O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considera os agricultores heróis do dia-a-dia da economia portuguesa e diz que são uma grande esperança na agricultura. O Chefe do Estado falava na XIX Gala da Pêra Rocha, que decorreu a 11 de Novembro na Quinta do Castro, em Pragança (Cadaval), e que juntou cerca de 500 pessoas.
Considerada um exemplo do que melhor se faz a nível agrícola no país, a fileira da pêra Rocha procura agora novos mercados para exportação e mais respostas ao nível da investigação. Os agricultores continuam a apostar num sector que atempadamente se soube associar para ganhar escala e valor, e os governantes reconhecem e elogiam o trabalho que tem sido efectuado.
A pêra Rocha é o produto hortofrutícola com maior saldo positivo na balança comercial portuguesa. Existem no país cerca de 5000 produtores e 10 mil hectares de pomar que produzem, em média, 200 mil toneladas de pêra, que depois é vendida em mais de 20 países. Os números foram avançados pelo próprio Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa – presente no Cadaval na XIX Gala da Pêra Rocha que decorreu a 11 de Novembro – que destacou o contributo dos produtores de pêra Rocha para fazer da agricultura um dos sectores que mais contribuem para a riqueza nacional.
Marcelo Rebelo de Sousa confessou-se um “quase adito” deste fruto e enalteceu o trabalho de quem sempre viveu ligado à terra. Chamou aos agricultores “heróis anónimos” da economia portuguesa e reconheceu que a agricultura é uma tarefa difícil, sobretudo tendo em conta os constrangimentos que a União Europeia tem vindo a impor, nomeadamente ao nível das regulamentações e da retirada de várias substâncias do mercado.
Por outro lado, o Presidente da República apelou à continuidade do associativismo e destacou como um dos bons exemplos neste âmbito a Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha (ANP).
Um repto que foi comungado pelo presidente desta associação de produtores, Aristides Sécio, que apelou a que os agricultores interiorizem a importância do associativismo e não o vejam apenas como uma forma de acesso a apoios comunitários.
Referindo-se concretamente à pêra Rocha, o responsável referiu que esta fileira gera mais de 200 milhões de euros, dos quais cerca de 60% resultam das exportações. Trata-se de uma actividade em crescimento, embora os produtores se deparem com dificuldades resultantes de decisões da política europeia, como a imposição da redução de utilização de agroquímicos necessários para combater as pragas, ou a proibição do uso de meios de conservação das pêras por um período mais longo. Uma situação que os prejudica, sobretudo quando a “Europa não proíbe a importação de frutos de países de fora da União tratados com os produtos que foram proibidos aos agricultores europeus”, explicou.
O presidente da ANP pediu aos governantes uma investigação direccionada para a produção e conservação do fruto, realçando que é “imprescindível” que a assumam como desígnio nacional e que não se fiquem pelo contributo para integrar candidaturas a programas comunitários de apoio à investigação.
É também necessário, e sobretudo depois do embargo russo (que acolhia cerca de 6% das exportações agrícolas portuguesas) encontrar novos mercados.
Aristides Sécio lembrou ainda que as qualidades deste fruto levam a que seja preferido por milhões de consumidores e bastante interessante do ponto de vista comercial. “A sua lenta maturação em ambiente natural, juntamente com a sua resistência ao transporte, reduzem significativamente as perdas comparativamente com outros produtos perecíveis”, explicou o responsável.
A ANP congrega 31 centrais fruteiras da região Oeste e tem como objectivo divulgar o produto, de forma a que ele possa ser mais conhecido e procurado. Tem dedicado uma atenção especial ao mercado nacional, que consome 50 a 60% da produção, mas já exporta para 24 países. Aristides Sécio fez notar que este é um produto que desenvolve a economia nacional e do ponto de vista social tem uma grande importância na região Oeste, sendo responsável por 15 mil postos de trabalho directo ao longo do ano.
Foco no mercado chinês
“Se juntássemos todas as nossas pêras Rochas numa fila conseguíamos dar várias voltas ao planeta”. A frase terá sido dita numa gala anterior da Pêra Rocha e recordada agora por Ana Paula Carvalho, sub-directora da Direcção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), para falar da importância deste produto que se tornou num “verdadeiro embaixador” nacional no sector das frutas.
A responsável explicou que a pêra Rocha representa cerca de 35% das exportações nacionais de frutas. A abertura de novos mercados é uma prioridade deste governo, referiu Ana Paula Carvalho, acrescentando que recentemente conseguiram chegar à Costa Rica e Colômbia. Trabalham agora para que os mercados do Peru e Estados Unidos possam ser uma realidade já em 2017 e mantêm-se focados no mercado chinês, que é muito grande.
Mas nem sempre estas conquistas são fáceis. A responsável deu o exemplo concreto do México, cujos acordos foram celebrados recentemente entre a DGAV e a autoridade fitossanitária mexicana, mas que não são favoráveis a um país pequeno como Portugal. É que estes prevêem a obrigatoriedade da presença de inspectores mexicanos no país durante a fase da pré-colheita até ao fecho dos contentores a custos dos exportadores lusos.
A responsável informou também que foi criado um grupo de trabalho, envolvendo o Ministério da Agricultura e organizações de produtores, para que seja elaborado um plano de acção para controlo da doença da “pinta negra” (estenfiliose) na pêra Rocha. Em inícios de Outubro foram contratados três doutorados para a estação de fruticultura para investigar estes problemas.
A aposta na investigação é também importante para conseguir alternativas às substâncias activas que foram retiradas do mercado e que eram usadas no controlo de pragas.
Novos mercados para aumentar poder negocial
“A pêra Rocha é uma fileira em que a agricultura portuguesa gostaria de se poder rever no seu todo”. Palavras do ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, aos jornalistas, durante a XIX cerimónia da Pêra Rocha, destacando que o governo pretende puxar por todos os sectores da agricultura, mas também consolidar e expandir os casos já de sucesso.
O governante destacou a importância do associativismo e organização das empresas para conseguir exportar para novos mercados. Ainda que a abertura por vezes seja difícil, Capoulas Santos considera que este é um trabalho importante para o governo e para os próprios agricultores pois quando maior for a sua capacidade exportadora, mais peso negocial adquirem no mercado interno. “É completamente diferente negociar em Portugal com uma grande superfície quando se depende exclusivamente dela ou quando se têm outros mercados alternativos”, concluíu.