Projeto do Plano Nacional das Artes na Bordalo Pinheiro está entre os cinco melhores do país e a coordenadora local passou a dirigir o Médio Tejo
O Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro (AE) ficou classificado entre os cinco melhores do país, num total de 546 projetos escolares. A distinção foi na categoria de Indisciplinar a Escola.
O AE caldense esteve entre os vencedores dos Prémios de Reconhecimento PNA 2024, numa cerimónia que teve lugar recentemente, no CCB.
As distinções reconhecem iniciativas, instituições e pessoas que, através da arte e da educação, têm promovido a democracia cultural.
O PNA implementou-se nas escolas caldense no ano letivo de 2019-2020, nos três agrupamentos escolares. Na Bordalo Pinheiro, esteve sob a coordenação de Cecília Correia nos últimos dois anos, onde foram desenvolvidos vários projetos com a artista residente, Amábile Bezinelli.
”Abraçámos o PNA, delineámos atividades que vão ao encontro do interesse dos alunos e que indisciplinam a própria escola”, disse Cecília Correia que era a coordenadora do PNA nas Caldas e que agora passou a ser a coordenadora Intermunicipal Médio Tejo.
Para a docente, hoje o modelo clássico de sala de aula está “a cair por terra” e é preciso perceber que os estudantes aprendem de outra forma. Quando eles percebem que fazem parte do próprio processo, aprendem melhor e estão mais empenhado no processo de aprendizagem”.

Um dos muitos projetos é a constituição da Sala de Processos, um lugar onde os alunos estão à vontade e desenvolvem projetos multidiscplinares. É um lugar de liberdade, onde podem estar deitados, sentados, a comer e sabem que têm que deixar o espaço tal como o encontram.
“Este é o meu terceiro ano de residência artística nesta escola e continuo a lutar pela Sala de Processos”, disse a atriz e professora de Teatro, Amábile Bezinelli. Entre as muitas propostas, além de um Clube de Teatro, os estudantes debatem sobre temas fraturantes – como a homossexualidade e a violência doméstica – e são os próprios alunos que os preparam e levam a debate às restantes turmas. Vêm fora da escola, junto da comunidade e questionam sobre as mais variadas temáticas “indo e trazendo a comunidade para dentro da escola”, disseram as docentes. Ambas vêem a escola como um polo cultural onde procuram que os estudantes dos vários graus de ensino possam conhecer um pouco melhor a realidade que os cerca e saber o que é que a sua localidade tem de melhor.
Satisfeitas com a distinção do PNA, as professoras disseram que este acaba “por reconhecer a importância do ensino através das artes”. E sublinham: “São os alunos que escolhem os temas que querem debater e depois também os trabalham através de práticas artísticas”. Recentemente, os alunos promoveram o debate sobre o colonialismo e sobre a interculturalidade, algo premente dado que a própria escola possui atualmente alunos de 35 nacionalidades.
Enquanto coordenadora do PNA na Bordalo Pinheiro, Cecília Correia diz que foi desafiante, foi feito um trabalho de equipa e que tentaram chegar aos vários graus de ensino de todo o AE. “Não conseguimos chegar a todos da mesma forma”, contou a docente que sublinhou que o trabalho feito ao longo dos últimos dois anos resultou na constituição de uma importante rede de parcerias, internas e externas, que foi fundamental para o sucesso da implementação do PNA. A coordenadora salientou que entre os parceiros, a autarquia local “tem um papel importante já que apoia projetos criativos nas suas escolas”. A Sala de Processos, que além de ser um espaço físico, é também uma metodologia que coloca o aluno no centro da aprendizagem. “O PNA gostou destas práticas e por isso “há a ideia de propor que todas as escolas possam criar um espaço de liberdade onde é dada voz ao aluno e a que chamaram Laboratório de Aprendizagem”. Desta forma, uma ideia que nasceu na Secundária caldense vai ser aplicada por todo o país.

Cecília Correia é agora a Coordenadora Intermunicipal Médio Tejo. A seu cargo tem 20 agrupamentos desde o Sardoal até Vila Nova da Barquinha. Agora visita em média quatro escolas por semana onde se implementa o PNA. A docente de Geometria Descritiva e de Artes Visuais, que é da Benedita e que vive nas Caldas desde 2016, está contente com novo cargo mas diz que vai ter saudades da sala de aula. ■