A imprensa regional só terá futuro se for jornalismo e de proximidade

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Alexandre Manuel
jornalista e professor universitário

Pese embora alguma justeza na afirmação dos que consideram que, em redor da imprensa regional, a “grandiloquência” do discurso contrasta grandemente com as fragilidades da realidade, o facto é que esses jornais continuam a constituir importante espaço do exercício regular de leitura, por parte de uma alargada fatia de público, maioritariamente constituído por emigrantes, migrantes e habitantes do interior do País.
São, na prática, limitações (nem sempre circunstanciais) de ordem empresarial, financeira, técnica e humana, às quais se deverá acrescentar ainda a importante questão do “texto e da forma”, já que, segundo um estudo do Observatório da Comunicação, parte significativa dos conteúdos de alguns desses media ignoram com razoável frequência o “recurso a critérios e técnicas jornalísticas”. Apesar dos avanços, aqui e além registados, em relação à revalorização do seu papel alternativo, bastantes desses jornais continuam a manter, no dizer curioso (mas impressivo) de João Carlos Correia, alguns dos traços “típicos do jornalismo pré-industrial” e que jamais poderão ser ignorados ou até mesmo olhados como ocasionais anacronismos.
Em causa, no caso, questões importantes que, maioritariamente consequência de congénitas debilidades de gestão estratégica, financeira e de recursos registadas em várias das empresas proprietárias dos títulos, conduzem, com frequência, a uma limitada taxa de profissionalização das redações ou à quase inexistência de trabalhadores nas áreas comercial e de marketing. Além de que, como é sabido, os comprometimentos financeiros tendem a desembocar em engajamentos éticos…
Em causa, igualmente, uma “forte relação” com as elites locais; a tendência para estruturar o discurso em redor de “assuntos recorrentes”, a partir dos quais se veiculam opiniões, debates e polémicas ou o conhecimento “recíproco e partilhado”, por parte de produtores e recetores, em relação aos factos que servem de referente às mensagens jornalísticas. Com a agravante de, no caso, não se poder ignorar a ênfase dada a uma opinião frequentemente monocórdica, demasiado “apetecida” pela dimensão “caseira” da política partidária e frequentemente atraída pela apologética ou pelo panfletismo, sobretudo quando em causa estão questões de rivalidade local.
Apesar de estas (e outras) debilidades e da crise que envolve todo o setor, o facto é que estes media continuam a conter em si importantes potencialidades dificilmente substituíveis.
Para tal, no entanto, os seus responsáveis terão de assumir o princípio, segundo o qual, a imprensa regional/local se constrói no compromisso com as pessoas (e não propriamente com os sistemas políticos que as servem); na promoção da identidade e da organização social e no apoio aos valores e anseios da comunidade onde se insere, procurando, designadamente, que um problema local se transforme em nacional e um secundário passe a prioritário. Terão igualmente de entender que, pela proximidade existente entre o agente da decisão política, o espaço mediático e o quotidiano do cidadão a quem se dirige; num mundo globalizado onde todos parecem apostados em olhar os mesmos temas (alguns dos quais nada dizendo à generalidade das pessoas), a imprensa regional/local é, na prática, o meio de comunicação que se encontra em melhor situação para anular eventuais malefícios da massificação, fazendo uma leitura local dos acontecimentos e acrescentando ao debate o contributo dos autores e atores de cada comunidade em concreto.
Terão finalmente – afirmou-o alguém algures – de evitar cair na tentação de preferir a “tirania da procura» à “grandeza da oferta», de “dar a volta à internet” em vez de dar a volta à terra que também é a sua e de que a ve-locidade das redes sociais possa alguma vez devorar a liberdade de informação. E tudo para além do facto de ser impressa em papel ou de ter opta-do pelo suporte electrónico, sempre mais presente e cada vez mais dominador, independentemente do desejo de cada um e da eventual nostalgia de uns tantos.
Ou seja, independentemente da dimensão do seu suporte, o jornalismo regional tem boas condições para sobreviver. Terá, no entanto, de assumir por inteiro o princípio de que cada um dos suportes tem a sua linguagem própria e de que – questão central – terá de ser sempre jornalismo e… “de proximidade”. ■

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