Agrupamento de Escolas Raul Proença é o único, na região Oeste, concentrando meios humanos e materiais que possam oferecer uma resposta educativa de qualidade a estes alunos
Uma jovem de 13 anos, de origem venezuelana e que residiu os últimos três anos na Colômbia, está este ano matriculada no Agrupamento de Escolas Raul Proença (AERP). Só fala espanhol, apresenta problemas motores associados à sua situação de cegueira e nunca frequentou a escola.
De acordo com a mãe, na Venezuela não havia apoio e na Colômbia a educação especial é privada, dispendiosa e, em instituição oficial, não conseguiam dar resposta às necessidades da aluna. Um caso muito particular que constitui um desafio para o AERP, que é Escola de Referência para a Educação de Alunos Cegos e com Baixa Visão. Rosa Brochado, docente de Educação Especial e a responsável no agrupamento pela educação de alunos cegos e com baixa visão, destaca o “grande trabalho de equipa, multidisciplinar e em rede para, em interação”, fazerem todo o possível para que “esta aluna venha a ter sucesso”. O processo logístico está em fase de finalização e a aluna irá usufruir de terapias no âmbito do Centro de Recursos para a Inclusão, numa parceria com o Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor, a Intervenção da Educação Especial, para aprendizagem da Leitura e da Escrita e Orientação e Mobilidade. Irá frequentar algumas disciplinas na sua turma de referência, terá o suporte do Centro de Recursos TIC para a Inclusão, o acompanhamento de uma assistente operacional, o acesso a transporte e alimentação e o apoio dos seus pares/colegas da turma e professores, explica.
Atualmente encontram-se já integrados neste agrupamento um aluno cego, no 12.º ano, uma aluna com baixa Visão, no 9.° ano, e outra ainda, no 3.° ano.
Inicialmente o AERP era apenas de referência para alunos cegos e com baixa visão no ensino secundário, estando os restantes níveis de ensino abrangidos pelo Agrupamento de escolas D. João II. Em 2013, este deixou de se constituir como de referência, e o agrupamento Raul Proença passou a integrar todos os níveis de ensino. Atualmente tem afeta, ao quadro de escola, uma docente de Educação Especial do grupo 930, específico para alunos Cegos e com Baixa Visão, concentrando desta forma, recursos humanos e alguns materiais específicos. De acordo com Rosa Brochado, um aluno cego, que não tenha outros problemas associados, “integra a turma normal e pode fazer um percurso absolutamente idêntico aos dos seus pares”. Apenas aprende por um método diferente de leitura e escrita que é o Braille, desenha em relevo, com um material específico, tem uma calculadora falante com fones, utiliza a bengala para se deslocar nos espaços escolares e extra escolares, frequenta o refeitório como qualquer outro aluno, com autonomia, pode prosseguir estudos e fazer uma escolaridade absolutamente similar. “Há disciplinas como a Música, em que a Musicografia Braille O torna possível escrever e ler uma pauta, existe uma App que permite ao aluno criar uma composição em Braille, ouvi-la tocar e alterá-la, na Físico-Química e Matemática há códigos específicos e a possibilidade das mesmas aprendizagens curriculares”, exemplifica. De acordo com a docente, as tecnologias são hoje “muito acessíveis, basicamente tudo que aprendemos na escrita a negro (a escrita de quem vê) é aprendível e exequível, com recurso ao Braille e áudio”.
Este agrupamento organiza, todos os anos letivos, momentos de aprendizagem deste método, numa perspetiva de cultura geral e aprendizagem inclusiva, aberto a pais, encarregados de educação ou outros familiares, assistentes operacionais e docentes. Há ainda turmas que, em cada ano letivo, demonstram interesse e participam nestas sessões e, no seu Dia Aberto, que tem lugar na EB de Santo Onofre, houve, este ano, uma adesão de cerca de meia centena de pessoas, também nesta “oficina” do saber. ■