CP reduziu horários mas continua a suprimir comboios na Linha do Oeste

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Gazeta das Caldas
Automotoras velhas, estações fechadas e sem informação. A linha do Oeste continua a definhar.
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Empresa eliminou 10 circulações em cinco meses para adequar os horários às poucas automotoras que ainda circulam. Mas medida não resultou: de 5 de Agosto até à passada terça-feira já tinham sido suprimidos 24 comboios na linha do Oeste. Desses, a CP não arranjou transporte alternativo para 21 e os poucos passageiros que ainda teimam em andar de comboio ficaram abandonados nas estações e sem qualquer informação.

Desde o dia 5 de Agosto, quando entrou em vigor a nova oferta da CP que eliminou 10 circulações na linha do Oeste, que a empresa suprimiu 24 comboios, dos quais só três tiveram transbordo rodoviários alternativo (dois em autocarro e um em táxi).
A redução da oferta foi justificada pela CP como uma forma de adequar os horários ao escasso material circulante existente a fim de evitar as supressões que estavam a ser diárias. No entanto, a medida não resultou pois salta à vista que a empresa continua a suprimir comboios na linha do Oeste.
Já em Março a CP tinha eliminado permanentemente dois comboios (um em cada sentido entre Caldas e Torres Vedras) para obviar as supressões. No total, desde o início do ano a empresa eliminou 12 comboios na linha do Oeste: dois entre Caldas e Torres, quatro entre Caldas e Meleças e seis entre Caldas e Leiria. Mas as supressões continuam.
É conhecido que a CP não tem material circulante suficiente nem pessoal nas suas oficinas (EMEF) para manter e reparar as automotoras, já de si velhas, que operam na linha do Oeste. No entanto, a empresa não explica por que motivo insiste em deixar os seus clientes abandonados nas estações e apeadeiros sem lhes oferecer qualquer transporte alternativo.
Uma empresa minimamente preocupada com os seus clientes, já teria operacionalizado um sistema para lhes assegurar o transporte em autocarro ou táxi sempre que suprime um comboio. E teria também posto mais pessoas nas estações para informar os clientes das alterações à oferta diária. E teria, por exemplo, reunido com autarcas e associações para explicar as dificuldades que está a ter e disponibilizar números de telefone (daqueles que funcionam e não mensagens gravadas) para as pessoas saberem com o que podem contar. A CP poderia (e deveria) publicar anúncios na imprensa regional dos concelhos que serve para pedir desculpa e comunicar às populações por que motivo suprime comboios e o que está a fazer para resolver estes problemas.
Nada disto, porém, a empresa faz, mantendo uma postura arrogante que inclui, nos últimos meses, nem sequer responder às perguntas da Gazeta das Caldas.
A CP continua sem uma estratégia de curto prazo para resolver um problema que já data de Janeiro de 2017. Só nesse ano foram suprimidos 623 comboios na linha do Oeste.
Este ano, só entre 1 de Junho e 15 de Julho, a empresa suprimiu 380 comboios no Oeste e só arranjou transporte alternativo para 145.
A consequência disto tem sido o descrédito no transporte ferroviário e a transferência em massa para a rodovia. Há pessoas nas Caldas da Rainha, Torres Vedras e S. Martinho do Porto que perderam os empregos porque deixaram de poder chegar a horas ao trabalho. E quem ganha salários baixos, não pode despender dinheiro em combustível e portagens.
Outras pessoas acabaram mesmo por usar veículo próprio ou a rodoviária para as suas viagens quotidianas. E até mesmo os alunos que estudam nas Caldas da Rainha e vinham do Bombarral, S. Martinho do Porto ou Valado dos Frades, acabaram por optar pela rodoviária.
Durante este Verão, além de não reforçar a oferta entre Caldas e a praia de S. Martinho, a CP suprimiu dezenas de comboios, deixando centenas de banhistas sem poder regressar a casa. E sem qualquer informação.

Atrasos sucedem-se

Além das supressões, os atrasos na linha do Oeste têm sido imensos.
No dia 18 de Agosto o comboio regional vindo de Santa Apolónia chegou às Caldas com 53 minutos de atraso e a ligação para Coimbra partiu com 50 minutos de atraso. No dia 21 de Agosto um outro comboio vindo de Meleças chegou às Caldas da Rainha com 1 hora e 20 minutos de atraso, quase tanto como outro regional vindo de Santa Apolónia que chegou à mesma estação no dia 28 de Agosto com 1 hora e 45 minutos de atraso. Nesse mesmo dia, os clientes da CP para Coimbra partiram também das Caldas com 1 hora e 45 minutos de atraso.
Mas o recorde do mês de Agosto foi também nesse dia, em que o comboio precedente da Amieira (onde deu ligação ao comboio vindo de Coimbra) chegou às Caldas da Rainha com …2 horas e 50 minutos de atraso!
Nos outros dias, atrasos de meia hora têm sido constantes.

Uma inutilidade chamada AMT

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Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT). É assim que se designa a entidade reguladora dos transportes a quem compete fiscalizar o bom funcionamento do sector, incluindo a própria CP.
Mas para a AMT, como “não estão fixadas obrigações de serviço público concretas e mensuráveis a observar pela CP”, não há, pelos vistos, lugar a qualquer medida em relação à transportadora ferroviária que insiste em deixar passageiros em terra todos os dias.
Para os burocratas da AMT, a CP poderá suprimir todos os comboios e continuar a tratar mal os seus clientes, eximindo-se às suas funções de prestar um serviço público, que o silêncio continuará a ser de ouro. O facto de a CP ter suprimido na linha do Oeste 623 comboios em 2017 e mais de 760 nos primeiros oito meses de 2019 é absolutamente irrelevante para a AMT. Que, nesta matéria, quando questionada pela Gazeta das Caldas, prefere fazer como a CP – não responder.

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