David Leandro Ribeiro – Um antigo estudante de Coimbra… residente nas Caldas da Rainha e que foi líder do CDS local – I

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Luís do Nascimento Ferreira

David Leandro Ribeiro, residente em Caldas da Rainha, notário no Bombarral e advogado em Caldas, falecido em dezembro último, formou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, logo aí se tendo distinguido como exímio guitarrista do fado de Coimbra. Nessa condição, enquanto estudante, e posteriormente, acompanhou à guitarra os mais destacados cantores de Coimbra, entre eles, Zeca Afonso, Luís Goes, Adriano Correia de Oliveira, Camacho Vieira, Fernando Rolim, Machado Soares…
No Orfeon Académico e na Tuna Académica, e também posteriormente à saída de Coimbra, integrando diversos grupos de fados, levou a todo o mundo a sempre romântica cidade dos estudantes, em digressões que conheceram a glória dos grandes instantes da vida.
Como antigo estudante de Coimbra, que fui, e também singelo cantor do seu fado, com o privilégio de ter convivido com os grandes vultos da canção coimbrã, promovi, em Maio de 1993, a deslocação a A dos Francos, com atuação na respetiva colectividade recreativa, de 11 antigos cantores de Coimbra e três grupos de fados. Nessa noite, matizada de artística beleza e sentimento, David Leandro atuou a solo, com variações à guitarra, acompanhado à viola pelo Coronel Monroy (antigo Presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, que subiu à presidência por falecimento do Engº Paiva e Sousa). Na presença de Luís Gois, o David recordou o conselho que dele recebera quando, caloiro, chegou a Coimbra e logo deu nas vistas como guitarrista. Gois disse-lhe: “rapaz, estás aqui mais para acabar o curso do que para tocar guitarra…”.
David Leandro não desaprendeu o conselho, porém nunca tendo abandonado a guitarra, foi jurista e profissional de cimeiro mérito, tendo-se guindado ao topo do Notariado.
À guitarra foi marcadamente influenciado por Artur Paredes (pai de Carlos Paredes), cujas variações o David punha nos dedos e nas cordas da guitarra com harmoniosa musicalidade, deixando na sensibilidade de quem o escutava a beleza e a elevação das grandes melodias. Artur Paredes, nos recuados anos de 1920, operou uma grande transformação no dedilhar da guitarra de Coimbra, quebrando com o acompanhamento musical que vinha sendo seguido ao tempo da “geração de ouro” dos grandes cantores dessa década, como António Menano, Paradela de Oliveira, Edmundo de Bettencourt. David captou o estilo de Paredes, mas diversificou também as suas interpretações por outros cultores da guitarra e do canto de Coimbra. Interpretava, com superior sentimento, a variação conhecida como o “ré menor de Almeida Santos”, composição à guitarra criada durante o tempo de estudante de Coimbra pelo antigo ministro e presidente da Assembleia da República. Almeida Santos, que se juntou algumas vezes a nós em saraus, era um apaixonado saudosista pela Coimbra do seu tempo de estudante de Direito, tendo integrado o Orfeon Académico e a Tuna Académica e sido melodioso cantor e guitarrista.
Ao referir-me a antigos Tunos (o David ficará feliz que estas evocações não sejam só dele…) vêm-me à memória e à saudade o Dr. Mário de Castro, distinto médico de Caldas da Rainha, também ele antigo estudante de Coimbra e elemento da Tuna Académica, onde tocava rabecão, bem como o Dr. Pargana, médico de A dos Francos, solista do Orfeon Académico de Coimbra e cantor de fados (quantas noites fizemos duetos – em pianinho- pelas ruas da aldeia, ele com a sua voz de baixo/barítono, eu pretensamente tenor!).
No seu tempo de Coimbra, o David Leandro tocou em inúmeras serenatas, cantos noturnos dedicados pelos estudantes às estudantes. Numa dessas deambulações, o cantor destacado e o guitarrista David, cantando e tocando à janela de um lar de raparigas, foram escutados por Maria Manuela Pires Cabral de Andrade (a Nélinha, ou Nélita). Tal foi a maviosidade da música… que de imediato gerou namoro entre ela e o David e, anos depois, o seu casamento (durante cerca de trinta anos, desde 1979, a Nélinha foi professora de Português e História na Escola D. João II, em Caldas da Rainha).
É altura de começar a aproximar-me do final desta saudosa evocação de um querido e insubstituível Amigo e companheiro artístico, evocação onde tanto havia que dizer da Coimbra do nosso tempo (o David chegou a Coimbra alguns anos antes de mim). Para tal, resta referir apenas algumas das imensas digressões, mundo fora, por ele feitas, bem como recordar alguns grupos de fados que integrou.
Em 1959, David Leandro, José Afonso, Fernando Rolim e outros, a convite da presidência da República francesa, atuaram em Paris, no Grande Teatro dos Champs Elysées. Nesse sarau, tiveram ocasião para conhecer e privar com Edith Piaff e o Trio Los Panchos e o corpo de bailarinos do Pigalle e Moulin Rouge, que igualmente participaram nesse espectáculo (ao qual assistiu Madame de Gaulle, mulher do então Presidente da República Charles de Gaulle). Estas celebridades disseram do seu encanto com a musicalidade do canto e das guitarradas de Coimbra. Depois da digressão por França, foram para Geneve (Suíça), onde atuaram na Rádio Televisão Europeia e gravado uma serenata para uma rádio italiana. ■

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