A vertente de turismo de habitação da Quinta da Foz do Arelho está a ser alvo de uma requalificação que vai permitir àquele edifício – que no ano passado fez 450 anos – oferecer comodidades do século XXI a quem o visita, sem perder a identidade que o caracteriza. Aos quatro quartos já existentes, vai ser acrescentada capacidade de alojamento com a recuperação de dois apartamentos. O investimento supera os 200 mil euros e vai criar dois postos de trabalho. A Quinta da Foz distingue-se por proporcionar um tipo de turismo com componentes histórica e de convivência elevadas, que além do alojamento assenta na disponibilização de um conjunto de experiências que criam valor acrescentado à estadia na região.
EXPERIÊNCIAS PARA HÓSPEDES, MAS NÃO SÓ
Na Quinta da Foz, a família Paiva Calado pretende proporcionar mais que a simples hospedagem a quem escolhe a propriedade para a sua estadia na Foz do Arelho e o contexto histórico é apenas um dos componentes dessa missão.
À estadia pode acrescentar-se um conjunto de cinco experiências promovidas em conjunto com empresas da região. “O intuito é proporcionar momentos únicos a quem está hospedado e não só, porque estas experiências estão abertas a toda a gente”, sublinha Francisco Paiva Calado.
As experiências são ligadas à casa, à natureza envolvente e à parte histórica e estão relacionadas com a falcoaria, o tiro com arco ou a apicultura. É possível ainda fazer piqueniques e vivenciar sete rotas vínicas do Oeste em sete espaços diferentes dentro da quinta. As experiências podem ser feitas a dois, ou em grupos que podem ser tão grandes quanto o espaço permite.
Quase todas estas experiências são desenvolvidas em parceria com empresas da região. “Para podermos oferecer algo diferente ao turismo, que seja algo que surpreenda as pessoas, devemos trabalhar com quem tenha essas competências, até porque sozinho não conseguiria fazer tudo isto”, realça Francisco Paiva Calado.
Proporcionar estas experiências positivas em complemento à estadia acaba também por fazer a diferença junto dos clientes, o que nos dias de hoje é fundamental. “Hoje há muita facilidade em visitar lugares diferentes e se a pessoa levar daqui uma boa experiência é a melhor publicidade que podemos ter, porque as pessoas vão voltar, ou pelo menos passar boas informações”, afirma Francisco Paiva Calado.
Estas experiências tiveram início em Agosto do ano passado e são realizadas todo o ano, o que é visto como uma forma de combater a sazonalidade do turismo de sol e mar.
Além destas actividades, há ainda outras parcerias, como é o caso da Manzwine, uma marca de vinhos cujo cariz familiar e histórico se identifica com o da Quinta da Foz e cujos néctares ali estão à venda. “Principalmente os estrangeiros gostam de desfrutar de finais de tarde no nosso pátio a saborear um bom vinho e é mais um serviço que oferecemos”, acrescenta.
Ervas aromáticas biológicas
A produção e comércio de ervas aromáticas de produção biológica é uma das valências do turismo de habitação da Quinta da Foz do Arelho. No ano passado estas passaram a ser comercializadas em embalagens de marca própria, tanto para os hóspedes como em mercearias.
Esta vertente começou a ser explorada há cinco anos, como forma de controlar o mato em terrenos próximos da quinta que não eram de exploração agrícola.
Foram então preparados dois hectares de terreno para produção em modo biológico e iniciada a plantação de ervas aromáticas. Depois de colhidas, as aromáticas passam por uma fase de secagem em armazém dentro da quinta e seguem para expedição a granel.
Assim era até ao ano passado, quando foi iniciada a venda em embalagens individuais com a marca Quinta da Foz. Além da marca, no rótulo segue uma descrição do conjunto de experiências que a propriedade oferece, assim como da Foz do Arelho enquanto destino turístico.
“É uma forma de promover o destino num espaço inusitado, que pode ser uma mercearia, porque a Quinta da Foz existe na Foz do Arelho e é preciso vender o destino também”, realça Francisco Paiva Calado.
As aromáticas já em comercialização são Lúcia Lima, Erva Príncipe, Erva Cidreira e Ortelã Vulgar, estando já perto de chegar ao mercado Tomilho Limão e Ortelã Pimenta. Todas estas têm como finalidade as infusões, cujos benefícios estão mencionados nas referidas embalagens.
Além destas, irá ainda chegar ao mercado o tomilho vulgar que deverá ser associado ao sal para fins condimentares.
Uma casa frequentada por reis
A Quinta da Foz remonta ao ano de 1568, quando António Vaz Bernardes, cavaleiro da casa real, a adquiriu. Treze anos depois El Rei D. Filipe I instituiu o morgadio na propriedade, que era a única do lugar que se tornou na Foz do Arelho. Era então conhecida como Quinta de Nossa Senhora de Guadalupe, que ainda hoje tem uma imagem da santa no altar da capela ali existente e onde a família faz o seu culto.
Antes disso, em 1569, a casa recebeu o seu primeiro visitante ilustre. O rei D. Sebastião ali ficou alojado para fugir a um surto de Peste Negra que se espalhou por Lisboa. João d’Eça era um dos cavaleiros próximos de D. Sebastião e marido de Catarina Bernardes, filha do proprietário da Quinta da Foz. João D’Eça acompanhou, oito anos depois, D. Sebastião a Alcácer Quibir, de onde nunca regressaram.
Esta foi apenas a primeira estadia real na Quinta da Foz. Mas também o rei D. João V ali pernoitou algumas vezes quando vinha às Caldas da Rainha para procurar nas águas termais alívio para as suas maleitas. Este foi também destino preferencial do rei D. Carlos I, que gostava de pescar tainhas a tiro na lagoa. D. Carlos I alternava a estadia entre a Quinta da Foz e a casa de Grandela, mas usava sempre a mesma cama, que tinha que ser transportada de uma casa para a outra, conta Francisco Paiva Calado. A “cama do rei”, como ficou conhecida, ainda está na posse da família.
A família está também ligada a uma das histórias de amor mais célebres e trágicas de Portugal. António Vaz Bernardes era avô de trisnetos de Pedro e Inês de Castro.
Estas são apenas alguns exemplos da riqueza histórica que os visitantes da Quinta da Foz podem conhecer no contacto com a família Paiva Calado.