E se metade dos seus colaboradores estivessem infelizes?
Já aqui falei de métricas que servem para analisar o nível de bem-estar e felicidade nas organizações. Hoje procurarei ir um pouco mais longe e identificar componentes principais dessa avaliação. Imagine que era feita uma análise desta natureza junto da sua equipa ou até junto de todas as pessoas da organização. O que acha que os resultados lhe iriam dizer? Será que ficaria surpreendido(a)?
Este tema começou a preocupar várias empresas nos Estados Unidos, ainda na década de 90. Um dos pioneiros na intervenção junto de empresas foi a Fundação Hewlett, com a criação de um programa ambicioso que tinha como objetivo acabar com o ambiente de trabalho disfuncional, conflituoso e desconfiado (zona vermelha) e transformá-lo num ambiente de trabalho eficiente, cooperativo e confiante (zona verde).
O que significa a zona vermelha?
Na zona vermelha estão organizações que se caracterizam por um baixo nível de confiança e um alto nível de culpa e medos. Os colaboradores estão por conta da organização, são cínicos e suspeitos. De acordo com estudos realizados, o principal motivo de insatisfação dos colaboradores está relacionado com a “gestão não ser aberta ou honesta”. Consequentemente, os colaboradores que “vivem” numa organização em zona vermelha não correm riscos e passam a maior parte do tempo a proteger-se em vez de resolverem problemas.
O que significa a zona verde?
As organizações na zona verde são caracterizadas por um ambiente onde existe alto nível de confiança e baixo nível de culpa. Neste ambiente, os colaboradores não têm medo de ser criativos e assumir riscos. Em caso de falha ou de algo correr mal, procura-se retirar aprendizagens, em vez de se procurar um culpado. Neste tipo de organizações, as pessoas ajudam-se, são honestas e abertas. O trabalho é agradável e os colaboradores têm um forte sentido de contribuição. De acordo com um estudo realizado a 200 empresas de 22 tipos de indústrias diferentes, durante um período de onze anos, verificou-se que os lucros líquidos das empresas da zona verde cresceram mais 800% do que as empresas da zona vermelha (Corporate Culture and Performance, J. Kotter e J. Heskett)
Cinco competências para desenvolver a Zona Verde
Estas são as cinco ferramentas que podem ser desenvolvidas:
Intenção de cooperar e o Princípio da Cidadania: um colaborador caracteriza-se por ser calmo, relaxado, não ser defensivo e por assumir um compromisso consciente consigo próprio para fazer de tudo e ir ao encontro de benefícios mútuos nos relacionamentos com os outros.
Falar verdade: ser sensível, saber ouvir a verdade e ser capaz de criar um clima de relação sem perigo para abordar as dificuldades. Por oposição, em zona vermelha, a tendência habitual que se tem de “matar o mensageiro da má notícia”.
Sentido de responsabilidade: compreender as escolhas de atuar ou não, e assumir igualmente a responsabilidade das consequências intencionais desta escolha.
Autoconsciência: Auto compreensão profunda e vontade de enfrentar problemas pessoais difíceis.
Negociação: negociar habilmente em situações de conflito inevitáveis, quando se ambiciona relacionamentos a longo prazo.
Mara Castro Correia
Especialista em Psicologia do Trabalho e das Organizações
maracastrocorreia@gmail.com