Agricultura portuguesa tem nichos de grande dinamismo

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Notícias das Caldas No turbilhão da crise a agricultura portuguesa pode não estar de óptima saúde, mas sobrevive, vive, cresce e até exporta. Esta a principal conclusão que se pode tirar de um seminário realizado pelo banco BPI na sexta-feira, 8 de Março, no Vimeiro (Torres Vedras).
Embora os agricultores lutem com imensas dificuldades, nomeadamente ao nível dos custos de produção e alguns tenham dificuldades de financiamento, o sector tem segmentos de mercado que demonstram um grande dinamismo e que encontram na exportação, não só a receita para a sua sobrevivência como até a sua própria vocação.
A Espanha é, naturalmente, o principal destino das exportações agrícolas portuguesas (e é também o principal país de origem das importações agrícolas), mas emergem mercados interessantes como o Brasil e Angola.
Apesar de tudo – e como se pode ver no quadro em anexo -, Portugal tem uma balança comercial agrícola deficitária, isto é, importa mais produtos agrícolas e agro-alimentares do que aquilo que exporta.


Um dos sub-sectores em que isto não se verifica é o dos produtos florestais, onde o país tem saldo positivo, sobretudo devido às exportações de pasta de papel, papel e cartão, móveis e cortiça.
Um aspecto importante que foi divulgado neste seminário é contrário à ideia de que Portugal terá recebido muito dinheiro de subsídios da UE para a agricultura. É normal que os países maiores recebam mais do que os pequenos e por isso não surpreende que a França tenha recebido em 2010 mais de 10 mil milhões de euros de subsídios, enquanto que Portugal só recebeu mil milhões. Mas vistas as coisas pelo montante recebido por cada hectare, a França recebeu 157 euros por hectare enquanto Portugal só recebeu 115, um valor que até é inferior ao da média dos 27 países da UE (127 euros por hectare).
A própria Alemanha, o país que actualmente dita as regras na Europa, é o segundo país que recebe mais subsídio por hectare (188 euros).

A importância da Agrogarante

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Notícias das Caldas A Agrogarante é uma entidade financeira que facilita o acesso ao crédito por parte dos agricultores e das agro-indústrias. Integra o Sistema Português de Garantia Mútua que é composto por uma SGPS (SPGM) que encabeça, enquanto holding, o referido Sistema de Garantia Mútua, bem como por mais três Sociedades de Garantia Mútua de âmbito Regional (Norgarante, Lisgarante e Garval). A Agrogarante é a única de cariz sectorial.
A Agrogarante é detida pela SPGM, SGPS e também pelo IFAP (antigo IFADAP), pela banca comercial mas, maioritariamente, pelos próprios beneficiários das garantias por ela emitidas, dado que se trata de um sistema mutualista. Estes últimos detêm 65% do capital da Agrogarante.
Não se trata, porém, de uma instituição de crédito. Os empréstimos devem ser pedidos aos bancos, mas a Agrogarante emite garantias pelos créditos contraídos e é, por isso, considerada uma entidade facilitadora do crédito à agricultura.
Desta forma, por exemplo, um jovem agricultor que não tenha património para oferecer como garantia para pedir um empréstimo, basta tornar-se sócio da Agrogarante e obtém assim, em princípio, um “fiador” que lhe garante até 80% do financiamento que pretende contrair junto de um banco.

Notícias das Caldas Dois agricultores das Caldas

António Gomes, 41 anos, e Hélio Silva, 32 anos, são dois agricultores caldenses que estiveram presentes no seminário do Vimeiro.
O primeiro tem uma unidade agrícola no Carvalhal (Bombarral) – a Absolutland, Lda. – uma empresa exportadora que está bem implementada no mercado global. António Gomes exporta 2400 toneladas de fruta por ano (sobretudo pêra Rocha), das quais 800 toneladas são de produção própria. Os principais países de destino são o Brasil, Inglaterra, França e Espanha.
Hélio Silva gere os destinos da Masil Frutas, Lda., na Fanadia, que exporta 1600 toneladas de fruta por ano. No ano passado fê-lo para a Holanda, Rússia, Dinamarca, Brasil e Inglaterra.
Estes dois produtores, considerados “jovens agricultores”, são um exemplo de empresários agrícolas que usam as novas tecnologias (ambas as empresas têm o seu site) e operam à escala mundial.
Neste sub-sector, os fruticultores não costumam queixar-se de dificuldades de acesso ao crédito.

“Hoje os novos agricultores operam à escala global”

O economista Miguel Martins Ribeiro, Director Coordenador do BBPI  e representante desta instituição no Conselho de Administração da Agrogarante vê com optimismo a agricultura em Portugal daqui a 20 anos.

GAZETA DAS CALDAS – Como vê a agricultura portuguesa dentro de 20 anos?
MIGUEL RIBEIRO – Com optimismo. Há uma alteração estruturante por haver muitos jovens agricultores que têm um perfil diferente dos agricultores tradicionais portugueses. São jovens qualificados, escolarizados, com acesso às novas tecnologias, para os quais o seu horizonte é o mundo, enquanto as gerações precedentes estavam praticamente restritas ao local onde produziam. Antigamente um jovem agricultor dificilmente acedia a um mercado que não fosse o de proximidade. Hoje pode fazê-lo praticamente à escala global.

GC – E isso tem impacto no conhecimento que há hoje no estrangeiro dos produtos agrícolas portugueses?
MR – A agricultura portuguesa tem cada vez mais visibilidade nos mercados internacionais, não só na Europa, mas em países como o Japão, a Rússia e até em alguns segmentos do mercado chinês.

GC – Com que tipo de produtos?
MR – Basicamente em nichos de mercado. Essencialmente alguns vinhos, azeites, queijos, enchidos, compotas e também em produtos que têm muito a ver com esta região  [Oeste] que são os hortícolas.
GC- Agricultores escolarizados ligados à Internet e nichos de mercado são suficientes para justificar esse optimismo para daqui a 20 anos?
GC – Antevejo uma evolução muito favorável na procura mundial de produtos agrícolas. Há muitas partes do mundo que ainda têm uma alimentação deficitária e que vão começar a comer mais e melhor. Não tenho dúvidas que a procura vai aumentar. Sobretudo por parte de países da Ásia e de África.

GC – No futuro quadro comunitário de apoio como acha que ficou colocado o sector agrícola? Perdemos ou ganhámos?

MR – No horizonte de 2014 a 2020 houve uma redução de financiamento no pacote global para o sector agrícola, na ordem dos 14%, mas em Portugal essa redução é substancialmente menor do que no total.

GC – Isso significa que saímos beneficiados?
MR – Significa que temos a oportunidade e a responsabilidade de fazermos mais e melhor do que fizemos no passado e do que os nossos parceiros europeus que terão reduções maiores do que aquela que nós teremos.

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