As conversas são normalmente entendidas como a forma que nós temos de comunicar. Sendo esta premissa verdadeira, não é apenas através de conversas que comunicamos. No entanto, pela sua importância, o tema que destaco esta semana é exatamente: as conversas.
Em particular, as conversas: para quê?
O uso da expressão “conversa” é e pode ser aplicado nos mais variados contextos e com os mais variados fins ou significados. Sabemos hoje que, por exemplo, na área da gestão, têm vindo a ser cada vez mais destacados os temas de formação em relacionamento interpessoal e comunicação. Tomar uma iniciativa ou gerir uma conversa pode ter vários propósitos e, desta forma, entendemos que deverá ser dado o uso da “palavra” da melhor forma possível, tendo em conta o que se quer alcançar.
No seu recente texto publicado sob a chancela da Cegoc, Paulo Martins discrimina as conversações (a sua relevância e utilidade) num registo simples (não simplista), sublinhando a existência de 4 tipos de conversas úteis – como o próprio refere: “as únicas que vale mesmo a pena ter”.
São eles:
Conversas para partilha de perspetivas pessoais sobre o mundo.
Da célebre frase descrita no Talmude, “não vemos as coisas como elas são, vemos as coisas como somos”. O “nosso mundo” ou o mundo em que “vivemos” é a mais pura das ilusões. Pelo simples motivo de que não acedemos à realidade (ainda que observando os factos), mas antes à interpretação que fazemos (consciente ou inconsciente) dessa realidade. Acedemos à nossa perspetiva e é conversando que conseguimos perceber a perspetiva dos outros e partilhar com eles a nossa e é através deste processo que ficamos mais ricos, ao mesmo tempo que criamos a possibilidade para que o outro faço o mesmo. Como refere Paulo Martins, “numa conversa entre duas pessoas, é sempre mais sábia a que mais aprende”.
Conversas para coordenação de ações.
Conversa-se, com o objetivo de definir o que cada um fará após a conversa. É através destas conversas que os humanos potenciam a sua capacidade para gerar mudança atuando sobre o “ambiente” onde estão inseridos.
Conversas para criar novas possibilidades de ação.
Eventualmente, durante uma conversa, apercebemo-nos que não é possível atuar de modo consequente para se atingir determinado propósito, será então altura de avançar para uma conversa que irá criar as condições necessárias para uma posterior tomada de decisão.
Conversas para criar novas possibilidades de conversação.
Estas são conversas de construção de um novo ambiente (emocional, por exemplo) entre os seus intervenientes. Às vezes (tantas), as pessoas “experienciam”, entre si, emoções que tornam quase impossível qualquer partilha de perspetiva, coordenação de ações ou mesmo de procura de novas condições onde seja possível tomar uma decisão. Esta é a altura então de conversarem sobre a dinâmica da sua relação e do modo como precisam sentir-se para poderem conversar de modo útil.
Mara Castro Correia
Especialista em Psicologia do Trabalho e das Organizações
maracastrocorreia@gmail.com