a posição. São vários anos a dominar o ténis através deste próprio acordo, e ninguém gosta de perder posições dominantes. Isto são sempre posições fraturantes, em que uma das partes ficará, naturalmente, descontente, tenho noção disso. Mas tenho coragem para assumir isso.
Ao nível da formação de base, o ténis enfrenta concorrência de outras modalidades e a perceção pública é que é um desporto caro. Que estratégias considera importantes para atrair novos praticantes, especialmente entre os jovens?
Nós temos vindo a falar da bandeira ser o retomar da atividade desportiva e não renovar o protocolo com a FTA, mas, na verdade, a verdadeira bandeira é essa que me acabou de perguntar. A outra é acessória, porque nós só conseguimos executar esta se primeiro resolvermos a outra. Se eu tivesse que definir num segundo lema, seria o ténis para todos. Eu já fiz parte de um clube em que predominava o desporto coletivo, o futebol. Faço parte de um clube em que predomina o desporto individual, que é a natação. E uma das críticas que eu já ouvi fazer a esta candidatura é que é preciso perceber de ténis. Eu acho que é preciso perceber de tudo. De gestão de recursos humanos, de desporto no geral, de lidar com pessoas. Não sou um expert em ténis, mas tenho uma experiência associativa e uma capacidade de gerir situações de rutura que me permitem avançar para um projeto em que possa dizer o que é mesmo o ténis para todos. Os pais, no início dos anos letivos, quando ponderam as atividades físicas dos seus filhos, provavelmente não escolhem o ténis porque tem a fama, e se calhar o proveito, de ser um desporto caro. Caro nas mensalidades, caro nos materiais. Nós podemos modificar isso, porque, ao contrário das sociedades provadas, os clubes não visam o lucro, visam fomentar a atividade desportiva, sem prejuízo da sua saúde financeira. Há condições para que a prática do ténis, no futuro, e pelo menos ao nível da formação, possa ser para todos. Alguém que queira praticar ténis, no CTCR não pagará à partida mais do que noutra modalidade individual nas Caldas da Rainha, e continua a ter técnicos de excelência e condições infraestruturais de excelência. É esse o nosso objetivo, concorrer saudavelmente com outros clubes e com outras modalidades, e de maneira que ninguém fique sem jogar ténis por não ter disponibilidade financeira. E é importante a questão ser colocada porque o próprio protocolo tinha essa vertente, de um cariz social do ténis, e que eu saiba nunca houve um atleta das Caldas a socorrer-se dessa valência, porque provavelmente isso não foi devidamente publicitado.
A requalificação dos courts e das instalações no Parque, incluindo a sede, é destacada no programa. Quais são as suas prioridades para melhorar essas estruturas?
São dois aspetos bastante importantes. Antes de irmos à requalificação, há a própria concessão dos courts de ténis do Parque. Neste momento, segundo julgo saber, a concessão não se encontra renovada, está em processo de renovação. Não nos passa pela cabeça que alguém nos queira tirar do Parque, mas teremos que formalizar essa renovação. A partir daí, queremos encetar um processo de requalificação dos courts. Estamos aqui num dia de chuva, os campos estão completamente alagados e isso significa que vão ter um período de recuperação bastante longo. Essa é uma coisa que vamos tentar evitar a todo o custo, que os períodos de recuperação dos campos sejam longos, porque isso implica que a prática não se efetive.
Em relação à sede, atualmente é exígua. O clube, pela sua história, pelo número de troféus e pela dimensão que tem, precisa urgentemente de ter um espaço alargado, onde possa fomentar convívio entre os seus sócios. A ideia desta lista é conseguir a concessão do espaço da Delegação Escolar, um imóvel que fica em frente aos campos de ténis e que, devidamente requalificado, poderia ser uma opção para albergar a loja do clube, sala de exposição de troféus, sala de reuniões dos órgãos sociais e sala de convívio. Caso não seja possível, temos um espaço no Complexo Municipal onde poderá surgir, no futuro, uma infraestrutura de raiz que albergue estas valências.
A organização e da gestão do clube são áreas que necessitam de ser melhoradas?
O clube atualmente tem uma direção algo reduzida, composta por cinco elementos, onde o Sr. Ramiro é o elemento preponderante. Depois tem uma funcionária na sede, a esposa do Sr. Ramiro, a D. Sofia, que trata da parte administrativa e da burocracia do clube, e tem um funcionário, à hora, que trata da marcação dos campos e de alguma conservação. Com este novo projeto, teremos que aumentar o número de quadros do clube, sem prejuízo da saúde financeira.
Por outro lado, nós vivemos na época do digital e da informatização, e nós vamos implementar alterações substanciais nessa área. Será a área mais fácil de inovar e crescer, porque não há nada feito. O clube não emite faturas eletrónicas, não tem marcações online, e tudo isso, se esta direção for eleita, vai ter que ser implementado para facilitar a vida aos sócios.
Há uma comunidade de estrangeiros cada vez maior na região, que gosta e pratica ténis. Integrá-los na vida ativa do clube é um dos objetivos?
É um dos objetivos. O clube de ténis tem uma particularidade, normalmente só é sócio quem é praticante de ténis. Isso faz com que o número de associados esteja sempre ligado ao número de praticantes. Eu atrevo-me a dizer que nos últimos anos entraram mais sócios estrangeiros praticantes do que propriamente sócios portugueses, inclusivamente com uma participação significativa nas equipas do clube, nomeadamente nas femininas. Isso faz com que se tenha que ter uma atenção especial para com estas pessoas, e nós vamos ter. Ao ponto de eu tentar inserir na própria direção um membro dos novos sócios estrangeiros. Conto não só em ter essas pessoas como base de apoio desta candidatura, mas também como parte integrante dos órgãos sociais, se assim for possível. ■