Frutalvor é a grande referência da maçã de Alcobaça no concelho das Caldas da Rainha

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notícias das CaldasFundada há 18 anos por um grupo de 20 agricultores, a Frutalvor possui actualmente 22 cooperantes, a sua maioria dos concelhos das Caldas e de Óbidos, que possuem um total de 350 hectares de pomar. A central fruteira, instalada no Casal de Santa Cecília (Salir de Matos), começou a trabalhar com 2000 toneladas de fruta por ano e actualmente está muito próxima das 8000 toneladas anuais, entre maçã e pêra Rocha, tendo facturado 3,5 milhões de euros em 2010.

A nível nacional o maior entrave que encontram são as grandes superfícies que, continuam a pagar o produto bastante barato ao produtor e, muitas das vezes, compram fruta estrangeira em detrimento da nacional.
Referindo-se à Maçã de Alcobaça, Carla Simões, gestora da Frutalvor, refere que, fruto da promoção que tem havido, os clientes procuram-na nas prateleiras das superfícies mas, em muitas delas, não a encontram.

Agosto é um mês de grande azáfama na Frutalvor. É neste mês de verão que se concentra a colheita da maçã Gala – que é comercializada com o símbolo de Maçã de Alcobaça – e que totaliza 75% das 4000 toneladas de maçã que esta cooperativa de agricultores comercializa por ano. Em Setembro são colhidas as variedades de maçãs Reineta, Golden e Starking que, em conjunto, representam as restantes mil toneladas.
A grande maioria dos produtores tem as suas propriedades no concelho das Caldas, sobretudo em Alvorninha, Vidais e Salir de Matos, mas também existem alguns pomares nos concelhos de Óbidos e Alcobaça, num total de 350 hectares.
Nos últimos anos tem havido uma maior plantação de pomares de pêra Rocha. “Começámos com cerca de 400 toneladas e actualmente temos 4000 toneladas de pêra Rocha, cerca de 10 vezes mais”, explica Carla Simões, gestora da Frutalvor. Para atenuar esta tendência que se tem generalizado por todo o Oeste, a cooperativa tem tentado que os produtores plantem mais maçã Gala, que tem também boa aceitação no mercado externo.
Actualmente cerca de 40% da produção da Frutalvor é escoada no mercado nacional de grande superfície, tendo o grupo Sonae como principal cliente. As vendas para pequenos comerciantes, cash and carry e para a transformação (sumos e compotas) representam 20% e os restantes 40%, cerca de 1,4 milhões de euros, são comercializados para o mercado externo, sendo a Inglaterra o principal destino desta maçã e também da pêra Rocha.
As exportações começaram há uma década, para o Reino Unido, e com maçã Gala, uma variedade que sabem “produzir e conservar relativamente bem” e que tem a bandeira de entrada noutros mercados.
O ano passado começaram a explorar o norte de África. “É um mercado potencialmente interessante, numa perspectiva em que a Europa está a atravessar alguma crise e estes mercados estão com economias emergentes”, explica Carla Simões, salientando que se tratam de locais para onde poderão exportar maçã.
A mesma responsável explica ainda que o mercado interno tem estabilizado, fruto da crise, mas também da constante guerra entre supermercados. “As grandes superfícies são uma fonte de escoamento para o nosso produto mas, por outro lado, a guerra de preços entre eles vem penalizar muito os produtores”, salienta.
Carla Simões faz notar que os maus preços praticados aos produtores em favor das margens dos supermercados são muito difíceis de suportar, tanto mais que os agricultores da região têm reinvestido muito na agricultura.
A certificação também acarreta custos pois exige inovações nos pomares, como a colocação de casas de banho durante a colheita, restrições ao nível da utilização de pesticidas e adubos, assim como normas de higiene e segurança dos trabalhadores. É também obrigatório que os responsáveis das explorações possuam curso de primeiros socorros.
Os produtores têm os seus pomares na região demarcada de Alcobaça, fazem protecção integrada e são certificados para produzir Maçã de Alcobaça. “Esse controlo é muito rigoroso, trabalhamos em estreita ligação com os nossos produtores temos um técnico no campo a acompanhá-los”, explica Carla Simões, fazendo notar que o que está certificado é a área e as condições em que é produzida a maçã.
De acordo com a gestora da Frutalvor, a associação Maçã de Alcobaça tem feito um “excelente trabalho de promoção” e o cliente procura muitas vezes esta maçã nas lojas, mas não a encontra. “Há cadeias de supermercados que não vendem maçã nacional”, refere Carla Simões, adiantando que as grandes superfícies acabam por comprar no estrangeiro a fruta mais cara do que é vendida pelos produtores para exportação.
A responsável explica ainda que Portugal, ao nível da pêra Rocha produz mais do que o seu consumo interno, mas o mesmo ainda não acontece com a maçã. “E continuamos a importar alegremente”, ironiza.

Aumentar a capacidade de frio para dar resposta à produção
A Frutalvor possui 19 câmaras frigorificas, com capacidade para 5,5 toneladas de frio, o que se está a revelar insuficiente para a produção, pelo que são utilizadas algumas câmaras frigorificas de sócios, sobretudo para a fruta que é escoada num curto período de tempo.
Para a fruta que vai demorar mais a ser comercializada possuem a atmosfera controlada – que baixa o nível de respiração da fruta e a deixa “adormecida” – permitindo-lhe manter as características naturais de sabor e textura.
“Funciona tão bem na fruta que, ao tirarmos uma maçã Gala em Janeiro ou Fevereiro permanece com o pé verde, tal como foi colocado”, exemplifica Carla Simões.
Os pomares recentemente plantados e o aumento da produção leva a que a Frutalvor tenha que aumentar a capacidade de frio. O objectivo é começar no próximo ano a preparar o terreno para fazer as câmaras frigoríficas, mas a crise que o país atravessa leva a que tenham que ser cautelosos. “Somos o tipo de empresa que pretende ter alguma consistência nesta actividade. É preciso assumir alguns riscos mas sou fã dos riscos controlados”, realça Carla Simões, acrescentando que nos investimentos que têm efectuado têm contado também com o apoio do Estado, ainda que por vezes tarde algum tempo a chegar.
Actualmente a cooperativa dá trabalho directo a 50 trabalhadores durante todo o ano e, indirectamente a cerca de 200 pessoas.
A facturação da cooperativa em 2010 foi de 3,5 milhões de euros e, de acordo com Carla Simões, “tem crescido proporcionalmente à quantidade que é laborada e à pressão que se tem feito no mercado de exportação”.
A gestora explica que a exportação é um excelente estabilizador de preços porque as estratégias são de médio e longo prazo, logo os preços não flutuam tanto como no mercado nacional onde os preços variam na proporção contrária da produção.

“A agricultura tem futuro”
“Não tenho dúvidas que a agricultura é um dos motores da sociedade”, diz Carla Simões, que se formou em Agronomia por paixão. Considera que se trata de um sector da economia como outro qualquer e que, por isso mesmo, tem que ser olhado como tal. “Não merecemos ajudas especiais, mas também não merecemos ser tratados com deferência”, diz, adiantando que em Portugal produz-se tão bem como noutro país qualquer.
Reconhece que o sector tem-se deparado com alguns problemas, nomeadamente a descrença do seu interesse económico, aliado às burocracias a que os agricultores estão sujeitos.
Também Hélder Silva, presidente da direcção da Frutalvor, acredita que a agricultura tem futuro, “mas é pena que só agora os políticos se lembrem que ela é importante no país”, diz.
Este fruticultor, que possui 10 hectares de maçã e pêra na zona dos Vidais, lembra que os produtores tiveram que avançar por sua conta e risco para desenvolver o sector, sobretudo ao nível da exportação, uma vez que a fruta está ao mesmo preço, ou até mais barata, do que há 15 anos.
“O preço a que o consumidor compra no supermercado está muito longe do que o produtor recebe”, conta, acrescentando que quando há uma diminuição de preços é à custa do produtor, porque a margem do supermercado mantém-se e, ao longo dos anos, tem mesmo vindo a subir. “Há 10 anos viam-se margens de 30 a 50%, agora é raro um supermercado que, em tempo normal, não tenha margens muito próximas de 100%”, realça.
Também Hélder Silva partilha da opinião de que é importante que as pessoas percebam que o “produto português é melhor que os outros”, resultado da evolução das plantações e também certificações, que lhe garantem uma excelente qualidade.
Crianças aprendem que a fruta é saudável

Durante o ano a central fruteira é várias vezes visitada por crianças, sobretudo do jardim-de-infância e primeiro ciclo, que ficam a conhecer “in loco” o processo de conservação da fruta. As visitas são de escolas da região, mas também da zona de Lisboa, onde conversam com miúdos que “nunca tiveram contacto com a fruta fora de um supermercado”, conta Carla Simões.
As crianças gostam do que vêem e é também uma forma de contribuir para o combate à obesidade e doenças cardiovasculares que, “cada vez mais começam a aparecer mais cedo”, acrescenta a responsável.
A Frutalvor tem também fornecido, nos últimos dois anos, a fruta a todas as escolas do concelho das Caldas.
Na central vendem directamente ao consumidor, durante a semana, entre as 9h00 e as 18h00, e têm um projecto para montar uma lojinha de venda directa de fruta.