Amantes do automodelismo dão largas à velocidade no B.º da Senhora da Luz

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pista de automodelismo do Bairro da Senhora da Luz
A pista do Bairro da Senhora da Luz funciona desde 2015 e recentemente foi remodelada | RUI SANTOS
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Radiomodelismo é a recriação em escala reduzida de carros, barcos e aviões, que são controlados por rádio. No Bairro da Senhora da Luz existe uma pista para os amantes desta modalidade que ali se juntam ao fim-de-semana para treinar com os seus pequenos carros telecomandados.
Os veículos são construídos à escala, com idêntica mecânica e sofisticação dos carros de corrida e os preços podem oscilar entre os 400 e os 800 euros. Desengane-se quem pensa que este é um passatempo de crianças.

 

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O ruído do rugir dos motores e o pó que sai da pista não deixa dúvidas acerca da velocidade a que os pequenos carros se movem. Alguns chegam aos 80 Km/hora fruto da perícia dos seus pilotos que, a alguns metros, os comandam desde o palanque via rádio. A frequência 2.4Ghz é a mais eficaz, mas também há quem use a Amplitude Modulada (AM) e a Frequência Modulada (FM), explica, Fernando Pires, presidente do Sport Clube do Bairro, a colectividade que tem a pista de automodelismo no Bairro da Senhora da Luz.
A pista, que funciona desde 2015, nasceu da vontade de um grupo de apaixonados por esta modalidade que costumava encontrar-se num outro recinto. O antigo campo de futebol pareceu-lhes o local ideal para o circuito e puseram mãos à obra. Fernando Pires, licenciado em design gráfico, desenhou a pista e o palanque, que mereceu a concordância do antigo presidente da associação, Vítor Palatino, e de toda a direcção. A partir daí foram em busca de apoios, tendo conseguido da União de Freguesias de Sta. Maria, S. Pedro e Sobral da Lagoa e da Câmara de Óbidos para a construção do palanque em madeira. Já a empresa Submerci, da Atouguia da Baleia, construiu os caboucos e levantou as paredes que sustentam a parte alta da pista, em troca do site na Internet que Fernando Pires lhes fez.
As máquinas da Câmara de Óbidos foram depois fazer os desníveis que a pista apresenta. Com um perímetro de 280 metros, a actual é uma segunda versão, alterada há dois meses, com o objectivo de a tornar “mais técnica”, justifica Fernando Pires.
De acordo com o mesmo responsável, aquele espaço reúne as melhores condições para a prática da modalidade. “Tem um piso em barro, o que permite um menor desgaste dos pneus dos carros, e quando está molhada não desgasta, o que é bastante económico para quem utiliza”, conta, especificando que um conjunto de pneus pode custar entre os 15 e os 42 euros.
A pista do Bairro da Senhora da Luz já acolheu duas competições. A primeira foi uma experiência nova também para Fernando Pires, que fez de cronometrista e piloto ao mesmo tempo. “Deu para nos divertirmos um bocado e tivemos a participação de 23 pilotos”, recorda. Para o segundo encontro já foi contratado um cronometrista especializado, que foi também director de prova. O responsável pela colectividade gostaria de organizar algumas competições ainda este ano pois existem bastantes interessados em participar.

Carros a combustível e a energia eléctrica

A paixão de Fernando Pires pelos carros telecomandados vem de criança e do contacto que teve com o filho da ama, que tinha um veículo destes. Mais tarde, quando começou a trabalhar, o primeiro ordenado foi gasto num carro telecomandado. “Parece uma brincadeira de crianças, mas tem muito dinheiro envolvido”, refere o jovem, recordando que em 2008 deu cerca de 550 euros pelo veículo e já era usado.
Fernando Pires especifica que estes carros, normalmente à escala 1/8 (oito vezes mais pequenos que a escala normal) têm todas as afinações de um veículo de Fórmula 1. Estes podem ser movidos a combustível (nitrometano) ou energia eléctrica, funcionando com baterias. Enquanto que os últimos atingem velocidades maiores (até 80 km/hora), os de nitro chegam aos 75 km/hora, mas têm mais força e capacidade de ultrapassar os obstáculos.
Os 15 sócios deste clube treinam sobretudo ao fim-de-semana e não pagam para utilizar a pista pois muitos deles, como foi o caso de Fernando, ajudaram na sua concretização. “Somos sócios pagantes, mas todos nós ajudamos quando a pista precisa de manutenção, ou para tapar buracos e mudar lâmpadas” diz.
Depois, também recebem pilotos da Figueira da Foz, Mafra, Ericeira e Lisboa. Na tarde de sábado, Fernando Pires preparava-se para mais uns minutos de diversão  com um dos quatro carros telecomandados que tem actualmente. Gosta mesmo é dos carros movidos a nitrometano, pelo barulho que provocam, e revela que há alguns segredos para se triunfar nesta modalidade: ter um carro com um bom chassis ajuda, assim como ter gosto pela velocidade, bons reflexos e visão periférica.
Empenhado em continuar ligado a esta paixão, o designer gráfico já possui uma loja online (www.krc-control.com) com venda de artigos relacionados com o modelismo e está a construir a loja física, no Bairro da Senhora da Luz.

Gosto pela adrenalina

Abílio Domingos, de Atouguia da Baleia, é o veterano da pista do Bairro da Senhora da Luz. Tem 66 anos e é um amante do automodelismo. A paixão vem-lhe de novo, do tempo em que ainda frequentava a escola comercial e industrial caldense e nos tempos livres ia para os slotcars (carro alimentado através de uma pista eléctrica) no Maratona. Há cerca de quatro anos retomou o hobby, mas desta vez com carros telecomandados. “Gosto da adrenalina e da mecânica que isto envolve”, conta, enquanto muda a bateria do seu pequeno carro na tarde de sábado. É sempre ao fim-de-semana, que se junta com outros pilotos na pista de automodelismo e ali passa uma tarde animada. “Treinar sozinho não tem graça”, diz, acrescentando que gosta do convívio que ali encontra.
Sócio do clube, Abílio Domingos foi um dos elementos que colaborou na construção da pista. Considera que “está muito boa”, mas reconhece que ainda não domina bem todo o percurso, recentemente alterado. “Ainda dou uns tombos porque estava habituado à pista antiga”, conta o electricista que antes de vir para o Bairro da Senhora da Luz, costumava treinar em Torres Vedras na pista de Ribeira de Pedrulhos.
Abílio Domingos tem um carro eléctrico, que lhe custou cerca de 800 euros e que trata com afinco. A bateria tem autonomia para 15 minutos de treino e depois substituí-a por outra que já tem carregada. O piloto diz que economiza nas baterias em relação ao combustível, mas também tem que cuidar bem delas pois cada uma custa 70 euros.
Já participou em algumas provas de automodelismo amador e gosta, sobretudo, pela adrenalina.
Para Bernardo Neto, de 31 anos, praticar automodelismo é uma maneira de fugir ao stress do dia-a-dia. “Ao fim-de-semana vimos até aqui à pista e damos umas gatilhadas [manejo dos gatilhos do comando] para desanuviar”, conta o jovem mecânico de automóveis residente em Lisboa.
Para praticar este hobby é preciso gostar de mecânica, diz, uma vez que “perto de 90% do tempo é passado a mexer no carro e apenas 10% a andar na pista”, disse.
Bernardo Neto tece também os maiores elogios ao clube, onde encontrou verdadeiros amigos com os quais partilha ideias, afinações sobre a pista e o funcionamento dos pequenos veículos. “Ainda há bocado estava com problemas nos travões do carro e o senhor Abílio esteve a ajudar-me”, exemplificou.
Os entusiastas desta modalidade que queiram frequentar a pista podem contactar Fernando Pires através do 919240515.

 

 

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