A Sociedade Filarmónica e Recreativa Gaeirense celebra a 1 de Outubro 95 anos. A colectividade, que foi criada no mesmo dia que a Gazeta das Caldas, conta actualmente com perto de uma centena de elementos na escola de música, banda, orquestra e rancho
A Sociedade Filarmónica e Recreativa Gaeirense está a comemorar 95 anos, mas a tradição musical nas Gaeiras é mais antiga. Por volta de 1916 formou-se na localidade uma tuna (um grupo musical) composto por 14 elementos que tocavam violino, flauta, bandolim, clarinete em dó, violas e banjo, refere um levantamento feito pela gaeirense Clarisse Barros. Essa tuna terá sido formada por um trabalhador da Quinta das Janelas, natural do Norte, que percebendo de música decidiu convidar jovens locais para formar um agrupamento. Para os ensinar, uma vez que não sabiam solfejo (exercício musical de leitura ou entoamento de notas), foi convidado – a título gratuito – uma pessoa com conhecimentos musicais. Escolheram depois os instrumentos musicais que mais gostavam ou para os quais tinham mais aptidão, dando assim “vida” à tuna, que actuava em bailes particulares, ou por convites de senhores abastados, mas sem receber qualquer remuneração. Com a criação da Banda Filarmónica, em 1925, e tendo em conta que a maioria dos elementos tocava nos dois agrupamentos, a Tuna acabaria por se extinguir em 1927.
Na origem da Banda Filarmónica das Gaeiras esteve uma tourada nas Caldas, organizada por Faustino da Gama. O proprietário da Quinta das Janelas e da praça de touros, que era simultaneamente director da Tuna, angariou dinheiro para a aquisição dos instrumentos e fardas usadas pelos elementos da novel filarmónica. Clarisse Barros no seu estudo dá conta de que “cinco elementos começaram por aprender solfejo, juntando-se-lhes depois outros, acabando a formação inicial da banda por ter 25 elementos”.
Durante todos estes anos a colectividade foi tendo os seus altos e baixos, mas sempre empenhada na realização e organização de actividades culturais e recreativas, evidenciando-se a área musical. No entanto, desde Março que a sua sede está fechada e as actividades estão suspensas, devido à pandemia. A direcção já enviou o plano de contingência para a Delegada de Saúde de Óbidos e aguarda por uma resposta para poder retomar o funcionamento. “Em termos de espaço e de segurança temos reunidas as condições”, conta o presidente da SFRG, João Roberto, especificando que para os ensaios será utilizada a sala maior, com distanciamento, o chão será marcado, haverá um corredor de entrada e outro de saída, tapetes de desinfecção para os pés e o próprio espaço será todo desinfectado antes de abrir portas. Contudo, há uma valência que não sabem se será retomada este ano, que é o rancho folclórico, por causa do contacto entre os bailarinos.
“As pessoas sentem falta do convívio possibilitado pelos ensaios e as actuações, assim como do Mercado Medieval, que também era uma fonte de receita grande para a colectividade”, acrescenta Anabela Roberto, tesoureira da associação onde ingressou, com o marido, João, há 16 anos.
A SFRG conta actualmente com perto de uma centena de elementos nas várias vertentes: escola de música, banda filarmónica, orquestra juvenil e rancho, e o receio dos dirigentes é que alguns deles não queiram voltar pelo facto de terem estado muito tempo sem actividades.
Hoje, dia 1, o aniversário será assinalado apenas de forma simbólica, com a romagem ao cemitério para depositar uma coroa de flores junto dos sócios, directores e músicos já falecidos , e uma missa. O encontro de bandas e concerto não se poderá realizar.